mpettrus 31/12/2020
A Literatura Mitológica Nortista de Um Escritor Amapaense
Andrew Oliveira é um jovem escritor nascido no seio da Amazônia brasileira na região norte do país. Essa informação é muito importante quando queremos entender o universo de sua literatura que apresenta traços de realismo mágico, mitologias e crenças e lendas, tais como as que permeiam a vida dos nortistas. Essas influências, certamente, contribuíram para o autor desenhar toda a narrativa de suas histórias.
Evidentemente, eu falo com mais propriedades sobre isso porque Andrew Oliveira é meu irmão caçula, então, meu contato com as suas criações e histórias vem desde de sua mais tenra idade. Para mim, é mais perceptível notar esses detalhes. E, sendo assim, creio que seja interessante passar essas informações para vocês.
“Vazio da Forma” foi uma história escrita em 2011, que ele resolveu resgatar em 2019 para lançar no mercado literário brasileiro em 2020. Ele fez umas correções, umas adaptações, modernizou algumas pautas, porém, a essência da história permaneceu intacta. E a sua narrativa também. A maneira como ele narrou a jornada de VDF ficou inalterada. Era como se o autor tivesse retornado a sua versão de 2011 para reescrever a história de Frey. Pois, de 2011 para 2019, sua maneira de narrar novas histórias foram mudando, foram evoluindo, o vocabulário foi se enriquecendo com o passar dos anos, as pautas que ele levanta também foram amadurecendo.
Autor queer, também explora de maneira contundente e responsável o universo LGBTQIA+ fugindo do lugar comum que a literatura de maneira geral apresenta aos leitores o universo da comunidade gay. Personagens que tem desenvolvimento e narrativas próprias, fogem das caricaturas, o autor humaniza de maneira crível as reações, dúvidas, questionamentos de suas personagens enquanto ser humano como qualquer outro personagem heterossexual, por exemplo. Essa normalidade é um frescor e um alento interessante na maneira de perceber essas personagens. A literatura, de maneira geral, precisa ter esse novo olhar e trazer à baila para nós leitores.
“Vazio da Forma” é uma história de depressão, perdas, culpas, melancolias, tristezas. Mas é, sobretudo, uma história de “voltar para casa depois de se perder de si mesmo”. E, em consequência disso, também é uma história de perdão e de paz.
A jornada de Frey é dolorida, doída, quase indigesta. Permeada de mitologia do universo criativo do autor como as Três Deusas, as Praias (que são personagens importantes nas histórias, pois elas guardam momentos cruciais que moldaram os destinos dos seus habitantes), em meio a esse caos, corações desolados, almas fragmentadas, o autor soube dosar de maneira equilibrada esses caminhos tortuosos com personagens extremamente carismáticos.
Minhas personagens favoritas são as crianças. A pequena Lírio, filha de Frey e Jacinto. E a inesquecível Freya, a irmã caçula de Frey.
O autor fez uma dedicatória no livro que marcou a minha vida: “Para o Michel, o primeiro que me leu”. O Michel sou eu, seu irmão mais velho. E no decorrer da leitura, eu entendi porque o autor dedicou especificamente para mim: foi por causa de Freya.
Freya é uma criança que nasceu com as orelhinhas deformadas tal qual as minhas orelhas. E tal como a minha mãe, a mãe de Freya, a dócil Lírio, teve rubéola na gravidez, resultando na consequência dessa deformidade.
Os medos, as angustias, os questionamentos de Freya foram todos os meus questionamentos quando fui criança. Hoje, adulto e mais centrado, meus medos da infância foram substituídos pelos medos da vida de agora.
E, sim, eu também queria ser engolido pela grande onda como Freya foi engolida. E ficar em paz no outro plano da vida, nos outros mistérios que permeiam a nossa existência.
Porém, Freya me fez compreender, que por agora, eu ainda permaneço por aqui. Mas aceito isso hoje de alma mais leve, resignada e em paz. Ela me ensinou a me perdoar.
Obrigado, Andrew Oliveira, por me salvar de mim mesmo mais uma vez. Eu te amo, Poder!