Discurso sobre as ciências e as artes

Discurso sobre as ciências e as artes Jean-Jacques Rousseau




Resenhas - Discurso sobre as ciências e as artes


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João Pedro 24/01/2024

As ciências e as artes corrompem os costumes?
"Povos, sabei, pois, uma vez, que a natureza nos quis preservar da ciência assim como a mãe que arrebata uma arma perigosa das mãos do seu filho; que todos os segredos que ela vos esconde são tantos males dos quais vos preserva, e que a dificuldade que encontrais para vos instruirdes não é o menor dos benefícios. Os homens são perversos; seriam ainda piores, se tivessem tido a desgraça de nascer sábios."

Com um discurso recheado de possíveis citações, Rousseau convida a sociedade do meio do século XVIII, no berço da modernidade e do iluminismo, a refletir sobre como a ciência e as artes levariam à corrupção dos costumes, afastando a população do caminho virtuoso. Não só por ser um discurso, mas pela própria posição do autor, não há a pretensão de criar um sistema filosófico que defenda essa posição, mas trazer diversos exemplos históricos curtos (a maioria, de difícil compreensão para nós) de como a ciência e a arte estavam associadas à ostentação, depravação, fraqueza, empobrecimento da alma e ausência/afastamento da religiosidade. Ao final, o autor parece sugerir uma posição menos radical do que as acusações que vão surgindo ao longo do discurso parecem sugerir, defendendo um relacionamento mais harmônico entre a virtude, a ciência, a filosofia e a arte, de forma que elas encontrem a sua face "verdadeira", quase com uma posição socrática. Apesar do discurso ter vários pontos controversos - pode-se pensar se são realmente virtudes aquelas elencadas -, ele é bem interessante, pela articulação e por sua pretensão.
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Me deparei com esse discurso durante um curso sobre a modernidade. Abaixo deixo algumas citações que achei interessante:

"Se as nossas ciências são vãs nos objetivos que se propõem, são ainda mais perigosas pelos efeitos que produzem."

"E que se tornará a virtude, quando se precisar enriquecer a qualquer preço? Os antigos políticos falavam, sem cessar, de costumes e de virtude: os nossos só falam de comércio e de dinheiro."

"Que fará ele, senhores? Rebaixará seu gênio ao nível do seu século e preferirá compor obras comuns, que se admirem durante a sua vida, a maravilhas que seriam admiradas muito tempo depois de sua morte."

"Se é necessário permitir que alguns homens se entreguem ao estudo das ciências e das artes, que sejam exclusivamente os que se sentem com forças para caminhar sós sobre as suas pegadas e ultrapassá-las; é a esse pequeno número que cabe levantar monumentos à glória do espírito humano"
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Marcos606 25/07/2023

Esta, sua primeira obra importante, um ensaio premiado pela Academia de Dijon intitulado Discours sur les sciences et les arts (1750; Um discurso sobre as ciências e as artes), no qual ele argumenta que a história da vida humana na Terra tem sido uma história de decadência.

Seu tema central viria a informar quase tudo o mais que Rousseau escreveu. Ao longo de sua vida, ele voltou ao pensamento de que as pessoas são boas por natureza, mas foram corrompidas pela sociedade e pela civilização. Ele não quis sugerir que a sociedade e a civilização são inerentemente más, mas sim que ambas tomaram uma direção errada e se tornaram mais prejudiciais à medida que se tornaram mais sofisticadas.
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Julhaodobem 15/02/2023

Rousseau Artístico
O mundo atualmente esta cheio de ideias e teorias que ditam como vivemos e enxergamos o outro, por meio disso as artes fazem um papel importante na construção do que é ser cidadão em um mundo onde a ciência e a arte constroem uma sociedade, com suas vontades e perspectivas de viver em uma humanidade que pertence aos estudos, ou pelo menos é o que algumas comunidades pensam. Hoje pensar em ciências e artes é pensar um tema que é ambíguo entre vários grupos sociais e também foi assim no passado.

