Ismael.Chaves 17/10/2023
O folclore nacional através do horror de Márcio Benjamin
Há um motivo para que, antigamente, as mães cantassem para seus filhos sobre uma bruxa má que vinha pegar as crianças que não queriam dormir. Ou falassem de um homem velho que sequestrava crianças mal comportadas e as jogasse dentro de um grande saco. Longe da cidade grande, nos rincões da mata, nas plantações de famílias humildes ou em pequeno festivais do interior, um assovio pode ser sinal de mau agouro. Antes dos invasores coloniais chegarem, criaturas e deuses antigos já habitam essa terra e sua fúria causava a ruína do homem branco, arrastados para os confins da mata escura e misteriosa, como fartamente foi registrado por padres missionários e marinhos aventureiros.
Acredite ou não, mas o fato é que esses seres místicos permaneceram vivos no imaginário popular até hoje. Felizmente, já faz alguns anos que o folclore brasileiro deixou de ser sinônimo de personagens de histórias infantis. E isso graças ao trabalho de escritores como Márcio Benjamin, um dos maiores representantes do terror folclórico nacional.
Autor potiguar e dono de uma prosa característica, que passeia entre o poético e o regional, Márcio é um verdadeiro contador de histórias. Para quem já leu "Maldito Sertão", "Fome" e "Agouro", seu novo livro, "Sina", será o ápice da sua produção, reunindo todos os elementos que o consagraram em um novo e pulsante romance que adiciona novas camadas narrativas, flertando com a Fantasia e uma certa magia cinematográfica.
Entrelaçando 3 linhas temporais, "Sina" é um romance-moldura que tem como fio condutor a história de Zé Trancoso, um exímio contador de histórias. Ao chegar em uma misteriosa cidade do interior, ele se depara com um passado obscuro - dele e da cidade - cheio de segredos. A partir daqui, o leitor irá topar com lobisomens, mula-sem-cabeça, o corpo-seco, matinta pereira e vários outros monstros - além de uma misteriosa seita religiosa liderada por uma estranha "criança". Recomendo fortemente a leitura.
Vale destacar que a edição possui ilustrações magistrais de Shiko, vencedor dos prêmios HQMix e Angelo Agostini e considerado um dos maiores nomes do quadrinho brasileiro atual.