E se amanhã o medo

E se amanhã o medo Ondjaki




Resenhas - E se Amanhã o Medo


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Carina 11/09/2013

Ondjaki melhorado
Ondjaki melhorou muito desde a última vez que o vi – lá no antigo livro “Bom dia camaradas”. Sua linguagem encorpou, cresceu em poesia e ganhou em força narrativa.
Eu, que era fã exclusiva de Mia Couto, agora me divido entre duas paixões, pois seus estilos são parecidos (ainda que sejam igualmente únicos). De qualquer forma, o que isto prova é a beleza da prosa africana de língua portuguesa – uma das mais inovadoras nos últimos tempos.
Trechos:

“Toda noite é palco para estrelas, candeeiros e olhos acontecerem.”

“Velhice é ir todos os dias despedindo um pouco coisas que inda nos tocam as paredes do coração”.

“Ocorreu-me, da minha varanda, novamente a ideia de os aeroportos, os portos e os cais serem, mais do que lugares de partida, lugares de desencontro. Um toque íntimo de destinos cruzados mas, no instante seguinte, a infinita distanciação das pessoas”.

“A vida é pesada”.

“Esperar, no fundo, não passa de um exercício de paciência, um modo de estar próprio aos humanos. Já as árvores suportam melhor esse estádio.”

“o susto é uma construção interna, carecendo de pressupostos”.

“Talvez os acontecimentos estejam em fila, ordenados, justos, esperando para colidir com as pessoas, e as pessoas, iludidas, pensem que a colisão além de natural é aleatória”.
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Guilherme.Marques 19/03/2017

Poemas em prosa
Alguém em outra crítica/resenha falou que os contos não eram bem contos, mas poemas em prosa. Talvez eu concorde. E não há nada de errado em sê-los: Ondjaki soube aqui, como quase ninguém, dar poesia fantástica às palavras reais, e palavras fantásticas à poesia do real, do cotidiano, por assim dizer. Infelizmente, não sem falhas. Alguns contos-ou-poemas-em-prosa decepcionam, e a sensação de ter lido algo inacabado é maior, nesses casos, do que a de ter lido algo com qualidade, ausente. Recurso interessante que se faz uso aqui é o de não mencionar idades nem anos, fazendo com que a obra fique como parada no tempo, imortal e sempre nova (ou velha: "Faz hoje precisamente [...] anos que a velha deixou de envelhecer. Iniciou este estado de intacta decomposição e nunca mais evoluiu em direção à morte, ao passamento: chegou ao estado e à idade em que os dias lhe não tingem nem atingem." [início do assustador conto "a velha"]). Ondjaki é um ótimo escritor, como fica visível a cada virada de página.
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Lara Greco 10/06/2018

E se amanhã o medo
E SE AMANHÃ O MEDO é um livro de contos breves e imaginativos, que flertam com o realismo fantástico em muitos momentos.
O livro é dividido em duas partes: ?Horas Tranquilas? e ?Conchas Escuras?. Os dois títulos fazem referência ao romance Lavoura Arcaica, do escritor brasileiro Raduan Nassar e aludem a atmosfera de cada seção da obra: ?Horas Tranquilas? é orientada pela fantasia, pelo sonho e pela fluidez. Os contos são repletos de metáforas que podem ser traçadas em relação à esperança, a capacidade de sonhar e planar sobre a dureza de algumas situações que, ao invés de prender as personagens, as libertam em um movimento de fantasia e leveza.
Na segunda parte, mais densa e sombria, tempo parece ter seu movimento interrompido, e se solidifica numa realidade mais densa. Surge o olhar para a solidão, o sofrimento físico e mental causado pela pobreza, pela escassez, pela falta em todos os sentidos.
Todos estes elementos, antes subentendidos nos contos da primeira seção, mas disfarçados pela leveza e pela fantasia, ganham densidade e parecem nos trazer de volta a um mundo onde percebemos, agora de maneira mais contundente, a necessidade de se sonhar. O sonhar surge, então, como estratégia do viver.

O conjunto da obra do escritor angolano Ondjaki (1977) chama a atenção pela quantidade e pela diversidade. Apesar de cosmopolita, o escritor não assume esse caráter e percebe na sua relação com a oralidade e a escrita imaginativa, traços culturais do povo de Angola, elementos estruturais da sua obra: ?Eu cresci em Luanda e Luanda é uma cidade cheia de histórias. Tu não consegues combinar uma coisa com uma pessoa; se a pessoa chegar atrasada, ao invés de simplesmente se desculpar, a pessoa vai contar uma história - normalmente, vai inventar uma história. [...] O povo angolano é um um povo que sofreu muito, por varia razões, pela guerra e por outras privações, mas nunca, nunca perdeu essa capacidade de sonhar.
(Citação retirada do vídeo disponível em: https://youtu.be/0cTQ52tleN8 acesso em 10/06/2018)
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Patrick 25/04/2021

nhenhenhém
Aquele tipo de escritor que acha que ser poético é meter o substantivo "sorriso" e o verbo "sorrir " e o adjetivo "sorridente" e todas as variações desse fenômeno dos primatas a cada vinte palavras. Tudo sorri, o sol, as sombras, as crianças, os objetos. E se sorri como expressão de qualquer sentimento. É do mesmo nível do "como se fosse...::, "as if... as if..."
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Ferreira.Maia 19/11/2022

Ondjaki, meu camarada.
Esse livro tem um espaço importante no meu coração e no meu braço. A Libélula, conto que tatuei em meu braço, me traduz de forma divina, talvez por isso a resenha não saia com tanto critério ou apontamento.
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