Este foi o pensamento inicial que tive ao ler Discurso sobre as ciências e as artes escrito por Jean- Jacques Rousseau publicado em 1750, com o tema proposto pela academia de Djon com a seguinte frase: se o restabelecimento das ciências e das artes contribuiu para purificar os costumes. Este foi o primeiro discurso publicado pelo filosofo mas antes já tinha lido o seu segundo, O Discurso da origem da desigualdade entre os homens, no qual é muito mais extenso em sua filosofia de vida. Aqui nas ciências e nas artes o tema é a discussão filosófica se as artes e as ciências ajudaram o homem ou apenas o prejudicaram com o seu estado de natureza e consequentemente ao longo da historia serviu apenas para conseguir o fim da humanidade.

A resposta por mais que existam alguns acadêmicos que devam falar que Rousseau tenha proposto mais de uma visão para o tema do texto, isto já é algo a se refletir atentamento durante a leitura do texto. Digo isso pois em todo o tratado é usado em alguns momentos a maiêutica, um método criado pelo filosofo Sócrates como um jogo de dialética de perguntas e repostas que fazem novas perguntas, entrando desta maneira em um ciclo de discussão que parece trazer o leitor para ser ouvido mas que no fim é uma forma concreta de construir um texto com perguntas que fazem o autor responder por si mesmo, criando uma narrativa interessante para ser debatida e refletindo filosoficamente perante o leitor.

Assim, ao longo do texto vemos o autor se auto perguntar e logo dando uma resposta as suas perguntas. Inicialmente ele se coloca que sim, as artes purificaram a humanidade mas depois indo para o final do texto ele mesmo entra em contradição com si mesmo mas que consegue se esconder nas asas da maiêutica sem perder o seu tema discursivo que procedeu no ganho pela academia de Djon. Algo que logo depois descobrimos que na verdade sua primeira resposta estava certa, a arte e a ciência não estragaram os homens mas sim seus vícios.

Uma característica que existe nos textos clássicos é esta incansável referencia a períodos históricos antigos, como a Grécia, a Roma e o Egito, criando uma historia que conecta com o tema proposto enquanto conta um momento destes impérios. Isto acontece até hoje nos textos contemporâneos de sociologia e filosofia, mas que se perderam com as referencias históricas com um linguajar muito elitista e restrito a uma pequena parcela de acadêmicos privilegiados na literatura, deixando os termos compostos de palavras muito acadêmicas que no fim também afastam a própria sociedade das universidades publicas no pais. Com isso Rousseau apresenta em seu texto as induções históricas que é a camada importante do bolo, contando o porque dos vícios daqueles países aumentaram e seus costumes, dando aos poucos uma resposta ao leitor.

O Discurso entre as ciências e as artes de Rousseau no fim é uma grande magna de reflexão filosófica para fazer refletir quem o lê, mesmo sendo um texto curto e cheio de referências da Historia, é um texto que faz refletir até onde podemos ir com a ciência e a arte. Como um reflexo tentando ligar com a geração que vivemos hoje, seria interessante que se formulasse uma nova proposta atualmente para os acadêmicos escreverem este texto, só que agora relacionado com o impacto da tecnologia entre as ciências e as artes, seria isto um bom momento para a humanidade ou um desastre total?, esta vou deixar para vocês, leitores assíduos responderem.
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Wesley Santos 01/05/2020minha estante
Mesmo assim, acha que vale a leitura?


Victor.Hugo 01/05/2020minha estante
Sim. Acredito que, uma vez que é um texto curto e relativamente claro, deve ser lido: até pra que se possam tirar outras conclusões..
Abçs




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TalesVR 28/06/2019

Investigação socrática na França do Século XVIII
O estilo de Rousseau nesse discurso lembra muito os diálogos platônicos de Sócrates, uma constante investigação da verdade tendo a humildade como princípio. É curto, é básico, te instiga a enxergar sempre o Belo, e é isso. Não existem respostas prontas e sim provocações que o leitor é quem tem que responder, e não o autor. Não chega lá a ser uma crítica artística de grande peso mas sim, tem lá sua importância para que possamos ter uma visão pelo menos crítica da Arte e da Ciência: um constante o quê e por quê? Não como um dado, mas como um construído.
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Rangel 01/02/2019

