O Meu Pé de Laranja Lima

O Meu Pé de Laranja Lima José Mauro de Vasconcelos




Resenhas - O meu pé de laranja lima


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E. Dantas 02/05/2009

Este talvez tenha sido o único livro que me levou às lágrimas.
Porque? Bom, não vou contar realmente por que senão, lá se vai a estória, mas o que posso dizer é que é um livro emocionante, onde José Vasconcelos, sabe-se lá como, consegue falar sobre a infância como uma verdadeira criança. É impressionante.

Beijos e inté!
Thata 20/03/2010minha estante
O seu foi o único, o meu foi o primeiro ... me acabei em lágrimas com esse livro ... mas não foi o único ... foi só o primeiro!


Charles 19/04/2012minha estante
Também foi um dos poucos que me fez chorar...


Bruna Monteiro 17/07/2012minha estante
Minha mãe leu quando tinha 12 anos e ela releu comigo, quando eu tinha uns 7. Foi um livro em choramos juntas nos mesmos momentos AHSUAHSUAH


Lara 09/09/2012minha estante
chorei demais :/


Laura 10/01/2013minha estante
Acho que foi o primeiro que me levou às lágrimas. Uma história muito emocionante e tocante que, sempre que releio, me pego chorando desesperadamente de novo :/
Mas, ainda assim, acho que é um livro que todos deveriam ler (:


Querol 23/04/2013minha estante
Muito emocionante mesmo. O fato é que eu só li porque minha tia insistiu muito e não é que acabei adorando? Apesar do final ser um pouco triste,o livro rendeu muitas risadas, quem imaginaria um menininho com a boca tão suja? Sem palavras certas para descreve o quanto essa história é especial e vai deixar muitas pessoas de queixo caído.


Gislaine.Aquino 10/02/2020minha estante
Como eu facto para ler??


San 24/03/2020minha estante
Lágrimas e lágrimas...lendo para minha filha de 8 anos


Italo 03/06/2020minha estante
É difícil eu chorar, mas esse livro é nada menos que magnífico, um livro e você começa a rir, a se simpatizar e se sensibilizar de mais, acho que eu reli ele umas três ou mais vezes, a partir da segunda vez que eu me emocionei para valer, nenhum outro livro que eu já li me impactou tanto quando este.
Detalhe: este foi um dos primeiros livros que eu li, então é claro que ele é um dos meus favoritos


Livros e Ivaílton 23/07/2020minha estante
Esse livro é incrível!


adeilsonbento 05/08/2020minha estante
Havia lido, quando criança, do mesmo autor o livro " Vamos aquecer o sol" que parece ser o mesmo personagem. Em uma busca por áudio livros de minha infância esse me interessou. E não desapontou. O jeitinho terno de Zezé me apaixonou logo do início. Talvez a forma como o narrador interpretava ajudou ainda mais a gostar do livro e a utilizá-lo como um verdadeiro calmante. Recomendo muito.


Alice 02/09/2020minha estante
Terminei a leitura agora. Comecei o livro com grandes expectativas e elas foram atendidas. Zezé é encantador, o autor soube descrever as situações de forma cativante, me senti dentro da história e quis acolher Zezé em cada capítulo. Me apeguei! rs


Jose Ricardo 19/09/2020minha estante
Chorei tanto gente.


5io 01/10/2020minha estante
Esse livro é maravilhoso. Esplêndido, sublime! É uma história emocionante, envolvente e nos faz nos sentir na pele do pequeno protagonista. Nos ensina coisas, nos faz refletir bastante sobre a vida e traz uma sensação de lar, de conforto. Muito bom. Recomendo a todos que querem ter uma ótima leitura. ?


Apollyon 09/12/2020minha estante
Esse livro me fez chorar na quinta série! Foi esse livro o responsável por me fazer amar os livros e a literatura ???


Vica 20/12/2020minha estante
Eu amo esse livro!


Sabrina.Lima 03/01/2021minha estante
Chorei muito também. História linda e emocionante. Nunca irei esquecer! Sem falar do jeito que o autor narra, como se fosse de fato uma criança. Leitura maravilhosa!


Aline.afr 13/01/2021minha estante
Também chorei horrores. Acho que por acompanharmos a história da perspectiva de uma criança causa esse sentimento


Vanessa 11/02/2021minha estante
É um dos livros mais tocantes e emocionantes que já li. De uma sensibilidade inexplicável. Chorei tanto que meu namorado veio me consolar. Rsrsrs... está no meu top 10.


anna2985 02/08/2021minha estante
um dos melhores livros nacionais


Rutchi 15/09/2021minha estante
Acabei ele ontem a noite, juntei os caquinhos do meu coração e fui dormir, é um livro que bate la no fundo mesmo, dói muito, foi o primeiro livro que me fez chorar rios, é muito triste ver que uma criança tão pequenina já tem que passar por tanta coisa e pior ainda saber que isso acontece o tempo todo no mundo real. Foi difícil, mas o livro é muuito bom, tem todo o meu amor e um lugar bem quentinho no que sobrou do meu coração.


(Ex) Leitor 07/01/2022minha estante
É impressionante como a pureza dessa criança me levou a refletir sobre multas coisas. Impressionante, emocionante e necessário. Confesso que me fez chorar.


Wigson 74 25/01/2022minha estante
Quando um professor me entregou o livro ele disse:
- Toma, lê e chora depois me conta.

Mais ou menos assim, eu duvidei que choraria, mas quando chega na parte do "portuga" eu não aguentei. Na verdade várias vezes.


atoladinha 04/02/2022minha estante
Foi o primeiro livro que me fez chorar, múltiplas vezes inclusive, e quebrou meu preconceito com livros que não fossem de fantasia. Realmente apaixonante, pretendo reler.


Wigson 74 10/02/2022minha estante
Meu preconceito já é com os livros de fantasia kkk


LAvia 02/05/2022minha estante
Para mim não foi o único, mas chorei bastante.


Hiária 16/06/2022minha estante
Eu li esse livro dezenas de vezes quando eu era criança. Tenho ele guardado até hoje com a capa rasgada.

Nunca dei tanta risada e chorei tanto num só livro.

O Zezé era uma criança arteira e eu me identificava muito com ele, incluindo as surras.

Quero reler ele, agora adulta para analisar reações. Tenho certeza que vou chorar, mas quero [re] viver essa experiência por outra perspectiva?




Alane.Sthefany 29/04/2022

O Meu Pé de Laranja Lima
O que dizer desse livro? ??
Me emocionei diversas vezes lendo, até porque a forma que o autor narra a história, pelo ponto de vista do Zezé (de apenas 5 aninhos de idade), faz com que a gente venha nos apaixonar pelo seu personagem, entendê-lo, até mesmo as suas ações de procurar encrenca o tempo inteiro, em busca de atenção, devido a negligência dos pais e a sensação de abandono (o coitado falava até com árvores, deu nome ao seu pé de laranja lima, chamando-o de Minguinho). No entanto, o menino só recebia em troca uma correção de seus pais.

É de cortar o coração essas partes:

? Não faz mal, eu vou matar ele.
? Que é isso menino, matares teu pai?
? Vou, sim. Eu já até que comecei. Matar não quer dizer a gente pegar o revólver de Buck Jones e fazer bum! Não é isso. A gente mata no coração. Vai deixando de querer bem. E um dia a pessoa morreu.

(...)

