Eicross 25/03/2016
Sou cabra macho! - a ave que critica
Patativa do Assaré, o apelido que ganhou Antônio Gonçalves da Silva, aos vinte anos, em homenagem ao pássaro e à cidade de Assaré, no Ceará. Nascido em 1909, foi um cantor, compositor e improvisador, tentou vida no cordel e acabou por dedicar sua vida às artes da poesia. Perdeu o pai aos nove anos, assim teve que ajudar na roça para garantir o sustento da família e ficou simples seis meses na escola, que começou aos doze anos - e, neste tempo, aprendeu a ler! Comprou uma viola aos dezesseis e incrementou suas produções. Em 1956 escreveu seu primeiro livro, Inspiração Nordestina.
Nas notas do organizador nos é contada a dificuldade e os critérios para seleção: foram até Patativa para ver quais ele preferia, gesto mais que certeiro para o sucesso da composição do livro. Fiquei surpreso foi ao ver o nome de Olavo Bilac como autor de inspiração para uma obra do autor! Depois de uns nomes dados, Antônio começou a sugestionar que isso não era tarefa dele, como disse, é difícil escolher entre os filhos.
No primeiro poema, "O Poeta da roça", já nos é apresentada uma linguagem informal e curiosa do nordeste, coisa forte para os frescos aqui do sul, mas nada indecifrável. No início tive um certo receio devido à linguagem, li o início do segundo poema e pensei "ah, então era só no primeiro!", voltei a ler o primeiro, terminei de ler o segundo e me contentei: "é assim, então, que seja!"
Há um verso de O Poeta da Roça em que diz "Não tenho sabença, pois nunca estudei" e continua falando sobre o pai dele não ter tido dinheiro para ele estudar. Em "Meu verso rasterô, singelo e sem graça / Não entra na praça, no rico salão / Meu verso só entra no campo e na roça / Nas pobre paioça, da serra ao sertão" fala sobre seu público-alvo, a população mais humilde.
Meu favorito do Inspiração Nordestina foi "Chiquita e Mãe Véia", em que achei que fossem se separar, mas outra coisa aconteceu e me chocou muito. Já "A escrava do dinheiro" tem fim previsível e, em ambas, trata do amor e faz uma reflexão sobre a vida, tendo um desenvolvimento simples, mas maravilhoso.