Stella F.. 05/09/2022
Ambição
Irmão Jacob – George Eliot – Literatura Descoberta (e Pinard) - 2022
Gostei de conhecer essa autora, Mary Ann Evans que escrevia sob pseudônimo masculino.
Muito interessante o relato sobre um irmão ambicioso, David Faux, e seu irmão mais novo, Jacob, chamado de ingênuo, escrito em 1860.
David trama roubar os guinéus da sua mãe, mas tem muita dificuldade em fazê-lo da maneira que programou. Em parte, porque seu irmão Jacob vê os seus movimentos suspeitos e fica sempre ao seu lado, o atrapalhando. Ele tenta enganá-lo com balas em troca de cada guinéu que Jacob devolver a ele depois de encontrar a caixa enterrada em um buraco. As balas, que seriam uma saída, acabam dificultando mais ainda a fuga de David. O ingênuo fica cada vez mais grudado no irmão, o seguindo por toda parte, e achando que o irmão o ama, e não que o odeia, como sabemos por todas as maquinações que pretende para se livrar dele e de toda a família, a qual não tem nenhum apreço.
David parte para as Índias e ao retornar da viagem que foi insatisfatória, onde nada do que pensava foi realizado, se instala em uma cidadezinha, Grimworth, onde abre um comércio, como confeiteiro. A princípio, nessa nova cidade, todos desconfiam dele. Para que precisam de uma pessoa fazendo o que todas as mulheres já fazem: bolos e comidas? Quem iria comprar? “O Natal estava chegando, mas que dona de casa em Grimworth não sentiria vergonha de encher sua mesa com artigos que não haviam sido feitos em casa?” (posição 302)
Até que um dia, uma delas ao fazer um prato que ficou muito ruim, resolve experimentar os pratos do confeiteiro. E para surpresa de todos, começam a gostar da novidade. Então, com isso, o confeiteiro entra para a sociedade, e fica noivo de uma menina de uma família respeitada na cidade, a senhorita Penelope Palfrey. Até que alguém de sua cidade natal o vê e o reconhece como aquele David que fugiu e sumiu no mundo. Essa pessoa conta na cidade que o ingrato está vivendo bem em outra cidade e, seu irmão mais velho e seu irmão Jacob, o bobo e ingênuo, vão procurá-lo e todo seu plano de se casar e continuar vivendo ali, cai por terra. Ele tenta enganar a todos, como tem feito ao viver com outro nome, Edward Freely, ao contar muitas mentiras sobre sua origem e falar de um tio fictício do qual herdará uma herança, e a cidade inteira se junta contra ele, alguns dizendo que já sabiam que ele não era boa coisa, outros ficando tristes e dizendo com preconceito mais uma vez que não deveriam confiar em recém-chegados. “Os comerciantes de Grimworth não eram, de forma alguma, unânimes quanto às vantagens desta perspectiva no aumento da população e dos negócios, sendo eles homens importantes que gostavam de fazer um comércio discreto, no qual tinham certeza quanto aos seus clientes e podiam calcular os ganhos com exatidão.” (posição 273)
A autora descreve algumas cenas com bastante ironia, com alguns detalhes entre parênteses, que são como uma conversa com o leitor, reforçando algum detalhe que possa ter escapado, como por exemplo, (Já dei a entender que ele teve algum contato com literaturas criativas e, sendo prático como era, ele, como você pode perceber, aplicou até mesmo essa forma de conhecimento aos propósitos práticos).” (posição 602)
Vemos nesse pequeno “conto” como uma pessoa é capaz de fazer qualquer coisa quando deseja muito algo, e só pensa em si mesma, no que almeja, mesmo que à custa dos outros, passando por cima de todos e até de sua família, da qual tem vergonha de ter feito parte, de ter nascido.
Vale tudo quando a ambição é o componente principal de uma pessoa? Uma pergunta que fica como reflexão para todos.