spoiler visualizarVitorcfab 26/05/2023
Thousand Autumns
Se você gosta de tramas políticas, discussões filosóficas acerca de "egoísmo vs altruísmo", personagens de moral cinza, fantasia inspirada na cultura chinesa, e um romance gay em slow burn, acredito que amará "Thousand Autumns".
No centro dessa narrativa, temos dois mestres cultivadores (praticantes de artes marciais e espirituais) de ramificações diferentes e que seguem filosofias de vida praticamente opostas. Shen Quiao presa pelo altruísmo e a bondade, enquanto Yan Wushi incentiva uma vivência egoísta e cruel.
O relacionamento entre esses personagens parece parecer bastante tóxico e nocivo a princípio, com Yan Wushi tentando forçar sua filosofia para Shen Quiao, principalmente agora que o rapaz está passando por um momento de fragilidade em sua vida.
Mas não se engane, Shen Quiao não é uma pessoa facilmente manipulavel, muito menos uma pessoa indefesa que precisa de ajuda. Na verdade, ambos os protagonistas se mostram pessoas fortes, inteligente e muito fiéis à suas respectivas filosofias.
E esse é um dos melhores aspectos dessa novel, principalmente quando vemos que esses protagonistas em lados que podem até ser opostos, mas igualmente extremistas, o que acaba abrindo margem para que um possa aprender com o outro, evoluindo juntos e trazendo reflexões filosóficas instigantes com esse processo.
Outro aspecto extremamente importante e bem desenhado ao longo desse primeiro volume, é a política. Acredito que essa seja a estrutura política mais séria, inteligente, realista e complexa que vi em uma novel chinesa até agora.
Veremos vários clãs diferentes, com histórias, estruturas sociais, filosofias de vida e articulações políticas muito distintas. Cada um desses clãs parece estar maquinando estratégias constantes para tomar a dianteira no jogo político, fazendo com que seja impossível confiar em qualquer pessoa nesse universo, o que eu simplesmente amo.
As cenas de ação foram as mais bem escritas que já encontrei em uma novel chinesa até o momento. A autora constrói essas cenas com muita riqueza de detalhes, principalmente ao descrever os movimentos de artes marciais e as técnicas com espadas que os lutadores utilizam, e faz isso com beleza e poesia em suas palavras.
O romance definitivamente não é o foco desse primeiro volume, sendo deixado totalmente em segundo plano e desenvolvido de forma calma e gradativa. Mas gostei muito do potencial por traz dessa possível história de amor, principalmente pela ideia de uma redenção entre dois personagens que a princípio seriam inimigos, mas que desenvolvem sentimentos enquanto embarcam juntos em uma jornada filosófica e de auto conhecimento.
Acredito que essa edição americana terá três volumes, e estou completamente motivado a continuar acompanhando essa aventura política e filosófica.