Você é meu amigo e foi por isso que eu pedi para passear no nosso carro que daqui a pouco vai ser só seu. Eu vim dizer adeus para você.
? Adeus?
? Sério. Você vê, eu não presto para nada, estou cansado de sofrer pancada e puxões de orelha. Vou deixar de ser uma boca a mais? Comecei a sentir um nó doloroso na garganta. Precisava muito de coragem para contar o resto.
? Vais fugir então?
? Não. Eu passei esta semana toda pensando nisso. Hoje de noite eu vou me atirar debaixo do Mangaratiba.

[...]

Eu fui assistir o filme logo em seguida, e me acabei de chorar mais ainda. Prendendo reler esse livro mais na frente. ??
Super recomendo !!!

Amei a professora do Zezé, a Cecília Paim e o Sr. Portuga (Manuel Valadares). ??

A amizade que o Zezé e o Portuga criam, sendo os dois sozinhos, uma criança e um idoso, é encantadora e emocionante. ?

Zezé é uma criança cativante, inteligente, eu simplesmente amei. Seu irmão mais novo, o Luís, tão inocente, que via magia em tudo. ??
A irmã deles, a Glória (Godóia), é incrível também, amei a forma como ela se importava com o irmão e o defendia, dizendo que o Zezé era apenas uma criança (como qualquer outra), que a forma que os pais e os irmãos mais velhos o tratavam, só iria matá-lo.

"Minha salvação foi Glória ter ouvido. Ela estava no vizinho, conversando com Dona Rosena e veio voando, atraída pela gritaria. Penetrou na sala como um furacão.
Glória não era de brincadeira e quando viu que o sangue lavava minha cara, empurrou Totoca para o lado e nem se importou que Jandira fosse mais velha, afastando-a com um safanão. Eu jazia no chão sem quase poder abrir os olhos e respirando com dificuldade.
Levou-me para o quarto. Eu nem chorava, mas em compensação o rei Luís tinha se escondido no quarto de Mamãe e fazia um berreiro terrível. De medo e por que estavam judiando de mim.
Glória invectivava {ofensa, provocação}, ? Um dia vocês matam essa criança e eu quero ver! Vocês são uns monstros sem coração. Me deitara na cama e ia providenciar a santa bacia de salmoura. Totoca entrou sem jeito no quarto. Glória o empurrou.
? Sai pra lá, seu covarde! ? Você não ouviu o que ele estava xingando? ? Ele não estava fazendo nada. Vocês é que provocaram. Quando eu saí ele estava quietinho fazendo o seu balão. Vocês não têm é coração. Como se pode bater tanto num irmão? E conforme me limpava o sangue, eu cuspi na bacia um pedaço de dente."

Trechos Preferidos ?????

Meu preito de saudade para o meu irmão Luís, O Rei Luís, e minha irmã Glória;
Luís desistiu de viver aos vinte anos, e Glória, aos vinte e quatro anos, também achou que viver não valia mesmo.
Saudade igual ainda para Manuel Valadares, que mostrou aos meus seis anos o significado da ternura? Que todos descansem em paz!
e agora Dorival Lourenço da Silva
(Dodô, nem tristeza nem saudade matam!?)

O descobridor das coisas

A GENTE VINHA DE MÃOS DADAS, sem pressa de nada pela rua.
Totoca vinha me ensinando a vida. E eu estava muito contente porque meu irmão mais velho estava me dando a mão e ensinando as coisas. Mas ensinando as coisas fora de casa. Porque em casa eu aprendia descobrindo sozinho e fazendo sozinho, fazia errado e fazendo errado acabava sempre tomando umas palmadas.
Até bem pouco tempo ninguém me batia. Mas depois descobriram as coisas e vivem dizendo que eu era o cão, que eu era capeta, gato ruço de mau pêlo. Não queria saber disso. Se não estivesse na rua eu começava a cantar. Cantar era bonito. Totoca sabia fazer outra coisa além de cantar, assobiar. Mas eu por mais que imitasse, não saía nada.
Ele me animou ?dizendo que era assim mesmo, que eu ainda não tinha boca de soprador.
Mas como eu não podia cantar por fora, fui cantando por dentro.

[...]

? Você vai longe, peralta. Não é à toa que você se chama José. Você será o sol, e as estrelas vão brilhar ao seu redor.

[...]

Uma mistura de tudo criou-se na minha alma. Era ódio, revolta e tristeza. Sem poder me conter exclamei: ? Como é ruim a gente ter pai pobre!...
Desviei meus olhos do ténis para uns tamancos que estavam parados à minha frente.
Papai estava em pé nos olhando. Seus olhos estavam enormes de tristeza. Parecia que seus olhos tinham crescido tanto, mas crescido tanto que tomavam toda a tela do cinema Bangu. Havia uma mágoa dolorida tão forte nos seus olhos que se ele quisesse chorar não ia poder. Ficou um minuto que não acabava mais nos fitando, depois em silêncio, passou por nós.
Estávamos estatelados sem poder dizer nada. Ele apanhou o chapéu sobre a cómoda e foi de novo para rua. Só então Totoca me tocou no braço.
? Você é ruim, Zezé. Ruim como cobra. É por isso que...
Calou-se emocionado.
? Eu não vi que ele estava ali.
? Malvado. Sem coração. Você sabe que Papai está desempregado há muito tempo. Foi por isso que ontem eu não podia engolir, olhando o rosto dele. Um dia você vai ser pai e vai saber o quanto dói uma hora dessas.
Por mais, eu chorava.
? Mas eu não vi, Totoca, eu não vi...
? Sai de perto de mim. Você não presta pra nada mesmo. Suma! Tive vontade de sair correndo pela rua e me agarrar chorando às pernas de Papai.
Dizer que fora muito mau, muito mau mesmo. Mas continuava parado, sem saber o que fazer. Precisei me sentar na cama. E de lá espiava os sapatinhos ténis no mesmo canto, vazio de tudo.
Vazio como o meu coração que flutuava sem governo.
? Por que fui fazer isso, meu Deus? Logo hoje. Porque eu tinha de ser mais malvado ainda quando tudo já estava tão triste. Com que cara eu vou olhar para ele na hora do almoço? Nem a salada de frutas vai conseguir descer.
E os olhos grandes dele, como tela de cinema, estavam grudados me olhando.
Fechava os olhos e enxergava os olhos grandes, grandes...

[...]

Hoje não tinha nem mais força de ter raiva.

[...]

? Papai... Papai...
E a voz foi sendo consumida pelas lágrimas e soluços. Ele abriu os braços e estreitou-me ternamente.
? Não chore, meu filho. Você vai ter muito que chorar pela vida, se continuar um menino assim tão emotivo...
? Eu não queria, Papai... Eu não queria dizer... aquilo.
? Eu sei. Eu sei. Não fiquei zangado porque no fundo você tinha razão.
Me embalou, um pouco mais.
Depois levantou o meu rosto e enxugou-o com o pano de prato que estava jogado perto.
? Assim é melhor.

[...]

