Vocês brilham no escuro

Vocês brilham no escuro Liliana Colanzi




Resenhas - Ustedes brillan en lo oscuro


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Matheus656 02/07/2023

A partir do acidente radiológico em goiânia nos anos 80, liliana colanzi (autora boliviana que já foi escolhida como uma das melhores escritoras latinas com menos de 40 anos) cria uma série de histórias fictícias que exploram a violência, a história e o impacto da memória. a autora entrelaça passado, presente e futuro, formando uma distopia em que as origens são constantemente revisitadas.

a autora aborda também temas como pobreza, corrupção, primitivismo e nossa propensão à destruição, utilizando elementos de ficção científica, realismo e fantasia para explorá-los.

as histórias presentes neste livro formam uma colagem que mescla ficção e realidade de forma tão intrincada que é difícil estabelecer uma fronteira clara entre ambas. elas exploram a genealogia, a origem de tudo, e as consequências de ações que remontam séculos, abordando questões como racismo e estratégias políticas manipuladoras que enganam uma população inteira. a escrita de colanzi brilha intensamente, quase como se literalmente emanasse luz no escuro.

concluo afirmando que ?vocês brilham no escuro' é um livro repleto de expressividade, com uma escrita poética e crua, que dispensa enfeites e que brilha por si só. gostei imensamente dessa coleção de contos, que se destaca pela sua originalidade, qualidade de escrita e brilhantismo. vale demais deixar-se envolver e surpreender por estas histórias que são, em sua maioria, inclassificáveis.

recomendadíssimo.
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Diego Rodrigues 08/12/2023

"O ciclo da vida cujo eixo é a merda, o guano, o excremento generoso. O presente que um ser vivo dá ao outro, sem saber, e por meio do qual a existência continua."
Essa foi a minha primeira experiência com a literatura boliviana. Liliana Colanzi é um dos principais nomes da literatura sul-americana contemporânea, premiada com o Aura Estrada (2015) e o Ribera del Duero (2022). Publicado originalmente em 2022, "Vocês Brilham no Escuro" compila seis contos e é resultado de uma série de viagens e oficinas empreendidas pela autora. Concisas, são histórias que mesclam elementos de realismo com ficção especulativa e que tratam de temas como origens e a busca por identidade, tendo como pano de fundo a miséria, a violência e o abandono. Abaixo falo brevemente sobre os contos que mais gostei.

O primeiro deles se chama "A caverna". Tendo como protagonista uma caverna da região de Oaxaca, no México, o conto narra uma série de acontecimentos que ali se sucederam ao longo de milhares de anos: a mãe que pariu suas crias, a jovem vítima dos ciúmes do namorado, os amantes de povos rivais que se encontravam às escondidas, a visita inesperada de um viajante do futuro e também colônias inteiras de animais e formações rochosas que surgiram e foram extintas ali mesmo. São pequenos eventos que em sua pequenez narram a grandiosidade e a insignificância da existência humana.

"Atomito" fala de um grupo de jovens que vive na cidade de El Alto, na Bolívia. Mas essa é uma El Alto distópica: ela é governada com mão de ferro pela Central, há toque de recolher, a polícia é repressora, a mídia tendenciosa e tudo gira em torno da usina nuclear que bafeja sua radioatividade e contamina tudo ao redor.

Já "O caminho estreito" conta a história de duas irmãs que vivem em um povoado retrógrado e isolado do resto do mundo. Seu líder é um pastor fervoroso e todos devem "andar no caminho estreito de deus". Qualquer contato com o mundo exterior é proibido e as pessoas são submetidas ao uso de uma coleira elétrica que é acionada automaticamente caso se afastem demais. O mínimo deslize e os pecadores podem ir parar nas jaulas.

Também vale destacar o conto que da título ao livro. Inspirado no acidente radiológico de Goiânia que aconteceu em 1987 e que ficou conhecido como o caso do Césio-137, o conto narra o drama das pessoas atingidas pela radioatividade, a demora na detecção, o medo e a discriminação em torno delas e o descaso com que o assunto foi tratado.

No geral, foi uma leitura de altos e baixos pra mim. Alguns contos têm premissas bem interessantes, no entanto senti falta de algo, sabe? A escrita não é das mais cativantes e soou um tanto insípida pra mim em alguns momentos, principalmente no que diz respeito a personagens. Mas isso também pode ser porque venho de uma ótima sequência de livros de contos (Joyce, Krzyzanowski, Borges, etc.). Logo, posso não estar sendo muito justo com a nossa amiga Liliana. De qualquer forma foi uma leitura válida para um primeiro contato com a literatura de um país como a Bolívia. Livros sul-americanos sempre conversam mais intimamente com o nosso contexto! E pra quem busca desbravar essa América Latina contemporânea, a coleção ¡Nosotros! da editora Mundaréu é um prato cheio. Fica aí a recomendação.

site: https://discolivro.blogspot.com/
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