spoiler visualizarestefanepin 11/04/2024
Um livro de muitas dores
Nascida no Cariri, na cidade de Juazeiro, Amanda, de 12 anos, inicia o livro contando a história da sua vida após a morte da mãe. Através de uma narração em primeira pessoa, Amanda escolhe falar dos personagens que cercam sua vida, como sua falecida mãe, seu avô delinquente e sua avó soberba. É evidente destacar que Amanda não nasceu em uma família de prestígio e muito menos conheceu o significado de infância. Sua vida foi marcada por traumas desde o início, quando sua própria mãe sofria abuso parental. Ela declara que nunca soube como sobreviveu até ali.
Ao longo da história, vivenciamos, pelos olhos de Amanda, todo o sofrimento que ela passou em sua vida. Sua avó, uma mulher completamente soberba, contribui cada vez mais para o tormento da sua vida, principalmente após a morte de sua mãe, Luciana. A mulher passa por um estado completo de crise, onde a própria neta precisa cuidar dos seus cuidados diários. Vale ressaltar que, após a morte de sua mãe, Amanda fica completamente desolada e sozinha, sem nenhum espaço para enfrentar seu luto. Ao invés disso, precisa cuidar da avó negligente, que era a única que representava e significa o seu conceito de família.
A presença da personagem Luciana, mãe de Amanda, foi muito breve, porém muito marcante. Cada passagem do livro não deixa de fazer jus a amargura da sua vida, onde a mesma desde sempre precisou conviver com o pai delinquente, que questionava sua própria compatibilidade genética, resultando em completo desprezo e abuso à filha, e sua mãe negligente de suas responsabilidades emocionais. Luciana é retratada em muitas partes do livro como uma santa, principalmente após sua morte, onde sua própria mãe, negligente e soberba, que superou sua morte através de perturbações mentais, a mulher começou a ter visões e alucinações, que contribuíam para a forma restrita e extremista na qual criou Amanda.
Amanda, com todas as suas dores, sendo uma menina de 12 anos, cresceu ouvindo da boca de sua avó sobre sua mãe santa, a cabeça de uma criança que perdeu sua mãe, a única que ficava do seu lado e batalhava pela sua vida, e que sofreu tanto, mais do que merecia esse status. Ao decorrer dos anos, mesmo após a morte do avô delinquente, sua vida não melhorou, ao contrário. Nas passagens do livro, nós observamos a dor da criança que teve sua propriedade criativa, intelectual e emocional privada da sua vida, vivencia no livro, com toda sua angústia, as suas dúvidas e suas amarguras.
Ao crescer, Amanda vivencia abusos completamente extremos e assimila de fato sua realidade. Sua mãe, que teve sua morte infeliz, não era uma santa, sua avó não falava por ela, e Jéssica, sua amiga, sempre ficaria ao seu lado.