? Godofredo me contou uma coisa muito feia de você, Zezé. É verdade? Balancei a cabeça afirmativamente.
? Da flor? É, sim, senhora.
? Como é que você faz? ? Levanto mais cedo e passo no jardim da casa do Serginho. Quando o portão está só encostado, eu entro depressa e roubo uma flor. Mas lá tem tanta que nem faz falta.
? Sim. Mas isso não é direito. Você não deve fazer mais isso. Isso não é um roubo, mas já é um furtinho.
? Não é não, D. Cecília ? O mundo não é de Deus? Tudo que tem no mundo não é de Deus? Então as flores são de Deus também...
Ela ficou espantada com a minha lógica.
? Só assim que eu podia, professora. Lá em casa não tem jardim. Flor custa dinheiro... E eu não queria que a mesa da senhora ficasse sempre de copo vazio.
Ela engoliu em seco.
? De vez em quando a senhora não me dá dinheiro para comprar um sonho recheado, não dá?...
? Poderia lhe dar todos os dias. Mas você some...
? Eu não podia aceitar todos os dias...
? Por quê? ? Porque tem outros meninos pobres que também não trazem merenda.
Ela tirou o lenço da bolsa e passou disfarçadamente nos olhos.
? A senhora não vê a Corujinha? ? Quem é a Corujinha? ? Aquela pretinha do meu tamanho que a mãe enrola o cabelo dela em coquinhos e amarra com cordão.
? Sei. A Dorotília.
? É, sim, senhora. A Dorotília é mais pobre do que eu. E as outras meninas não gostam de brincar com ela porque é pretinha e pobre demais. Então ela fica no canto sempre. Eu divido o sonho que a senhora me dá, com ela.
Dessa vez ela ficou com o lenço parado no nariz muito tempo.
? A senhora de vez em quando, em vez de dar para mim, podia dar para ela. A mãe dela lava roupa e tem onze filhos. Todos pequenos ainda. Dindinha, minha avó, todo sábado dá um pouco de feijão e de arroz para ajudar eles. E eu divido o meu sonho porque Mamãe ensinou que a gente deve dividir a pobreza da gente com quem é ainda mais pobre.
As lágrimas estavam descendo.
? Eu não queria fazer a senhora chorar. Eu prometo que não roubo mais flores e vou ser cada vez mais um aluno aplicado.
? Não é isso, Zezé. Venha cá. Pegou as minhas mãos entre as dela.
? Você vai prometer uma coisa, porque você tem um coração maravilhoso, Zezé.
? Eu prometo, mas não quero enganar a senhora. Eu não tenho um coração maravilhoso. A senhora diz isso porque não me conhece em casa.
? Não tem importância. Pra mim você tem. De agora em diante não quero que você me traga mais flores. Só se você ganhar alguma. Você promete? ? Prometo, sim senhora. E o copo? Vai ficar sempre vazio? ? Nunca esse copo vai ficar vazio. Quando eu olhar para ele vou sempre enxergar a flor mais linda do mundo. E vou pensar: quem me deu essa flor foi o meu melhor aluno.
Está bem? Agora ela ria. Soltou minhas mãos e falou com doçura.
? Agora pode ir, coração de ouro...


(Mamãe ensinou que a gente deve dividir a pobreza da gente com quem é ainda mais pobre.)

[...]

(...) meu trabalho não tem nada de imoral. Qualquer trabalho honesto é trabalho e eu não me envergonho.

A humilhação doía mais que a própria dor.

[...]

? Xururuca, você nem sabe. Você se lembra que na semana passada eu ganhei de prémio por ser bom aluno aquele livro de histórias ?A rosa mágica?? Minguinho ficava muito feliz quando eu o tratava de Xururuca; nesse momento ele sabia que eu ainda lhe queria mais bem ainda.
? Lembro, sim.
? Pois eu nem contei que já li o livro. É a história de um príncipe que ganhou de uma fada uma rosa vermelha e branca.
Pois o danado viajava num cavalo lindo todo ajaezado {enfeitado, adereçado} de ouro; é assim que diz no livro. Pois no cavalo ajaezado de ouro ele saía viajando em busca de aventura. Qualquer perigo ele sacudia a rosa mágica e aparecia uma fumaceira danada para que o Príncipe escapasse. Na verdade, Minguinho, eu achei a história meio boba, sabe? Não é como as aventuras que eu quero ter na minha vida. Aventura mesmo tem Tom Mix e Buck Jones.
E Fred Thompson e Richard Talmadge. Porque eles lutam como danados, dão tiros, socos... Agora se qualquer um deles fosse puxando uma rosa mágica em cada perigo que viesse, não tinha graça nenhuma. Que é que você acha? ? Acho meio sem graça também.
? Mas não é isso que eu quero saber. Eu quero saber se você acredita mesmo que uma rosa possa fazer mágica assim? ? De fato é mesmo esquisito.
? Esse pessoal vai contando as coisas e pensa que criança acredita em tudo.
? Lá isso é.
Ouvimos um barulho e Luís vinha se aproximando.
Cada vez meu irmãozinho ficava mais lindo. Não era chorão, nem briguento.
Mesmo quando eu era obrigado a tomar conta dele, quase sempre eu o fazia de boa vontade.
Comentei para Minguinho: ? Vamos mudar de assunto porque vou contar essa história para ele e ele vai achar linda. A gente não deve tirar as ilusões de uma criança.

[...]

Nesses momentos ia com o rei Luís adornar, ajaezar, termo que eu achava lindo, o meu pé de Laranja Lima. Por sinal, Minguinho dera uma esticada danada e logo, logo estaria dando flores e frutos para mim. As outras laranjeiras demoravam muito. Mas pé de Laranja Lima era ?precoce? como Tio Edmundo dizia que eu era.

Cecília Paim, conhecia de longe a nossa pobreza e na hora do lanche, quando via todo mundo comendo sua merenda, ficava emocionada, me chamava sempre à parte e me mandava comprar o sonho recheado no doceiro. Ela tinha tamanha ternura por mim que eu acho que ficava bonzinho só para ela não se decepcionar comigo.

[...]

? Que é, Zezé? ? Nada, Godóia... Por que ninguém gosta de mim? ? Você é muito arteiro.
? Hoje já levei três surras, Godóia.
? E não mereceu? ? Não é isso. É que como ninguém gosta de mim, aproveitam para me bater por qualquer coisa.
Glória começou a comover seu coração de quinze anos. E eu sentia isso.
? Eu acho que é melhor amanhã eu ser atropelado na Rio-São Paulo e ficar todo esmagadinho.
Aí então as lágrimas desceram em torrentes dos meus olhos.
? Não diga bobagens, Zezé. Eu gosto muito de você.
? Não gosta, não. Se gostasse não ia deixar eu apanhar mais uma surra hoje.
? Já está escurecendo e nem vai mais ter tempo de você fazer alguma travessura para apanhar.
? Mas eu já fiz...
Ela soltou o bordado e se aproximou de mim. Quase soltou um grito ao ver a poça de sangue que envolvia o meu pé.
? Meu Deus! Gum, o que foi isso? Estava ganha a partida. Se ela me chamava de Gum era porque estava salvo.
Me pegou no colo e me sentou na cadeira. Ligeiramente apanhou uma bacia de água com sal e se ajoelhou aos meus pés.
? Vai doer muito, Zezé.
? Já está doendo muito.
? Meu Deus tem quase três dedos de corte. Como você foi fazer isso, Zezé? ? Você não conta pra ninguém. Por favor, Godóia, eu prometo que fico bonzinho.
Não deixe ninguém me bater tanto...
? Tá bem, eu não conto. Como vamos fazer? Todo mundo vai ver seu pé amarrado. E amanhã você não poderá ir à Escola. Vão acabar descobrindo.
? Eu vou à Escola, sim. Calço os sapatos até a esquina. Depois é mais fácil.
? Você precisa ir se deitar e ficar com o pé bem esticado, senão isso não dá para você andar amanhã.
Ajudou-me a ir capengando para a cama.
? Vou trazer qualquer coisa para que você coma antes que os outros cheguem.
Quando voltou com a comida, eu não aguentei e dei um beijo nela. Aquilo era muito raro em mim.
Quando todos tinham chegado para o jantar, Mamãe deu falta de mim.
? Cadê Zezé? ? Está deitado. Desde cedo que ele queixa de dor de cabeça.
Eu escutava embevecido esquecendo até o ardor do ferimento.
Gostava de estar sendo o assunto. Foi quando Glória resolveu tomar a minha defesa. Fez uma voz queixosa e ao mesmo tempo acusativa.
? Acho que todo mundo anda batendo nele. Ele hoje estava todo moído. Três surras é demais.
? Mas é uma pestezinha. Só fica quieto quando apanha! ? Vai dizer que você também não bate nele? ? Muito difícil. Quando muito, puxo as suas orelhas.
Fizeram um silêncio e Glória ainda continuou a me defender.
? Afinal, minha gente, ele ainda não tem seis anos. É levado mas ainda é uma criancinha.
Aquela conversa foi uma felicidade para mim.

