Luuanda

Luuanda Luandino Vieira




Resenhas - Luuanda


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Helen 12/07/2020

LUUANDA: oralidade e identidade
A obra "Luuanda: estórias", escrita por José Luandino Vieira, foi redigida entre os anos de 1963 e 1964 no cárcere, quando o autor esteve detido pela PIDE - Polícia Internacional de Defesa do Estado -, que na época era a responsável pela repressão de todas as formas de oposição ao regime colonial português imposto na Angola. O livro traz três contos narrados em terceira pessoa que retratam a vida dos moradores dos musseques de Luanda, mostrando as dificuldades vividas por eles dentro da realidade repleta de tensão entre a sociedade colonial e a sociedade angolana. São eles: "Vavó Xíxi e seu neto Zeca Santos"; "Estória do ladrão e do papagaio"; e "Estória da galinha e do ovo".

O primeiro conto traz a história de Zeca Santos, um rapaz desempregado que vive com sua avó, a Nga Xíxi. Os personagens vivem numa situação de miséria, na qual se veem na obrigação de comer raízes encontradas no lixo de outras pessoas para se alimentar. Mesmo assim, Zeca ainda almeja encontrar a felicidade ao lado de sua amada Delfina.

O segundo conto é o mais longo da obra, apresentando um trio de amigos: Lomelino dos Reis, Garrido Fernandes e João Miguel. O ponto de partida é a prisão de Lomelino, que foi apreendido com patos roubados, mas no decorrer da narrativa, os outros personagens são apresentados com seus próprios conflitos, e a introdução de Garrido e o roubo do papagaio Jacó dá início a essa explicação.

A terceira estória traz o conflito entre duas vizinhas, Nga Bina e Nga Zefa, a respeito da posse de um ovo posto no quintal de uma e a galinha era da outra, respectivamente. As protagonistas e um conjunto de mulheres tentam encontrar alguém que possa decidir a situação, mas acabam sempre se deparando com uma terceira pessoa que deseja o ovo para si.

Enquanto esteve preso, José Luandino teve contato com o livro "Sagarana" de João Guimarães Rosa que transformou a forma em que havia pensado escrever seus contos, propondo para a sua escrita um lugar de destaque para a oralidade. Destacada pela mistura de sentenças tanto na Língua Portuguesa, quanto no quimbundo (língua do grupo Bantu), mostra a influência do colonizador sobre os moradores dos musseques, mas também a força de sua identidade, que mesmo diante de um cenário de repressão de sua cultura, ainda conseguem mantê-la viva. Esses sinais de oralidade estão presentes não apenas nas falas dos personagens, mas na própria narração.

Confesso que não esperava me envolver tanto na história. Pela primeira vez li uma obra angolana e com o português de Portugal. Senti um pouco de dificuldade de entender as frases no início, mas conforme continuei a leitura essa compreensão foi cada vez mais abrangente. É evidente que as características literárias de José Luandino são incríveis, o autor usa uma linguagem poética para descrever cenários, situações e sentimentos, o que me deixou tocada em muitos momentos diante da miséria e preconceito num ambiente de colonização portuguesa, fatos que infelizmente não deixam de ser assuntos atuais.

Os personagens de modo geral, principalmente nos dois primeiros contos, embora não tenham sido descritos com detalhes, possuem sentimentos palpáveis que nos fazem reconhecer suas características. O autor não nos diz quem os personagens são, ele nos mostra.

Apesar de ser uma obra importante para a literatura, é necessário haver um conhecimento prévio sobre o contexto em que foi redigida, já que muitas informações quando desconhecidas, podem prejudicar o aproveitamento completo da leitura para quem não tem conhecimento da história colonial da Angola. Claro que você pode ler sem essas informações, mas a experiência fica mais interessante entendendo o contexto.
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Menezes 02/11/2009

Complexidade velada
Ao ganhar a independência a custo de muito sangue, a imprensa entrevistou Luandino perguntando se agora o povo angolano voltaria a falar e escrever em quimbundo, Luandino respondeu que a língua portuguesa seria o troféu de guerra. Luandino está para Machado de Assis no desenvolvimento da literatura angolana tal como ela é hoje, e este é seu livro mais significativo, seu domínio da linguagem é indiscutível. O livro escrito entre 1962-63, enquanto o autor esteve preso, ganhou um grande prêmio de incentivo à cultura em 1963, e menos de um dia depois a polícia aprendeu a comissão julgadora do evento e proibiu a circulação do livro, que a partir daí teve sua fama feita e a circulação clandestina competia com Jorge Amado e Graciliano Ramos, igualmente proibidos na Angola portuguesa. O livro só conseguiu ser publicado em Portugal em 1973 (ironia), ou seja após a queda de Salazar, o ditador poe excelência, e também recebeu grandes prêmios literários para logo depois ser publicado em Angola ao grande publico já liberto e com a fama de clássico antes mesmo das pessoas ao qual o livro se dirige conhecerem a obra.
Para aqueles que adoram ler livros que causam polêmica este seria um prato cheio, mas é bom tomar cuidado para não terminar a leitura e não entender porque este livro foi tão censurado e nem pensar a respeito. Luuanda é um grande livro que basicamente traz três estórias: O relacionamento entre uma avó e seu neto durante um dia inteiro em que a fome os assola e o menino não consegue achar emprego, uma caso de roubo de patos e papagaios (?) que termina com os praticantes do crime presos e uma disputa de duas vizinhas a respeito de um ovo. A primeira história é mais tocante, a segunda é confusa e e engraçada, a terceira engraçada e fantástica e o livro termina. Subversivo, não.
Primeiramente queria informar que os três contos são os melhores que nossa língua permite e isso já bastaria para colocar o livro no panteão de obras clássicas, mas todas as proibições tinham fundamento na época, pois a princípio o livro era um ultraje ao uso da língua pois estruturalmente, lexicalmente e morfologicamente Luandino mistura português e quimbundo ao nível da fala, tal qual Guimarães Rosa nosso conterrâneo, a começar pelo título até seu final. Estruturalmente podemos relacionar as três estórias de várias maneiras do relacionamento entre as idades, a vida no musseque, e na minha interpretação de uma maneira muito forte com a fome que o povo angolano passava dia a dia quando colônia de Portugal e isso, carregado na ironia de tratar de estória (ou seja não é real), era uma fronte ao governo Português.
Tal com a metáfora do cajueiro há várias maneiras de interpretar o livro, não sei se no final ele escreve em português, ou se em Luandinês, mas o fato o fato é que maravilhosamente tecido em clássico.
http://metempsicose-metempsicose.blogspot.com
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Joao 15/04/2011

