Os mímicos

Os mímicos V. S. Naipaul




Resenhas - Os Mímicos


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regifreitas 23/12/2020

OS MÍMICOS (The mimic men, 1967), de V.S. Naipaul; tradução Paulo Henriques Britto.

V.S. Naipaul (1932-2018) foi o ganhador do Nobel de Literatura de 2001, segundo a Academia Sueca “por ter unido narrativa perceptiva e escrutínio incorruptível em obras que nos compelem a ver a presença de histórias suprimidas”. Nascido em Trinidad e Tobago, o escritor é de ascendência indiana; aos 18 anos vai estudar na Inglaterra e acaba se autoexilando no país, adotando posteriormente a cidadania britânica.

Esta foi a primeira obra de ficção do autor que leio, embora já tivesse tido uma experiência anterior com um livro seu de não ficção, LER E ESCREVER, em 2018. Em OS MÍMICOS, acompanhamos a história da vida de Ralph Singh, um ex-político de uma ilha fictícia do Caribe. Exilado em Londres, ele escreve suas memórias, relembra sua infância e juventude, e a vida adulta, quando participou ativamente da vida política do seu país e teve seu nome ligado a um esquema de corrupção. Sigh parece ser uma espécie de “alter ego” de Naipaul. Também de origem indiana, o personagem principal se sente um deslocado, seja na terra de origem seja em Londres. Trata-se de alguém que passou a vida à procura de uma identidade, da sensação de pertencimento a algum lugar.

A qualidade do texto de Naipaul é inegável. O autor insere e amarra muito bem algumas cenas iniciais que serão revisitadas mais adiante, ressignificando alguns desses momentos. Contudo, o enredo é muito pouco convidativo. A história da ilha e da sua população, oriunda de diversas origens e etnias, seria por si só muito fascinante, mas é pouco aprofundada. O protagonista não gera qualquer sentimento no leitor, pois sua narrativa é fria e distante – ele conta a própria vida como se tivesse relatando a vida de uma outra pessoa qualquer, sem qualquer envolvimento emocional. É cerebral o tempo todo. Foi uma leitura difícil de ser concluída.

Leitura de encerramento do Desafio Livros & Sabores: mês de dezembro - Trinidad e Tobago.
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petite-luana 02/03/2015

V. S. Naipul por mais de uma década foi cogitado a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, porém foi somente em 2001 que o autor foi agraciado; foi devido a premiação que surgiu o meu interesse em ler um livro seu, acabei escolhendo o livro "Os mímicos" por puro acaso por o ter encontrado em um sebo. "Os mímicos" foi publicado em 1967, conta a estória de Ralph Singh por suas próprias palavras, o narrador nos apresenta o seu livro de memórias, e por diversas vezes fala diretamente com o leitor sobre uma classe média colonizada da qual foi fruto. Ralph Singh é ex-ministro de uma ilha fictícia do Caribe, chamada Isabella, após seu insucesso na política local, ele é exilado em um subúrbio de Londres, de onde inicia a narrativa.

O livro se estrutura em 3 partes: na primeira, conhecemos Singh em sua estadia em Londres, seu casamento e como se tornou um político, somos apresentados à sua visão crua de mundo e a forma com que ele enxerga a si mesmo e as pessoas a sua volta, para Singh, estão todos encenando papéis, são personagens de gestos exagerados em sua própria vida, como mímicos. Na segunda parte, Singh adentra de fato em suas memórias, traz a sua trajetória durante a infância e juventude, contando desde os fatos mínimos que formaram sua identidade, seus conflitos familiares, até o seu olhar para o desenvolvimento político, social e econômico da ilha de Isabella, sua realidade social entre os diferentes povos que habitam o local e a dependência colonial com a metrópole Londres. Na terceira parte do livro, Sigh narra sua carreira política e o que culminou para a sua fuga para Londres.

Singh é uma personagem que durante toda a sua infância e adolescência tenta apagar a sua estória familiar, se desvincular de sua família e sair de Isabella; agora, já no fim da vida ele busca através da escrita se encontrar em sua trajetória, reelaborar seu passado de modo a sintetizá-lo e fazer as pazes com essas raízes, com isso busca também firmar sua própria identidade. O autor mescla muito da sua experiência de vida e personalidade à da sua personagem, Naipul é descendentes de indianos, nasceu em Trinidad e também é um auto-exilado em Londres. No desenrolar da estória percebemos como Naipul dá sua própria voz a Singh ao nos apresentar a realidade deste mundo colonial e pós-colonial do qual ele e sua personagem fazem parte ao mesmo passo que se afastam. Uma voz de desencanto expressada em um humor ácido em relação às sociedades do Terceiro Mundo. Essa característica, muito mais do que os fatos, é o que que acaba ligando a personagem ao autor, nos mostra como Singh é um alter-ego de Naipul. Singh se mostra um estrangeiro em toda parte, deslocado e desenraizado, perdido de si mesmo representado um papel como mímicos no teatro que é para ele a vida.

O livro aborda não somente sobre a identidade construída a partir da identidade cultural de um povo, mas sobre a corrupção humana (de pessoas que se tornam personagens) discutindo questões político-sociais ao revelar um sistema (familiar, escolar e de governo) corrompido. O livro é carregado de um olhar muito pessoal ao preconceito racial e social, por vezes este olhar por si só soa um tanto preconceituoso. Naipaul costumeiramente é acusado de crueldade em sua escrita, a qual ele responde: "Há todo um entulho missionário difundido por pessoas que mentem, que não chamam um parasita de parasita, um bárbaro de bárbaro, que dizem 'pobre canibal, ainda não comeu carne fresca hoje'."