[...]

? Pelo visto tu te machucaste muito, não? O que foi? Funguei um pouco antes de responder.
? Caco de vidro.
? Foi profundo? Fiz o tamanho do talho com os dedos.
? Ah! isso é grave. E por que não ficaste em casa? Pelo jeito vais para a Escola, não? ? Ninguém sabe lá em casa que eu me machuquei. Se descobrissem ainda me batiam por cima para aprender a não machucar...
? Vem que eu te levo.
? Não senhor, obrigado.
? Mas por quê? ? Todo mundo na Escola sabe o que aconteceu.
? Mas tu não podes caminhar assim.
Abaixei a cabeça reconhecendo a verdade e sentindo que por pouco mais o meu orgulhozinho se espatifaria.
(...)
? És um homenzinho corajoso, Pirralho. Eu sorri cheio de dor, mas dentro daquela dor tinha acabado de descobrir uma coisa importante. O Português tinha se tornado agora a pessoa que eu queria mais bem no mundo.

[...]

Entre amigos, não deve haver segredos...

[...]

(...) eu fiquei muito sério.
? Eu não presto para nada. Sou muito ruim. Por isso é o diabo que nasce pra mim no dia do Natal e eu não ganho nada. Sou uma peste. Uma pestinha. Um cachorro. Um traste ordinário. Uma das minhas irmãs me disse que coisa ruim como eu não devia ter nascido...
Ele coçou a cabeça admirado.
? Só essa semana já levei um punhado de surras. Umas até bem doídas. Também apanho pelo que não faço. Levo culpa de tudo. Já se acostumaram a me bater.
? Mas o que tu fazes de tão mal assim? ? Deve ser o diabo mesmo. Vem uma vontade de fazer, e... eu faço. Essa semana eu toquei fogo na cerca da Nega Eugénia. Chamei Dona Cordélia, de Pata-Choca e ela virou fera. Chutei uma bola de pano e a burra entrou pela janela e quebrou o espelho grande de Dona Narcisa. Quebrei com a baladeira três lâmpadas. Dei uma pedrada na cabeça do filho de seu Abel.
? Chega, chega.
Ele punha a mão na boca para esconder o sorriso.

[...]

Ela (Mamãe) vive tão cansada que quando chega em casa de noite, nem tem vontade de conversar.

[...]

? Portuga ? Hum...
? Eu nunca mais quero sair de perto de você, sabe? ? Por quê? ? Porque você é a melhor pessoa do mundo. Ninguém judia de mim quando estou perto de você e sinto um ?sol de felicidade dentro do meu coração?.

[...]

? Portuga! ? Hum.
? Você não gosta que eu diga palavrões? ? Simplesmente não.
? Pois bem, se eu não morrer, eu prometo a você que não xingo mais.
? Muito bem. E que negócio de morrer é esse? ? Quando chegar daqui a pouco eu conto.
Tornamos a nos calar e o Português estava cismado.
? Preciso saber de outra coisa já que confias em mim. Aquela história da música.
O tal do Tango. Tu sabias o que estavas cantando? ? Eu não quero mentir para você. Eu não sabia direito. Eu aprendi porque aprendo tudo. Porque a música é muito bonita. Nem pensava no que, queria dizer ... Mas ele me bateu tanto, tanto, Portuga. Não faz mal ...
Funguei compridamente.
? Não faz mal, eu vou matar ele.
? Que é isso menino, matares teu pai? ? Vou, sim. Eu já até que comecei. Matar não quer dizer a gente pegar o revólver de Buck Jones e fazer bum! Não é isso. A gente mata no coração. Vai deixando de querer bem. E um dia a pessoa morreu.
? Que cabecinha imaginosa que tu tens.
Dizia isso mas não conseguia esconder a emoção que o assaltava.
? Mas tu também não disseste que me matavas? ? Disse no começo. Depois matei você ao contrário. Fiz você morrer nascendo no meu coração. Você é a única pessoa que eu gosto, Portuga. O único amigo que eu tenho.
Não é porque me dá figurinhas, refresco, doce ou bola de gude... Juro que estou falando a verdade.
? Ora, todo mundo te quer bem. Tua mãe, mesmo o teu pai. Tua irmã Glória, o rei Luís... Por acaso, esqueceste o teu pé de Laranja Lima? o tal de Minguinho e...
? Xururuca.
? Pois então...
? Agora é diferente, Portuga. Xururuca é uma simples laranjeirinha que nem sequer sabe dar uma flor... Isso é que é a verdade... Mas você, não. Você é meu amigo e foi por isso que eu pedi para passear no nosso carro que daqui a pouco vai ser só seu. Eu vim dizer adeus para você.
? Adeus? ? Sério. Você vê, eu não presto para nada, estou cansado de sofrer pancada e puxões de orelha. Vou deixar de ser uma boca a mais...
Comecei a sentir um nó doloroso na garganta. Precisava muito de coragem para contar o resto.
? Vais fugir então? ? Não. Eu passei esta semana toda pensando nisso. Hoje de noite eu vou me atirar debaixo do Mangaratiba.
Ele nem falou. Me apertou fortemente nos braços e me confortou do jeito que só ele sabia fazer.
? Não. Não digas isso, por amor de Deus. Tens uma vida linda pela frente. Com essa cabeça e essa inteligência. Não digas assim que é pecado! Eu não quero nem que penses, nem que repitas isso. E eu? Tu não me queres bem? Se me queres e não estás mentindo, não deves falar mais assim.
Afastou-se de mim e me olhou nos olhos. Passou as costas das mãos sobre as minhas lágrimas.
? Eu te quero muito, Pirralho. Muito mais do que tu pensas. Vamos, sorri.
Sorri meio aliviado com a confissão.

(...)

? Mas você podia ser rei. Você tem tudo para ser rei. Todo rei é gordo como você. O rei de copas, o de espadas, o de paus e o de ouros. Todos os reis do baralho são bonitos como você, Portuga.

(...)

? Vamos comer. Mas tu não podes comer assim sujinho como se fosses um porquinho. Vamos, despe-te e mergulha ali naquele lugar raso.
Mas eu fiquei indeciso sem querer obedecer.
? Eu não sei nadar.
? Mas não é preciso. Vamos, eu fico perto.
Continuava parado. Não queria que ele visse...
? Não venhas me dizer que estás com vergonha de te despires perto de mim.
? Não. Não é isso...
Não tinha outra alternativa; virei-me de costas e comecei a tirar a roupa. Primeiro a camisa, depois as calças com os suspensórios de pano.
Joguei tudo no chão e virei-me súplice para ele. Realmente não disse nada mas tinha o horror e a revolta estampados nos olhos. Eu não queria que ele visse as manchas, os vergões e as cicatrizes das surras que eu tinha apanhado.
Apenas murmurou emocionado, ? Se te dói, não entra n'água.
? Agora não dói mais.
Comemos ovos, banana, salame, pão e mariolas. Isso só eu quem gostava. Fomos beber água no rio e voltamos para debaixo da Rainha Carlota. (Árvore).