O melhor Conto que está em Luuanda é o Ovo e a Galinha.Conto que retrata a fome entre os vizinhos.
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Luísa Goulart 16/04/2020

a leitura foi feita para uma disciplina da faculdade, mas acabei satisfeita com o direcionamento. alguns contos são mais difíceis de entender pela mistura de idiomas e a grande marca da oralidade. o meu preferido com certeza foi ?Vavó Xixi e seu neto Zeca Santos?
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Viquetoria 13/07/2020

Livro essencial nos estudos sobre Literatura Angolana.
Livro interessante pra quem quer começar a se aventurar na Literatura Angolana. Tem personagens memoráveis, e as expressões em quimbundo são curiosas e deixam o livro mais rico. A história por trás da obra também vale a pena ser conhecida.
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Camila_Andrade 07/06/2010

A sintaxe dá trabalho, exige que o leitor seja forte e releia algumas passagens. A construção da narrativa também é um pouco diferente, já que o livro é uma tentativa escrita de contar histórias como os griôs antigos faziam, e a oralidade permite algumas "estrepolias" difíceis de compreender quando postas em livro.

Ainda assim, a musicalidade das palavras e o lirismo dos contos valem tanto, tanto o esforço... Com o tempo, é perfeitamente possível segurar-se em uma raiz do cajueiro e ir seguindo o fluxo das histórias.
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Baratela 17/06/2021

Literatura Luso
Adorei os contos presentes, porém é uma leitura pesada que requer muita atenção. Repleto de vocábulos característicos da região relatada no livro, apesar de ser escrito português, a língua do colonizador.
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Tina Lilian Azevedo 20/12/2022

A Luanda de Luandino
3 contos que revelam as peculiaridades da linguagem e do viver nos bairros pobres de Luanda. A luta pela sobrevivência e contra a grande inimiga comum aos pobres do mundo inteiro: a fome. Luandino leu Guimarães Rosa e sua escrita tem muita da linguagem cantada, rítmica de Grandes Sertões, além de expressões típicas. É preciso encontrar a cadência adequada à leitura. O livro tem sua importância histórica como registro do legado colonial. Lerei outro do autor.
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Luana1648 12/01/2024

Luuanda
Este livro retrata 3 histórias muito boas sobre a capital angolana. Ele muda a visão de quem pensa que Angola é um país pobre. O país é não indigente, mas, pelo contrário, abonado de alma e espírito.
Com a obra, conseguimos perceber que todos passamos por dificuldades e desafios e nem sempre conseguimos alcançar aquilo que mais necessitamos. O sofrimento está sempre presente, mas devemos ter capacidade de lidar com ele.
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Felipe1503 01/03/2024

Mensagens de texto apressadas sobre Luuanda de Luandino Vieira
O livro Luuanda são três estórias diferentes com personagens diferentes e tamanho de páginas diferentes. Parecem causos populares, situações que podem ser engraçadas para quem as lê, eu mesmo adorei.

Todas são ambientadas em Luanda, em Angola, são escritas com a linguagem de lá, o autor nascido em Portugal, vive lá desde os 3 anos de idade.

Foi escrito nos anos 1960, Angola estava ainda dominado pelos colonizadores portugueses, se não estiver enganado, houve em conflito civil de independência nesta nação africana.

O autor, José "Luandino" Vieira, foi preso talvez em decorrência da luta de libertação de Angola, escreveu este livro durante o cárcere. Mesmo com esse contexto meio pesado/sombrio, o conteúdo do livro é bem leve digamos assim, uma prosa cheia de lirismo nas descrições dos cenários e nas analogias, como o trecho que achei bonito sobre o fio da narrativa e o cajueiro.

Há um glossário no final com os termos usados que podem ser "incompreensíveis", porém com o passar das páginas é possível entender alguns de seus significados. Nisso, a riqueza de léxico, lembra um pouco do que li do brasileiro João Guimarães Rosa e do moçambicano Mia Couto, talvez este eu precise ler mais para confirmar. Deu vontade de ler muito mais de todos esses autores. Acolhedor.
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Maria 30/04/2024

Uma literatura (inter)nacional
Na tentativa de representar Luanda, dando corpo à literatura angolana, Luandino Vieira cria uma literatura que extrapola fronteiras e pode ser lida e compreendida por todos. A linguagem pode ser uma barreira mediada por um glossário nas notas de rodapé, mas também é um mundo a ser explorado (como você diz saber de Língua Portuguesa se só se restringe a língua falada no Brasil?). Confesso que não foquei tanto no 2° conto, mas adorei a Estória da Galinha e do Ovo, que tanto se aproxima da literatura produzida no Brasil. Leiam Luandino Vieira! Leiam Angola! Leiam as Áfricas Portuguesas!
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