Eu gostei da leitura, apesar de a ter achado deveras maçante (devido ao tema político) por diversas vezes, acredito que se envolver (e se sensibilizar) com a proposta do autor é o que torna a leitura mais interessante.
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MCTS 21/04/2016

À Deriva nas Margens do Mundo
V.S.Naipaul, embora pouco lido no Brasil, é um escritor contemplado com o nobel de literatura, exatamente por essa obra: Os Mímicos. Nascido em Trinidad Tobago, descendente de indianos, transferiu-se para Londres ainda nos anos 50, aonde reside até o presente. Essa resenha é o produto de uma releitura. Meu primeiro contato com o livro foi em 1988. Na época a experiência não deixou boa impressão. Não é uma leitura simples. Naquela ocasião estranhei o estilo: linguajem econômica, ideias condensadas, retomadas frequentes de detalhes mencionados no decorrer do texto, algumas passagens de significado opaco. Tudo cobra do leitor concentração. Essa primeira leitura me exigiu perseverança para concluí-la.
A releitura 28 anos mais tarde e o amadurecimento que logrei no período contribuíram para que o livro me proporcionasse prazeres e sabores que degustei com surpreendente deleite. O roteiro apresenta evidentes pinceladas autobiográficas. O personagem principal - Ralph Singh - decide escrever sobre sua trajetória de vida. Ele nasceu em uma ilha fictícia do Caribe denominada Isabella. O local é uma colônia britânica cuja demografia divide-se entre descendentes de escravos africanos, asiáticos e a comunidade branca.
O personagem integra a comunidade indiana. O livro vai abordar quatro períodos bem demarcados da trajetória do autor: o período de formação acadêmica em Londres, seu casamento com uma inglesa e seu retorno para Isabella, sua infância na ilha e finalmente a última fase abarca sua atribulada experiência como importante liderança política em Isabella.
O foco da obra é o permanente sentimento de deslocamento, a sensação de não pertencimento do personagem com relação a sua ilha de origem. Lá ele sentia-se um náufrago, à deriva. A vontade imperiosa era ir embora para seu lugar verdadeiro.
A ilha/colônia era uma sociedade desordenada, caótica, pobre, causava constrangimento. Esse ultimo resultava em uma postura de negação, de não identificação com o lugar. Uma passagem que relata uma recordação do cotidiano escolar do autor é bastante ilustrativa desse sentimento de aversão:
"Havíamos convertido nossa ilha num enorme segredo. Tudo o que dizia respeito a nossa vida cotidiana provocava risadas quando era mencionado em sala de aula: o nome de uma loja, de uma rua, das comidas vendidas na esquina. O riso era um modo de negar que conhecíamos estas coisas, às quais haveríamos de voltar depois das aulas. Negávamos a paisagem e as pessoas que víamos pelas portas e janelas abertas, nós que levávamos maçãs para nossos professores e escrevíamos redações sobre visitas a fazendas com climas temperados"
O remédio para afastar-se daquela sociedade truncada, desarrumada e miscigenada era o plágio. Esforçar-se por encenar hábitos do mundo externo. "Todos assumíamos a postura de pessoas cosmopolitas ... Isso era fácil para nós, pois em Isabella, éramos todos imitadores natos ... Nós os mímicos do Novo Mundo".
O autor debita essa sociedade desordenada e constrangida na conta do Império e suas ações, sobretudo por promover o transplante e a "convivência forçada entre povos que só poderiam se realizar na segurança de suas próprias sociedades".
Também, chama a atenção a abordagem crua com que o autor trata questões que, na atualidade, seriam avaliadas com muita reserva por ferir a suscetibilidade politicamente correta vigente em nossos tempos. Assim, Ralph Singh ao chegar a Londres e deparar-se com a postura dos políticos britânicos de regozijar-se com suas origens pobres, surpreende-se: "Em Isabella, quando eu era pequeno, ser pobre era uma coisa vergonhosa. Infelizmente, agora não é mais. E fiquei atônito, quando vim para a Inglaterra pela primeira vez, ao constatar que aqui também não era. Cheguei numa época de reformas. Os políticos jactavam-se de suas origens humildes e, cheios de uma cólera virtuosa, afirmavam ter sido moleques descalços. Em Isabella, onde havia moleques descalços em profusão, esta expressão era muito empregada pelas crianças como xingamento; e eu, colocando-me no lugar destes grandes homens, sentia vergonha. Descender de gerações e gerações de vagabundos e fracassados, uma linhagem ininterrupta de gente sem imaginação, sem iniciativa e oprimida, sempre me parecera motivo para sentir uma vergonha profunda e inconfessa".
Ou ainda essa outra passagem onde o personagem descreve sua reprovação à atitude de imigrantes africanos nos salões de dança do Conselho Britânico que frequentava a procura de companhia feminina: "às vezes o ambiente era desagradável, cheio de africanos de sotaques ásperos com colarinhos brancos muito engomados e óculos com armações de ouro, cultivando seus ressentimentos raciais como se fossem virtudes e buscando sua recompensa sexual entre jovens que não tinham nenhuma culpa".
Por fim, a obra oferece um retrato implacável de uma sociedade situada à margem, afastada do eixo principal do mundo, ao mesmo tempo em que disseca, sem piedade, mas com talento, os dramas e constrangimentos que atormentam e enredam os personagens que a povoam.
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EduardoCDias 07/04/2024

Memórias de um político
Um ex-político de origem indiana de uma fictícia ilha do caribe retorna de uma temporada em Londres para descobrir os avanços e retrocessos na comunidade.
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