[...]

? Portuga! ? Hum...
? Você está dormindo? ? Ainda não.
? É verdade aquilo que você disse a seu Ladislau, na Confeitaria? ? Ora, tantas coisas eu tenho dito a seu Ladislau, na Confeitaria.
? A meu respeito. Eu ouvi. Do carro eu ouvi.
? E o que ouviste? ? Que você gosta muito de mim? ? Está claro que gosto de ti. Que diferença faz? Aí eu me virei, sem me libertar dos seus braços. Fitei os seus olhos semicerrados.
Seu rosto assim ficava mais gordo e mais parecido com um rei.
? Não, mas eu quero saber com força se você gosta mesmo de mim? ? Claro, bobinho.
E me apertou mais para comprovar o que dissera.
? Eu estive pensando seriamente. Você só tem aquela filha do Encantado, não é? ? É.
? Você mora sozinho naquela casa com as duas gaiolas de passarinho, não é? ? É.
? Você disse que não tem netos, não é? ? É.
? E você disse que gosta de mim, não é? ? É.
? Então porque você não vai lá em casa e não pede para Papai me dar para você? Ele ficou tão emocionado que se sentou e me segurou o rosto com as duas mãos.
? Tu gostarias de ser meu filhinho? ? A gente não pode escolher o pai antes de nascer. Mas se pudesse eu queria você.
? Verdade, Pirralho? ? Posso até jurar. Depois, eu seria uma pessoa a menos para comer. Eu prometo que não falo mais palavrões, nem bunda mesmo. Eu engraxo os seus sapatos, trato dos passarinhos na gaiola. Fico bonzinho de todo. Não vai haver melhor aluno na Escola.
Faço tudo, tudo direitinho.
Ele nem sabia o que responder.
? Lá em casa todo mundo morre de alegria se eu for dado. Vai ser um alívio. Eu tenho uma irmã entre Glória e Antônio que foi dada pro Norte. Foi viver com uma prima, que é rica, para estudar e ser gente...
O silêncio continuava e os seus olhos estavam cheios de lágrimas.
? Se não quiserem dar, você me compra. Papai está sem dinheiro nenhum.
Garanto que ele me vende. Se pedir muito caro você pode me comprar a prestações, do jeito que seu Jacob vende...
Como ele não respondesse eu voltei à antiga posição e ele também.
? Sabe, Portuga, se você não me quer, não faz mal. Eu não queria fazer você chorar...
Ele alisou demoradamente os meus cabelos.
? Não é isso, meu filho. Não é isso. A vida a gente não resolve assim de uma só manobra. Mas eu vou te propor uma coisa. Não poderei tirar-te dos teus pais nem da tua casa. Se bem que gostasse muito de o fazer. Isso não é direito. Mas de agora em diante, eu que gostava de ti como um filhinho, vou te tratar como se fosses mesmo o meu filho.
Eu me ergui exultante.
? Verdade, Portuga? ? Posso até jurar, como tu sempre dizes.
Fiz uma coisa que raramente fazia ou gostava de fazer com os meus familiares.
Beijei o seu rosto gordo e bondoso...

(A vida a gente não resolve assim de uma só manobra.)

[...] Jerónimo

? Pegou o carro? ? O carrão. Aquele bonito do seu Manuel Valadares, Virei-me atarantado.
? Que foi que você disse? ? Disse isso: que o Mangaratiba pegou o carro do Português na passagem da Rua da Chita. Foi por isso que eu cheguei tarde. O trem esmigalhou o carro. Tem gente à beça.
Chamaram até o Corpo de Bombeiros de Realengo.
Comecei a suar frio e meus olhos ameaçavam ficar escuros.
Jerónimo continuava respondendo às perguntas do vizinho.
? Não sei se morreu. Não deixavam criança chegar perto.
Fui me levantando sem sentir. Aquela vontade de vomitar me atacando enquanto o corpo estava molhado de suor frio. Saí da carteira e caminhei para a porta da saída. Nem reparei direito no rosto de Dona Cecília Paim que viera ao meu encontro espantada talvez com a minha palidez.

(...) Ladislau

? Não chore, menininho. Ele foi pro céu.

(...) Totoca

? Jandira, Zezé está muito doente. Ela veio resmungando.
? Deve ser fita de novo. Umas boas chineladas...
Mas Totoca entrara no quarto nervoso.
? Não, Jandira. Dessa vez ele está muito doente e vai morrer...
Durante três dias e três noites, fiquei sem querer nada. Só a febre me devorando e o vómito que me atacava quando tentavam me dar coisa para comer ou beber. Ia definhando, definhando.
Ficava de olhos espiando a parede sem me mexer horas e horas.
Ouvia o que falavam a meu redor. Entendia tudo, mas não queria responder. Não queria falar. Só pensava em ir para o céu.

(...)

A casa foi-se vestindo de silêncio como se a morte tivesse passos de seda. Não faziam barulho. Todo mundo falava baixo.
Mamãe ficava quase toda a noite perto de mim. E eu não me esquecia dele. Das suas risadas. Da sua fala diferente. Até os grilos lá fora imitavam. o réquete, réquete da sua barba.

Não podia deixar de pensar nele. Agora sabia mesmo o que era a dor. Dor não era apanhar de desmaiar. Não era cortar o pé com caco de vidro e levar pontos na farmácia.
Dor era aquilo, que doía o coração todinho, que a gente tinha que morrer com ela, sem poder contar para ninguém o segredo. Dor que dava desânimo nos braços, na cabeça, até na vontade de virar a cabeça no travesseiro.

(...)

Para ele o pezinho de laranja é gente. É um menino muito estranho. Muito sensível e precoce.
Eu ouvia tudo e continuava desinteressado de viver. Queria ir pro céu e ninguém vivo ia para lá.

(...)

Espie, Zezé. Você precisa ficar bom e ir cantar mais eu. Quase não tenho vendido nada. Todo mundo pergunta. Ei, Arlovaldo, cadê o teu canarinho? Você promete que vai ficar sãozinho, promete?

(...)

? Não chore, Gum. Tudo isso vai passar. Se você quer, eu dou minha mangueira todinha para você. Ninguém nunca vai mexer com ela.
Mas de que me servia uma mangueira velha, sem dentes, que não sabia mais dar manga? Até meu pé de Laranja Lima logo, logo perderia o encanto e tornar-se-ia uma árvore como outra qualquer... Isso se dessem tempo ao pobrezinho.
Como era fácil para uns morrer. Era só vir um trem malvado e pronto. E como era difícil para mim ir para o céu. Todo mundo estava segurando minhas pernas para eu não ir.

A bondade e dedicação de Glória conseguiam fazer que eu chegasse a conversar um pouco. Até Papai deixou de sair de noite.

Totoca emagreceu tanto de remorso que Jandira chegou a lhe dar um carão.
? Já não basta um, Antônio? ? Você não está no meu lugar para sentir. Fui eu que contei para ele. Ainda sinto na barriga, até quando estou dormindo, o rosto dele chorando, chorando...
? Agora não vá você chorar também.

(...)

? Godóia, já é de tarde? ? Quase de tarde, coração.
? Você quer abrir a janela? ? Não vai doer sua cabeça? ? Acho que não. A luz entrou e via-se uma nesga de céu lindo.
Olhei o céu e de novo comecei a chorar.
? Que é isso, Zezé? Um céu tão lindo, tão azul que o Menino Deus fez pra você.
Ele me disse isso hoje...
Ela não entendia o que o céu significava para mim.

