Arrume confusão

Arrume confusão Kelly Link




Resenhas - Arrume confusão


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Higor 20/11/2023

"LENDO PULITZER": sobre a loucura que às vezes é compreensível (às vezes, veja vem)
Verdade seja dita: assim como no cinema, onde o terror é considerado um gênero menor, na literatura a fantasia é tratada com certo desprezo e inferioridade. É óbvio que existem livros de fantasia que furam a bolha e são alçados como cânones e indispensáveis à leitura, vide "O senhor dos anéis" e "Alice no país das maravilhas", mas ainda assim, encarar tais livros parecem fazer do leitor menor ou menos digno de nota.

“Arrume confusão” é esse tipo de livro de fantasia que conseguiu furar a bolha, pois além de figurar nas listas de prêmios do gênero de fantasia no ano de lançamento, também surpreendeu a todos ao ser finalista do "culto, fino e seletivo" Pulitzer de Ficção. Um livro de contos? De fantasia? No Pulitzer? Vamos conferir, se bem que o próprio prêmio é bem conhecido por contemplar livros fora do eixo comercial.

Antes de esmiuçar os contos, preciso admitir: este é um dos livros mais confusos, estranhos e diferentes que li em muitos anos. Para se ter uma noção, aqui o leitor vai se deparar com uma salada literária que envolve furacões, astronautas, gêmeos malvados, fantasmas, contrabandistas, tabuleiros Ouija, iguanas, O Mágico de Oz, super-heróis, dentistas, perfis fakes… mas acredite, tudo tem seu espaço e funcionam perfeitamente bem, e a escrita da autora, Kelly Link, é muito boa, muito convidativa para saber o que ela está aprontando e para onde quer levar o leitor!

Embora vencedor de um importante prêmio, "As pessoas de verão", o primeiro conto, não me atraiu logo de cara, talvez pelo estranhamento inicial com as referências e até mesmo a escrita de Link. Uma adolescente muito gripada tem de cuidar da casa dos vizinhos misteriosos, e tem um brinquedo muito estranho e que não fez o menor sentido para mim. Talvez faça nos Estados Unidos.

No segundo conto as coisas melhoraram potencialmente. "Dá pra ver na sua cara" fala de um ator de meia idade, famoso por protagonizar uma saga de filmes vampiresca, viaja até a Flórida para encontrar a ex-amante, que está gravando uma série-documentário de atividade paranormal. A estrutura do ótimo conto, justificada no mesmo, assemelha-se à montagem de filmes: "em qualquer ordem, em qualquer sequência. A continuidade independe do tempo linear". O melhor conto em minha opinião.

Já no angustiante "Identidade secreta", Billie vai a Nova York se encontrar com Paul, um homem com quem criou afinidade pela internet e por quem se apaixonou. O problema é que ele tem 34 anos e ela 16. A aflição permeia toda a história desde a primeira folha.

Depois de histórias convincentes, bem escritas e amarradas, apesar das múltiplas referências desconhecidas, o primeiro destaque realmente negativo vem com o confuso "Vale das Meninas", em que a falta de linearidade não ajudou, além das referências à cultura egípcia inseridas de qualquer maneira, atreladas a uma realidade paralela, distópica, que pouco agrega à coletânea.

Ainda fraco, mas voltando aos bons contos, "História de Origem" tinha tudo para ser o melhor da coletânea, se fosse menor e melhor lapidado. Nele, Biscuit e Bunnatine conversam sobre O "mágico de Oz" e o próprio relacionamento amoroso mal sucedido, onde, entre bebidas e mais álcool, vão revelando segredos sórdidos.

O mais “normal” de todos os contos, "A lição" narra a história de um casal gay que vai a um casamento em uma ilha paradisíaca, onde recebem a notícia de que a barriga de aluguel contratada entra em trabalho de parto prematuro. Simples, objetivo, agonizante e eficiente.

Igualmente agonizante, mas nada simples nem normal, "Namorado novo" volta à bizarrice que costumeiramente permeia os textos de Link, onde o relacionamento de uma adolescente com um boneco em edição limitada, Namorado Fantasma, começa a dar errado.

O aterrorizante "Duas casas" é um dos meus favoritos, onde seis astronautas acordam de um sono profundo para comemorar o aniversário de Gwenda. A idade dela não importa, assim como em que ano estão, mas que parece ser por volta de 2089. Eles decidem, então, contar histórias de fantasma.

Finalizando de maneira pouco honrosa, para ser franco, o longo "Luz" quer ter potencial, mas se perde em algum lugar dentro da ambientação de miniuniversos que cabem dentro do bolso, mas que não estraga a coletânea de maneira geral.

Americana, como o Pulitzer pede, mas ao mesmo tempo universal (inclui-se aqui até mesmo além-Terra), "Arrume confusão" foi uma das melhores leituras de um ano com poucos e fracos livros. Apesar de muitas referências ao mundo geek e nerd, o que pode ser considerado por muitos como excêntrico, sem nexo ou confuso, é importante dizer que o suprassumo da história está lá, acessível a todos: o ser humano e suas relações interpessoais, intrapessoais, e por que não dizer extrapessoais?

Este livro faz parte do projeto "Lendo Pulitzer".
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Aline327 01/09/2023

Achei o livro bem confuso em algumas partes. Não é um livro para qualquer tipo de leitor. Pelo geral eu não recomendo.
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Lapique 29/08/2023

É uma confusão mesmo
Acho que cumpriu o título do livro, porque olha... eu fui atrás de um best seller de um tipo de literatura diferenciada, mas eu achei tudo só confuso, que não entrega nada a quem o lê. Um dos mais frustantes que já li. Isso porque se trata de um best seller.
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