Ludmilla Silva 23/01/2023"The Force is owned by no one."Essa segunda fase de The High Republic começou muito bem com Path of Deceit. Diferentemente dos outros livros lançados na fase um, a fase dois, se passa centenas de anos antes da existência dos Nihils e será responsável por explicar muitos dos acontecimentos deixados em abertos na primeira fase, a exemplo das criaturas conhecidas como Levelers. Diferente da primeira fase que liberou primeiro o livro adulto, essa lançou o livro Young Adult, e apesar de ter lido somente esse até agora eu penso que foi uma ótima introdução, pois há personagens cativantes e um ótimo enredo.
Se eu pudesse resumir esse livro, eu diria que ele é um ótimo manual para te ensinar o porquê você não deve se juntar a uma seita. Path of Deceit tem dois núcleos principais: o núcleo de Kevmo e Zallah, dois Jedi da República que estão em uma missão para descobrir quem vem roubando artefatos ligados a Força; e o núcleo de Marda e Yana Ro, intrinsecamente ligado ao grupo conhecido como Path of the Open Hand. O Path é um grupo (que eu chamo carinhosamente de 'seita') que possuí uma relação muito peculiar com a Força, eles acreditam que a Força deve ser livre, ou seja, ela não pode ser em hipótese alguma ser utilizada e manipulada em benefício próprio.
A história começa a ficar mais interessante quando esses dois núcleos, do Jedi e das Ro, se entrelaçam e é possível ver o contraste existente entre essas duas visões de utilização da Força. Tal dilema vem principalmente de Kevmo Zink e Marda Ro, que começam a ter sentimentos e uma conexão, um com outro. Marda é uma personagem que considero bastante inocente, ela foi criada ali no contexto daquele grupo e por isso acredita fielmente em tudo que acontece ali. Ela não questiona os ensinamentos que foi ensinada em toda a sua vida e também não pensa que existe uma vida para além daquela pequena comunidade existente em Dalna. Em certo modo, essa ingenuidade dela é tão admirável: ela faz de tudo para proteger aqueles que ama, mas, em simultâneo, isso faz com que ela feche os olhos para o óbvio em sua frente.
Kevmo também é bastante ingênuo para algumas coisas, porém ele é mente aberta para aprender sobre o outro e seu modo de vida. Ele sabe o que são os Jedi, e principalmente os ensinamentos dos mesmos sobre a Força, e mesmo sabendo e acreditando em tudo isso ele se mostra a aberto a ouvir Marda e entender a relação que ela e o Path possuem com a Força. Eu gostei muito da conexão dos dois, e para mim as discussões que eles tiveram foram uma das melhores partes do livro. Apesar de entender ao longo do livro que essa vida de Força e de "presentes dados livremente" pelo Path é uma visão distorcida, ainda foi interessante ver o posicionamento de cada e refletir sobre como seria um universo de Star Wars onde a Força não fosse utilizada da maneira que é hoje.
Yana Ro, a prima de Marda, foi a minha personagem favorita. Diferente de Marda que acredita cegamente no Path e vê o grupo como a sua única oportunidade de vida e de crescimento, Yana só está lá, pois as circunstâncias a levaram aquele lugar, ela é grata pelo tempo vivido e pelos ensinamentos, mas sabe que há muita coisa errada lá dentro e que tem uma vida para além daquelas pessoas. Marda é a convicta da seita, Yana é aquela que está tentando sair. E ela foi a personagem que mais me trouxe emoções, justamente por ser imprevisível e eu não saber o que esperar dela. Confesso que ela me decepcionou um pouco no final, pois esperava mais ação da parte dela, mas acredito fortemente que ela terá um papel importante em como a narrativa se desdobrará no futuro. Vale lembrar também que as Ro's são descendentes de Marchion Ro, o temível líder dos Nihils, então também estou curiosa para os desdobramentos dessa questão, espero que elas não vão para o Lado Negro nem nada do tipo.
A Vila da história é a Mãe, também conhecida como a líder do Path of the Open Hand. E honestamente eu odeio demais a Mãe, não porque ela é uma péssima personagem e sim porque ela foi tão bem escrita que é impossível não sentir ódio dela. Eu confesso querer demais ela morrendo, eu precisava que Yana e Marda a matassem, e fiquei super decepcionada quando isso não aconteceu, mas também entendo que a personagem é muito importante para ser morta agora no primeiro livro dessa nova fase, mas creio que a justiça pelas barbaridades que ela fez virá sim.
Enfim, para mim a melhor coisa sobre essa personagem foi a incerteza, pois eu só tive a certeza que ela era a vilã da história quase no fim do livro: ela é construída de modo a nos fazer questionar sua índole, característica realística e condizente para a personagem que representa a LÍDER DE UMA SEITA. Minha primeira impressão dela, logo no começo, foi que ela era direta e bastante passiva-agressiva, mas eu não tinha certeza de que ela era de fato má, pois pensava que só era algo relacionado a crença e ideais daquele grupo. Todavia, no final não tive dúvida, ela é verdadeiramente má, sacrificou seus próprios membros em benefício próprio e matou (e ainda pretende matar mais) os Jedi através dos Levelers. Ela é uma personagem promissora, que me dá medo justamente por ser má, mas por ser contida e introvertida a ponto de nos fazer questionar o seu caráter.
O final me deixou arrasada demais, confesso que ainda não me acostumei com essa coragem que The High Republic tem de simplesmente matar os personagens principais, isso me destrói. Eu só não dei cinco estrelas, pois eu senti falta de sangue no final, mais especificamente sangue da Mãe. A Yana tinha acabado de perder a Kor (que por sinal fiquei arrasada também quando morreu, deixem os LGBT em paz aaaa), e a Marda tinha acabado de perder o Kevmo, elas tinham absolutamente TODOS os motivos para matar a Mãe e simplesmente desistiram no final. Imagino que foi por medo do Leveler e também por ser o primeiro livro, mas tirando isso eu amei demais a história.
Acho que foi uma boa introdução a essa segunda fase, justamente por nos apresentar essa visão dúbia da Força. Sei que os outros livros vão focar mais em questões de guerra, políticas e sociais, logo, esse livro mais tranquilo e reflexivo foi um ótimo ponto de entrada. Não recomendo esse como o primeiro livro para ler no universo de The High Republic, mas recomendo para aqueles que estão acompanhando a iniciativa e já leram pelo menos os livros principais da fase um.