(....)

? Sabe, Godóia, eu não quero mais. Se eu ficar bom, vou ser ruim de novo. Você não entende. Mas eu não tenho mais para quem ficar bonzinho.
? Pois não precisa ficar tão bonzinho. Seja menino, seja criança como sempre foi.
? Pra que, Godóia? Pra todo mundo me bater muito? Pra todo mundo judiar de mim?...
Ela pegou meu rosto entre os dedos e falou resoluta: ? Olhe, Gum. Eu juro para você uma coisa. Quando você ficar bom, ninguém, ninguém, nem mesmo Deus, vai botar as mãos sobre você. Só se passarem antes sobre o meu cadáver. Você acredita? Fiz um hum afirmativo.
? Que é que é cadáver? Pela primeira vez o rosto de Glória se iluminou de uma grande alegria. Deu uma risada, porque sabia que eu me interessando por palavras difíceis estava novamente querendo viver.
? Cadáver é mesmo que morto, que defunto. Mas não falemos disso agora que não é conveniente.
Também achei melhor, mas não podia deixar de pensar que ele já era cadáver há muitos dias. Glória continuava falando, prometendo coisas mas eu pensava agora nos dois passarinhos, o azulão e o canarinho. O que fariam com eles? Podia ser que morressem de tristeza como no caso do avinhado de Orlando Cabelo de Fogo. Talvez abrissem a porta da gaiola e dessem liberdade a eles. Mas isso seria o. mesmo que a morte. Eles não sabiam mais voar. Ficavam bobinhos parados nos pés de laranja até que a meninada acertasse neles com atiradeiras.

(...)

? Se eu der mais tarde, você toma? E a frase veio aos borbotões sem que eu pudesse me controlar: ?Prometo que fico bonzinho, que não brigo mais, que não falo mais palavrão, nem bunda mais eu digo... Mas eu quero ficar sempre junto de você"...

Na vida tudo passa.

[...]

Depois do café, sob o olhar feliz de Glória, nós fomos saindo de mãos dadas para o fundo do quintal. Glória encostou-se na porta aliviada. Antes de chegar ao galinheiro, virei-me e dei adeus para ela. Nos seus olhos brilhava a felicidade. Eu na minha estranha precocidade adivinhava o que se passava em seu coração: ?Ele voltou para os seus sonhos, graças a Deus!? ? Zezé...
? Hum.
? Cadê a pantera negra? Era difícil recomeçar tudo sem acreditar nas coisas. A vontade era contar o que de fato existia. ?Bobinho, nunca existiu pantera negra. Era apenas uma galinha preta e velha, que eu comi numa canja?.
? Só ficaram as duas leoas, Luís. A pantera negra foi passar as férias na selva do Amazonas.
Era melhor conservar a sua ilusão o mais possível. Quando eu era criancinha também acreditava naquelas coisas.
O Reizinho arregalou os olhos.
? Ali naquela selva? ? Não tenha medo. Ela foi tão longe que nunca mais vai acertar o caminho da volta.
Sorri com amargura. A selva do Amazonas era apenas meia dúzia de laranjeiras espinhudas e hostis.
? Sabe, Luís, Zezé está muito fraco, precisa voltar. Amanhã a gente brinca mais.
De bondinho de Pão de Açúcar e do que você quiser.
Acedeu e começou a voltar devagarzinho comigo. Ele ainda era muito pequeno para adivinhar a verdade. Eu não queria chegar perto do valão ou do Rio Amazonas. Eu não queria deparar com o desencanto de Minguinho. Luís não sabia que aquela flor branquinha tinha sido o nosso adeus.

(Não tenha medo. Ela foi tão longe que nunca mais vai acertar o caminho da volta.)

[...]

Papai me pegou pela mão e diante de todos me sentou no colo.
Balançou devagar a cadeira para que eu não ficasse tonto.
? Tudo passou, meu filho. Tudo. Você um dia vai ser pai e vai também descobrir como são difíceis certos momentos na vida de um homem. Parece que nada dá certo, provocando um desespero interminável.

(...)

?Que quer esse homem que me pega no colo?? Ele não é meu pai. Meu pai morreu. O Mangaratiba matou ele.
Papai tinha me seguido e viu que os meus olhos se encontravam de novo molhados.
Quase se ajoelhou para falar comigo.
? Não chore, meu filho. Nós vamos ter uma casa muito grande. Um rio de verdade passa bem atrás. Grandes árvores e tantas, que serão só suas. Você pode fazer, armar balanços.
Ele não entendia. Ele não entendia. Nenhuma árvore deveria ser tão linda na vida, como a Rainha Carlota.
? O primeiro a escolher as árvores, será você.
Olhei os seus pés, os dedos saindo dos tamancos. Ele era uma velha árvore de raízes escuras. Era um pai-árvore. Mas uma árvore que eu quase não conhecia.

(...)

A CONFISSÃO FINAL

OS ANOS SE PASSARAM, meu caro Manuel Valadares. Hoje tenho quarenta e oito anos e às vezes na minha saudade eu tenho impressão que continuo criança. Que você a qualquer momento vai me aparecer me trazendo figurinhas de artista de cinema ou mais bolas de gude. Foi você, quem me ensinou a ternura da vida, meu Portuga querido.
Hoje sou eu que tento distribuir as bolas e as figurinhas, porque a vida sem ternura não é lá grande coisa. Às vezes sou feliz na minha ternura, às vezes me engano, o que é mais comum. Naquele tempo. No tempo de nosso tempo, eu não sabia que muitos anos antes, um Príncipe Idiota ajoelhado diante de um altar perguntava aos ícones, com os olhos cheios d'água: ?POR QUE CONTAM COISAS AS CRIANCINHAS" A verdade, meu querido Portuga, é que a mim contaram as coisas muito cedo.

Adeus!

Ubatuba, 1967
13marcioricardo 30/04/2022minha estante
Livrinho bom ?


Joao.Lucio 30/04/2022minha estante
Nossa, quando li este você certamente nem era nascida!


Thami Zambrano 30/04/2022minha estante
Belíssimo livro.


Marcelo 30/04/2022minha estante
Estava pensando em reler este livro. Bons tempos e história cativante heheheh


Alane.Sthefany 30/04/2022minha estante
13marcioricardo,

Sim, muito bom !!! ???


Alane.Sthefany 30/04/2022minha estante
Joao.Lucio,

Eu também acho, nasci nos anos 2000 ?

Eu amo esse poder que o livro tem, de conectar gerações.

???


Alane.Sthefany 30/04/2022minha estante
Thami Zambrano,

Nossa, eu tbm amei ???


Alane.Sthefany 30/04/2022minha estante
Marcelo,

Pode reler, eu também pretendo, tenho certeza que a experiência será totalmente nova e gratificante.


Não sei se todos vocês (que comentaram) assistiram o filme também, caso não assistiram, eu super indico.

A experiência é incrível, quando já leu e teve primeiramente o contato com o livro, para depois ter contato com a adaptação.

Fiquei chorando quase o filme inteiro, kakakakakaka ???


Guga 01/05/2022minha estante
Está na minha lista esse livro ????


Alane.Sthefany 01/05/2022minha estante
Guga,

Acredito que você vá gostar.

Depois de ler o livro, recomendo que assista o filme. Muito bom !!!


Vamlirynna 04/05/2022minha estante
Fiquei curiosa ?


Vamlirynna 04/05/2022minha estante
Foi para a lista ??