Um discurso contra as aparências
A obra prima “O discurso sobre as ciências e as artes” do filósofo de Jean-Jacques Rousseau, premiado em 1750 na Academia de Dijon, faz toda uma retórica discursiva sobre circunstâncias individuais e coletivas para o restabelecimento das ciências e das artes na possibilidade de aperfeiçoar os costumes, mas que na verdade, contribuíam para o estado de dissolução moral em que se encontrava a sociedade francesa. Rousseau fez uma autocrítica de ser uma celebridade, pois o máximo pode ser um medíocre, pois a infelicidade desdobra com perseguições injustas. Enfatiza-se no discurso as questões morais sem sutilezas metafísicas, pois o que importa são as verdades para a felicidade do gênero humano. A felicidade, segundo Rousseau, associa-se à virtude como Aristóteles tinha estudado sobre a ética. Aristóteles estuda a felicidade como virtude, mas Rousseau procura mostrar que as ciências e as artes se desvirtuam da sua origem para serem positivas em si mesmas, pois a astronomia nasceu da superstição, a eloquência nasceu da ambição, do ódio, da adulação e da mentira; a geometria nasceu da avareza; a física nasceu da curiosidade infantil; a moral nasceu do orgulho humano, e as ciências e as artes nascerem nos vícios humanos. E isso é um mal-estar que introduz o homem na história, quando fora selvagem, de acordo com a natureza, não teria experimentado os males da civilização. E o estado natural humano é o verdadeiro Éden no mundo o que então percorre a ideia do movimento iluminista, no sentido de libertar o indivíduo das trevas da ignorância, da superstição e da tirania política. A obra de Rousseau demonstra sua descrença na civilização, não via com entusiasmo as luzes da razão na sua época, pois ele observava a cultura dos falsos valores, baseados na aparência, pois o ser e o parecer se confundiam.
Rousseau evoca Sócrates que foi vítima de ofensas de juízos alheios, com zombaria e desprezo, sendo sentenciado à morte por mostrar a verdade.
O livro é uma obra formidável e marco do iluminismo francês que abrilhantou Jean Jacques Rousseau como grande filósofo do seu tempo. Sua ironia e acidez aos costumes foi uma crítica a mentalidade da sua época que muitos ostentavam mais as aparência do que a essência das pessoas. Para quem gosta e ama filosofia, o livro é totalmente recomendável para uma excelente leitura.
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Bruna 01/08/2013

Resumo
Em pleno iluminismo, ele ia contra a corrente. Ao invés de emancipação e tomada de responsabilidade era obrigação e leis vindas de fora.

-A natureza colocou o homem na escuridão e a razão o trouxe a luz, mesmo assim ele não perde a cabeça e seu ego não infla por causa disso. Ele se auto-analisa e sabe de suas obrigações.-esse é o homem ideal iluminista à moda Roussoniana.

A sociedade grega é a ideal para Russeau. Era uma sociedade com regras e principios. Os homens tinham virtudes, eram pobres,estavam mais perto da natureza, eram guerreiros rústicos, ou pensadores autodidata e até inocentes, nada de ruim tinha ainda lhes corrompido. O ser humano era visto mais pela função/atuação na sociedade, eram mais cidadãos. A vida era assim e estavam satisfeitos só com isso.

Mas aí veio o iluminismo com as ciências e as artes. Ele diz que as duas são necessidades artificiais que levam a sociedade à um confinamento e alienação. Nessa nova cultura o comportamento rustico, que julgava ser o correto, foi sendo substituido por gostos mais refinados e isso tira o homem do caminho que era dele, da sua própria receita de vida. Todos no mesmo molde, uma roupagem de pessoa civilizada do iluminismo. Isso acaba trazendo problemas sociais, pois se não é mais sincero, a relação é artificial. Crimes e caos também estão associados, porque as ciencias e as artes são agitadoras colocam as normas e valores em jogo. Ele diz que elas tem origens em nossos vícios. (sou artista e sou foda). No final as duas só servem para criar distância entre as classes. Elas vão acabar destruindo tudo o que virá depois.

No final ele faz uma exceção. Só quem pode mexer com ciências e artes é o autodidata, e provavelmente não vão se enfeitiçar com as tentações dos vícios aprendidos nas escolas dos saberes.
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