jiangslore 30/09/2023
[3/5]
Como qualquer outra pessoa que passou pelo impacto que o videoclipe da música que inspirou o livro causou, eu estava muito empolgada para ler "Girls Like Girls". Embora minhas expectativas não tenham sido completamente atendidas, por boa parte da leitura eu estava convencida de que a obra era um clássico caso de "entendo as qualidades e acho que há coisas boas no livro, mas também vejo alguns defeitos que não consegui ignorar". Penso que essa continua sendo a minha visão, no entanto, o final do livro fez com que o número de "defeitos" aumentasse mais do que eu esperava.
Ultimamente, um problema que tem me incomodado muito é o excesso de temáticas nos livros. Na minha opinião, é terrível quando há informações demais, personagens demais, "conflitos" (uso aspas porque percebi que muitos livros nos quais eu vejo esse problema também têm o problema de não criar bons conflitos) demais. Até a metade de "Girls Like Girls", eu estava bem feliz em perceber que o livro não parecia ser assim. Claro, houve uma expansão do universo e dos problemas enfrentados pela protagonista; e o leitor foi apresentado a personagens além de Coley, Sonya e Trenton. Mas parecia haver um bom equilíbrio entre uma expansão necessária para preencher um livro (muito mais extenso que um videoclipe) e entre uma expansão exagerada que tornasse quase impossível para uma escritora inexperiente desenvolver tudo de forma satisfatória em poucas centenas de páginas.
Mas aí chegou a metade do livro e isso mudou: outros personagens, ambientes e conflitos foram introduzidos. Entendo que isso foi uma forma de mostrar a ampliação do mundo de Coley e a abertura dela para novas experiências, mas acho que a consequência dessa escolha foi deixar as coisas com pouca conexão e pouco desenvolvimento. E acho que tudo ficou ainda mais desagradável para mim quando, apesar da expansão do universo de Coley, o final do livro meio que representou uma volta ao que tinha ocorrido anteriormente, na primeira metade do livro.
Em suma: somos levados a pensar que o livro vai ter uma determinada direção por causa do material que serviu como inspiração para ele, mas acontecem coisas que fazem parecer que o direcionamento será alterado; e então, no final, a direção é a mesma que a esperada inicialmente. O livro acabou ficando em um meio termo que não funcionou para mim.
Com relação à escrita, acredito que a palavra que resume minha opinião é "inconsistência". Há momentos em que a escrita é muito boa (a maioria ocorria enquanto Coley estava pensando em algo relacionado a seus sentimentos), e há momentos em que não gostei muito dela. Nestes últimos a escrita parecia mecânica e acelerada demais; com frases curtas que até faziam sentido no mesmo contexto, mas não eram conectadas de uma forma que fizesse a leitura fluir bem. Talvez tenha sido por eu já estar ficando desagradada com o enredo do livro nesse ponto, mas senti que essa parte "pior" da escrita ficou mais visível no final do livro.
Os personagens do livro são ok. Não são extremamente aprofundados, mas dá para entender bem o papel de cada um no enredo e o básico sobre suas personalidades. Coley foi uma protagonista interessante de acompanhar, principalmente no desenvolvimento das questões familiares que ela enfrentou e na descoberta de sua sexualidade. Sonya foi uma personagem um pouco chata, mas nada além do que eu esperaria para alguém no contexto em que ela estava (e acho que o contexto dela foi bem apresentado, apesar de pensar que ter capítulos normais no ponto de vista dela seria mais interessante do que as entradas no LiveJournal).
E o romance... Até certo ponto, gostei dele. Achei que as complicações foram bem apresentadas e a forma que as personagens principais lidaram com elas foi bastante realista (na maior parte do tempo). Mas também vi pontos negativos no romance, o que penso que pode ser resumido pelo "meio termo" desagradável que mencionei anteriormente; porque, para mim, esse aspecto também desandou bastante na segunda metade do livro.
Sob o ponto de vista da narradora, não posso dizer que a resolução do enredo não é realista; porque acho que muitas adolescentes fariam a mesma escolha final que Coley fez. Mas, ao mesmo tempo, não sei se a forma que a mensagem sobre "perdão" é demonstrada por essa escolha é algo que me agrada. Basicamente, não acho que o livro entrega o "final feliz" que parece ser seu objetivo entregar. As coisas são ainda mais complicadas quando penso no final pelo ponto de vista de Sonya - porque aí penso que até o "realismo" (que é uma das poucas "qualidades" que vi nesse final) deixa de existir.
Apesar das questões que apontei aqui, acho que o livro tem seu valor e que Hayley tem potencial para ser uma boa escritora. Com certeza recomendo a leitura para as pessoas que, como eu, têm uma conexão forte com a música e o videoclipe. Se a nostalgia sobre esse assunto é forte para você, provavelmente vai gostar de saber um pouco mais sobre as personagens e a visão que Hayley tinha para elas. No entanto, se não tiver esse sentimento, acho que é provável que não goste do livro.