Raimundo.Sales 16/05/2022minha estante
Qunando eu estudava o primario sempre liamos muitos textos esparsos dessa linda! Ja o inclui na minha lista de leituras ? daqui do nosso maravilhoso SKOOB


Alane.Sthefany 16/05/2022minha estante
Raimundo,

Espero que goste, recomendo após a leitura, que você assista o filme, muito bom.


Thais645 26/06/2022minha estante
Sou louca para ler esse livro. Infelizmente, ainda não conheço a história.?


Victor108 31/08/2023minha estante
Pessoal, tenho uma dúvida. Quem seria Dorival Lourenço da Silva??? Acho que não prestei atenção.




Lara.Bia 12/03/2021

Esse livro me destruiu. Eu nunca chorei tanto, amei!
Zezé é um menino de cinco/seis anos, que aprendeu a ler sozinho. Muito arteiro, era conhecido no bairro como "cria do diabo", sendo constantemente e severamente castigado pela sua família por conta das suas travessuras. Mas quando continuamos a ler a narrativa percebemos que ele é apenas uma criança negligenciada que quer chamar a atenção e receber amor e carinho.
A família é muito pobre, e sendo um de vários irmãos, começa a trabalhar cedo para ajudar. Me partia o coração sempre que o Zezé falava que era um demônio, pois na cabeça dele era a única explicação de não ganhar nenhum presente do Papai Noel no natal. A amizade que ele criou com o laranjal é muito tocante, já que foi a maneira que ele criou para aplacar a solidão, dando vida e falas para o pé de laranja lima. Poucas pessoas o defendiam e o enxergavam por dentro, quero dar esse merecimento para a Glória e para o Portuga . Que final triste, a minha única vontade era de dar um abraço apertado no Zezé! Que história incrível!
Aryana 13/03/2021minha estante
O livro que eu mais chorei na vida. E só de lembrar, meus olhos enchem de lágrimas. ??


Lara.Bia 13/03/2021minha estante
Com certeza foi um daqueles livros que você leva para a vida toda!


Roneide.Braga 13/03/2021minha estante
Geeente, eu não conhecia ???


Junior.Silvestre 13/03/2021minha estante
Ual! Que resulmo incrivel. Fiqueo com vontade ler ele.


Lena 13/03/2021minha estante
É um dos meus favoritos ?


Rebeca 14/03/2021minha estante
Chorei tanto com esse livro!


Letschmitz 15/03/2021minha estante
Achei que fosse desmachar em lágrimas


Clemente 27/03/2021minha estante
O li devia ter uns 10/12 anos, inesquecível e de destroçar o coração de uma criança. Ficamos a procurar nossos Portugas.




rfalessandra 29/03/2024

A simplicidade do Zezé é encantadora, mas o contexto da realidade da pobreza e a forma escancarada de como a sociedade trata crianças com inferioridade, é de partir o coração. O livro é lindo e nos faz refletir sobre a educação que damos as crianças.
Livinha 03/04/2024minha estante
Gostei da resenha ??
Botei na minha lista?


Ell_Marcelle 04/04/2024minha estante
Estou querendo comprar. Ou pegar no Kindle




sara sharon 06/02/2024

Adeus meu velho portuga...
Queria entender porque esse livro era tão amado, não estava dando nada por ele e cá estou eu com lágrimas nos olhos depois de terminar essa obra prima...
Sanchez 06/02/2024minha estante
Perfeito


cs_g_ilson 06/02/2024minha estante
O quanto eu chorei com esse livro não está escrito.


Sara277 06/02/2024minha estante
Chorei horrores quando li esse livro, mas tbm gostei muito dele


Ocrecio 06/02/2024minha estante
só vi o filme até então, chorei igual a um bebê. Preciso ler!


Manu 06/02/2024minha estante
Tô doida pra ler mas não acho em lugar nenhum pra mandar pro Kindle



Bruna1178 06/02/2024minha estante
Pensei em ler mas tenho medo do quão triste posso ficar




lonelvs 14/01/2024

A vida sem ternura não é lá grande coisa
O meu pé de laranjeira lima é muito emocionante e comovente. não pude deixar de simpatizar com Zezé, uma criança tão doce e inteligente. amei o livro com essa narrativa sensível, quis a todo custo proteger zezé. to desidratada, não sei se vejo as continuações .
Marcelo Leite 15/01/2024minha estante
Este livro tem continuação? Puxa, não sabia.


lonelvs 15/01/2024minha estante
tem sim, pouca gente sabe kk é o "doidão" e "vamos aquecer o sol" que retratam as aventuras de Zezé na juventude e adolescência. dizem que são ótimos tb


Marcelo Leite 15/01/2024minha estante
Que legal! Vi o Doidão na Amazon agora. O capa dura está 485 reais


lonelvs 15/01/2024minha estante
bem baratinho??


Fê. 15/01/2024minha estante
Esse tá na minha lista! ??


Sam Dias 15/01/2024minha estante
Amo de paixão esse livro, apesar de ter sofrido muito lendo as coisas que o Zezé passava




Rosangela Max 21/01/2022

Uma obra-prima que transborda emoção por todos os lados.
Dificilmente choro nas minhas leituras, por mais tristes e sofridas que elas sejam, mas essa aqui me emocionou de um jeito que foi impossível não chorar.
A história de Zezé é comovente demais. Tanta ingenuidade, malandragem, tristeza e miséria. Ressoa demais com a história da maioria dos brasileiros que cresceram enfrentando dificuldades semelhantes. Inclusive a do próprio autor.
Por falar em autor, que pena que ele não recebeu todo o incentivo e reconhecimento que merecia. A escrita dele é pura magia!
Primeira ?nota 5? do ano. Entrou para os meus livros favoritos.
Leitura super recomendada.
Carlinha 21/01/2022minha estante
É lindo!


CPF1964 21/01/2022minha estante
?????


rana.castillo 21/01/2022minha estante
ahh, eu adoro ?


Jess 22/01/2022minha estante
Esse livro é perfeito


Otávio 22/01/2022minha estante
É muito raro eu me emocionar muito com um livro. Mas esse aí me deixou arrasado o resto do dia quando eu terminei de ler. Clássico nacional que deveria ser mais reconhecido. Recomendo ler Rua Descalça do mesmo autor se já não leu


Rosangela Max 22/01/2022minha estante
Essa história é emocionante mesmo.

Ainda não li ?Rua Descalça.? Pretendo ler as continuações da história do Zezé primeiro, que são: ?Vamos aquecer o Sol? e ?Doidão?. ??




Lyvia Dubuc 19/01/2022

Sorri e chorei
Um livro que ensina. Mesmo pra mim com quase 30 anos o quão importante é o olhar de uma criança? fiquei com um aperto do coração depois que terminei.
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Gigicolombo 19/03/2024

Emocionante
Esse livro marcou a minha infância e tive que reler novamente. Traz tantas emoções e questionamentos que você devora o livro muito rapidamente. Não posso falar mais para não entregar o conteúdo mas com toda certeza todo mundo deve ler
KessyCosta 19/03/2024minha estante
Esse livro é lindo! Li quando era pré-adolescente. ??


Nath 19/03/2024minha estante
Chorei tanto lendo esse livro ?




Deivid53 01/02/2024

Poesia!
Poesia

"A vida sem ternura não é lá grande coisa. Às vezes sou feliz na minha ternura, às vezes me engano, o que é mais comum."

