spoiler visualizarPedro 29/03/2024
Queria ter gostado, mas...
Esse foi um livro que definitivamente não funcionou pra mim. Não estou falando da escrita, que é muito boa por sinal e me fez querer ler outros livros da autora, mas falo da temática e do desenvolvimento da trama.
Infelizmente não consegui me apegar a nenhum personagem. A Juliana é um ser humano terrível e provavelmente tem transtorno de borderline ou sociopatia. A Malu é uma garota bobinha e conivente com tudo que está disposto a ela, só mais pro final que ela tem um tiquinho de voz ativa. O Hektor, por mais que no início possa parecer que é um "cara do bem", mais a frente se mostrou que gosta de estar no controle das coisas.
O tema abordado neste livro é bem polêmico, um casal que traz um funcionário e sua filha de 13 anos para morar com eles e o Hektor começa a nutrir sentimentos amorosos por essa menina. Sei que não eles não têm laços de consanguinidade, porém, Hektor já começa a falar que o sorriso da Malu o faz derreter quando a menina tem 15 anos! Sei que não é pedófilia, mas mesmo assim é moralmente nojento já que o Hektor é um homem adulto. E tem uma cena de tentativa de estupro, onde (pasmem!)o Hektor diz que a culpa foi da Malu por não saber se impor quanto a um vestido decotado que a deixava incomodada e mesmo assim usá-lo. Soou como "eu sei que o cara não presta, mas se ela tivesse imposto que iria usar uma roupa mais comportada e não um com decote, o estuprador não acharia que ela estava se insinuando". Really, bitch?
Algumas coisas ficaram nebulosas e foi necessário a autora explicar esses pontos para fazer sentido. Sem falar que incongruências são perceptíveis, como o fato do ginecologista da Juliana quebrar o sigilo médico-paciente para dizer ao Hektor que ela tem endometriose e o psiquiatra não falar absolutamente nada do quadro de uma mulher para o marido que claramente coloca a vida de outros em risco. Um pode quebrar o sigilo e o outro não? Não fez muito sentido pra mim. Sem falar que no início do livro é falado que Juliana tem dependência emocional e financeira do pai dela e se casa com um cara e tem dependência emocional e financeira dele. Que psiquiatra é esse que não tenta tratar direito o paciente. Outro ponto que foi bem estranho é que, como a Juliana é estéril por conta da doença dela, ela quer adotar a Malu, mas claro que Hektor não queria isso, primeiro que o pai da menina é vivo e segundo porque ele tinha sentimentos por ela, mas de uma hora pra outra, a Juliana fala a plenos pulmões de que não quer adotar ninguém. Ué? A Malu agora é ninguém?
E outro ponto, foi a mudança repentina da Juliana. Ela parece ser uma boa pessoa, daí quando o Hektor se interessa por Malu, a personalidade da Juliana muda do nada! É como se arranjasse uma desculpa para a traição do Hektor. E isso me incomodou. Se fosse algo gradativo, eu entenderia, mas uma mudança radical do nada?
Enfim, o fato também do Hektor imaginar quando está tendo relações com a Juliana que é a Malu, uma adolescente, que está ali foi outra coisa que não me agradou.
E tem também o fato dos valores dos dois que é tipo: ah, eu sei que o que eu tô fazendo é errado, mas dane-se, vou continuar fazendo mesmo assim.
Mas já me estendi demais. Em suma, esse livro me pareceu uma romantização de traição com uma menor (que não é crime no Brasil, infelizmente) onde ao final, como Malu não quis ser amante dele, ele a abandona e vai pros EUA. É aquele clássico: nadou, nadou e morreu na praia. Ah, e como ela não aceitou isso, ele diz que espera que ela possa ter uma família com um outro cara. É sério? Passou o tempo todo não querendo que ela se relacionasse com ninguém além dele, mas quando ela não quer ser amante, vou deixá-la? Isso não me pareceu muito com amor, tá mais pra paixão e desejo e que "se não vai ser do jeito que quero, então também não quero você".
Só queria deixar claro que essa é minha opinião, talvez você possa gostar da leitura. Mas esse leitor aqui, não ficou animado pra ler a continuação (sim, terá continuação), mas irei ler outros livros da autora com outras temáticas porque gostei da escrita.