Ynglid 26/05/2020
Amei e odiei.
Esse livro não é para qualquer um, resenhá-lo então é um trabalho difícil. Amava os personagens numa página e odiava na outra.
Para começar a autora é extremamente minuciosa e o livro se arrasta até mais ou menos o capítulo 12, se você conseguir passar desse período não vai mais querer parar de ler. A intenção é mostrar as divergências entre norte e sul, conflito que serve de pano de fundo para o romance, mas ela começa pela parte mais “enfadonha” que é o sul, aquela a qual estamos acostumada a ver como retratação da Inglaterra em romances de época, as damas e os cavaleiros todos nobres e ociosos, ricos apesar de nunca trabalharem na vida. Quando a protagonista Margareth Hale se muda para o norte e se depara com outra realidade a coisa esquenta, surgem as comparações e divergências de ideias entre uma região e outra sob a forma do encontro com o Industrial John Thornton, o amigo do pai e o livro fica infinitamente mais interessante.
A Margareth é uma personagem difícil de engolir, criada pela tia em berço londrino, tão preconceituosa e fria que eu sinceramente não queria que ele se aproximasse dela. Este livro caía bem o título de orgulho e preconceito, até mais que o próprio livro de Jane Austen. John também é orgulhoso até certo ponto, mas capaz de ser um homem flexível por trás do industrial rígido, o que reduziu o impacto da imagem dele que me deixaria em desafeto (e acabou por evidenciar minha raiva de Margareth). Tudo gera embates entre eles, mas enquanto ela o humilha e despreza, ele guarda um amor secreto no coração por ela, tão secreto que fico imensamente surpresa quando ele declara com tanto fervor e tristeza no momento em que ela se machucou por ele. E sofro quando ele é friamente rejeitado e ainda acusado de tê-la ofendido com sua declaração de amor.
Enquanto Margareth o tem como bruto, a autora demonstra que ele é até bem sensível, inteligente, determinado e acima de tudo um homem à frente do seu tempo.
O que eu gostei foi que ele não alterou seu ponto de vista por ela como muita gente apaixonada faz. Se fez ser ouvido, e também escutou a ela. No entanto não senti nenhum interesse nela em escutar o ponto dele, ela estava certa e pronto e acabou. O preconceito inicial dela contra os comerciantes e industriais me irritou profundamente. Até que a autora a força a ver Milton (a cidade) com outros olhos através do tempo e de situações do cotidiano. Quando ela é tragada para o centro do conflito entre patrões e empregados. Quando a autora magnificamente a expõe à situação de pobreza e necessidade. Seu sofrimento pessoal também a amadurece bastante, mas antes disso há uma longa jornada carregada de passagens emocionantes.
O romance em si é muito sutil, de acordo com a época. Fiquei desesperada por um passagem mais explicita, um beijo... Mas o destaque do livro é sem dúvida o conflito industrial. Li cada página fascinada pelas descrições de ideais dos empregados e patrões, pela complexidade do relacionamento entre eles que progride negativamente e vai até as últimas instancias por mais que ambos os lados percam, devido a diversos fatores. É tudo perfeito, e envolvente de forma que quem não gostar do romance ainda fica absorto no livro. Fiquei com ódio quando me deparei com personagens de vidro, principalmente as femininas. Todas. Se cansam sem fazer nada, tem a saúde frágil, reclamam de tudo e qualquer "a" já é levado como ofensa pessoal. Chegou ao cumulo de uma afirmar q não gosta da outra sem sequer ter visto uma única vez. E eu sei, eu sei, coisa de época e tal, mas a autora exagerou a tal ponto que fez-se impossível o transcorrer de uma simples conversa que seja. No fim isso foi totalmente aplacado pelo conflito industrial (graças a deus) que tragou minha atenção e pelo tempo que amadureceu os personagens com as dificuldades da vida. Nada acontece de um dia para o outro aqui, as coisas são desenvolvidas e entrelaçadas pelo destino com lentidão, a gente percebe a passagem de tempo, nada é como mágica. Isso só aumentou a expectativa para o final, que na minha opinião apesar de perfeito por um lado, foi extremamente abrupto.
Eu entendo que se trata de um livro escrito faz tempo, mas fiquei desesperada por um beijo ou uma demonstração mais intima de afeto, algo mais explícito (não confundam explicito com vulgar)... Eu só acrescentaria isso, mais umas 20 páginas no final, eu precisava de mais.