Poesia!!! Esse livro é poesia pura!!! Que livro lindo!!!
Sei que trata-se de um clássico nacional, mas confesso que não conhecia a história e é simplesmente emocionante.
Conta a história do Zezé, um menininho de "6" aninhos, incompreendido pela família, com uma imaginação sem limites e muito carente de ternura.
Acredito que por mais que eu fale, não conseguirei expressar o que senti ao ler esse livro, o quanto ele me encantou e o quanto me emocionei.
O meu pé de laranja lima foi favoritado, eu indico com toda certeza e foi uma das melhores leituras desse ano.
Eujps 01/02/2024minha estante
Eu me apeguei nesse livro de uma forma que já presenteei muitos amigos com ele!! Simplesmente encantador!


Fernanda 01/02/2024minha estante
Ele é maravilhoso ??


Ma Ju 01/02/2024minha estante
Esse livro é lindo demais ?


Araujo20 01/02/2024minha estante
Impossível não amar o Zezé ??


its ranna 01/02/2024minha estante
Esse é o tipo de livro que a gente compra e deixa "esquecido" em um local público pra tocar outra vida e esperar que ela faça o mesmo pra tocar outra pessoa ??????




Readhim 19/01/2021

Agora, sabia mesmo o que era dor.
Início - 4
Desenrolar - 5
Personagens - 5
Escrita - 5
Conclusão - 5

A história de um menino chamado Zezé que ficará guardada comigo para sempre. Um livro que vai te fazer relembrar a inocência da infância, mas principalmente a de um menino que acredita merecer coisas ruins por ter "o diabo no corpo", apenas por ser travesso. No final dessa história, me faltaram lágrimas para expressar toda a dor que passei junto de Zezé.
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leashy loo 31/07/2023

isso aqui é ELITE
Me apaixonei pela história e pelos personagens, a escrita é uma delícia de ler e o final me deixou completamente destruída!
virou um fav da vida, todo mundo devia ler isso aqui!!

minhas partes favs (spoiler??):

"-Não é isso, meu filho. Não é isso. A vida a gente não resolve assim de uma só manobra. Mas eu vou te propor uma coisa. Não poderei tirar-te dos teus pais nem da tua casa. Se bem que gostasse muito de o fazer. Isso não é direito. Mas de agora em diante, eu que gostava de ti como um filhinho, vou te tratar como se fosses mesmo o meu filho.
Eu me ergui exultante.
-Verdade, Portuga?
-Posso até jurar, como tu sempre dizes.
Fiz uma coisa que raramente fazia ou gostava de fazer com os meus
familiares. Beijei o seu rosto gordo e bondoso..."

"-E você disse que gosta de mim, não é?
-É.
-Então porque você não vai lá em casa e não pede para Papai me dar para você?
Ele ficou tão emocionado que se sentou e me segurou o rosto com as duas mãos.
-Tu gostarias de ser meu filhinho?
-A gente não pode escolher o pai antes de nascer. Mas se pudesse eu queria você."

"E eu não me esquecia dele. Das suas risadas. Da sua fala diferente. Até os grilos lá fora imitavam o réquete, réquete da sua barba. Não podia deixar de pensar nele. Agora sabia mesmo o que era a dor. Dor não era apanhar de desmaiar. Não era cortar o pé com caco de vidro e levar pontos na farmácia. Dor era aquilo, que doía o coração todinho, que a gente tinha que morrer com ela, sem poder contar para ninguém o segredo. Dor que dava desânimo nos braços, na cabeça, até na vontade de virar a cabeça no travesseiro."

?'Que quer esse homem que me pega no colo?' Ele não é meu pai. Meu pai morreu. O Mangaratiba matou ele."

"-Já cortaram, Papai, faz mais de uma semana que cortaram o meu pé de Laranja Lima."

"Ele não entendia. Nenhuma árvore deveria ser tão linda na vida, como a Rainha Carlota."
Marina516 31/07/2023minha estante
Eu chorei tanto nesse livro!


leashy loo 31/07/2023minha estante
nossa eu tb, ele é incrível


Marina516 31/07/2023minha estante
Muitoooo




Andre.28 15/05/2020

Tão Simples e Tão Tocante
Algumas histórias tem o poder de nos encantar com uma linguagem simples e acessível, sem floreios ou firulas de enredo. Algumas histórias tem o poder de tocar os corações dos leitores com poucas frases, representações e palavras simples que emocionam justamente pela simplicidade. Em ‘O Meu Pé de Laranja Lima’ história escrita pelo jornalista e escritor José Mauro de Vasconcelos e publicada em 1967 temos essa simplicidade tocante em um enredo que demonstra a alegria de ser criança e as tristezas e pelas condições difíceis da vida de gente comum num país empobrecido. Um arquétipo da vida comum, que ri, que chora, que encanta pelo pensamento simples e carregado de afetividade, de amor sincero.

O enredo do livro é narrado em 1° pessoa pelo próprio protagonista: Zezé. Zezé é um garoto de quase seis anos de idade, muito esperto e travesso.A sua vida de garoto numa cidade pequena na época, aliada as travessuras e aventuras carregadas de imaginação e paraltice. Vivendo numa família numerosa, Zezé tem que lhe dar com a pobreza dele e dos irmãos, o amor que sente por uma de suas irmãs mais velhas (Glória), a judiação que sofre da própria família, a amizade com o seu pé de laranja lima Minguinho (ou Xuxuruca) e principalmente a relação de amizade com Manuel Alvares, o Portuga. Relações de amizade que criam uma aliança, criações lindas de afeto, momentos divertidos e reflexivos sobre a vida diante da pobreza, a infância que se mistura com as responsabilidades são a marca do relato. Simples, tocante.

José Mauro Vasconcelos percorre a sua própria infância, numa mistura de alter-ego com ficção, para relatar a vida simples e sofrida de garoto suburbano de Bangu, num período onde a pobreza apertava os calos e as convenções sociais pesavam mais do que o valor individual das pessoas. Zezé vem nos mostrar como a infância não nos impede de sonhar com um futuro melhor, a sofrer e sonhar na medida em que o mundo nos permite. É uma representação das responsabilidades precoces, o fato de ter que lhe dar com à perda da inocência e as dificuldades de crescer e ser quem é. O mundo do trabalho infantil, a forma totalmente diferente de educar uma criança.

O livro se tornou um clássico reconhecido mundialmente justamente por tocar em pontos sensíveis de uma forma simples, sem pretensões altas, sendo simplório, mas muito emocionante. Uma representação unificadora de uma infância, pontos interligados pela força da amizade, do amor, da necessidade de sermos quem nos realmente somos; com medos e coragens, conscientes da realidade, mas sem medo de sonhar. Zezé nos mostra nesse livro como a vida é simples, mas a gente teima em complicar. Vale mais a simplicidade tocante do que a complexidade insensível.
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Pedróviz 01/03/2021

Simples e inesquecível
O Meu Pé de Laranja Lima é a história do relacionamento de Zezé com sua família, vizinhos e amigos. Zezé tem uma forte empatia que definitivamente não é correspondida pelas pessoas mais próximas. Além disso, o destino o faz perder o único amigo que realmente se interessou por ele, o que acarretará uma ruptura muito precoce do véu da inocência. Da leitura do livro, constato que por mais problemas, por mais preocupações que os pais tenham em suas cabeças, sempre deve haver espaço para a ternura pelos seus filhos. Um fator para o grande sucesso do livro é sua simplicidade sem, contudo, perder a consistência. Cinco estrelas. Uma história simples e inesquecível.
Dan 01/03/2021minha estante
Dizem que é um livro de arrancar lágrimas! É verdade?


Pedróviz 01/03/2021minha estante
Para quem é mais sensível, arranca. Para quem se identifica com a história, também arranca lágrimas. Mas não é preciso derramar lágrimas para se estar emocionado com algo. Assim como Zezé cantava por dentro, há quem chore por dentro.




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