Eduardo Cassago 07/03/2024
Ariano Suassuna e seu legado
Reza a lenda que certa vez um crítico teatral abordou Ariano Suassuna e o inquiriu a respeito de alguns episódios do Auto da Compadecida. Disse ele: “como foi que o senhor teve aquela ideia do gato que defeca dinheiro?” Ariano respondeu: “eu achei num folheto de cordel.” O crítico: “e a história da bexiga de sangue e da musiquinha que ressuscita a pessoa?” Ariano: “tirei de outro folheto.” O outro: “e o cachorro que morre e deixa dinheiro para fazer o enterro?” Ariano: “aquilo ali é do folheto, também.” O sujeito impacientou-se e disse: “Agora danou-se mesmo! Então, o que foi que o senhor escreveu?” e Ariano: “oxente! Escrevi foi a peça!” – Pág. 193.
Este episódio já mostra como a obra de Ariano Suassuna tem o poder de nos encantar. Recuperando e conectando mecanismos da comédia medieval da Europa e da comédia popular do Nordeste, algo completamente novo e original nasce nas mãos do talentoso poeta, dramaturgo, ensaísta e artista plástico.
A gênese de João Grilo, um arlequim nordestino e Malasartes autêntico, dá-se num turbilhão de referências importadas sem perder a característica de sua terra natal. Um personagem capaz de debochar do diabo, questionar Jesus Cristo e reivindicar Nossa Senhora como sua advogada, para assim barganhar com a morte e voltar para seu parceiro de picadeiro, Chicó.
O que dizer mais? Leia Auto da Compadecida em qualquer dia, qualquer hora, qualquer momento de sua vida e emocione-se com uma história que só poderia sair da cabeça de Ariano Suassuna, um dos maiores dramaturgos brasileiros.
site: https://www.youtube.com/@canalosofredor