Eric 22/12/2022
Os Analectos de Confúcio (translated by D. C. Lau)
Os Analectos são um conjunto de escritos que expressam a filosofia moral do pensador chinês Confúcio (552 a.C. - 489 a.C.), juntando falas do próprio mestre e de seus discípulos que demonstram as bases do confucionismo. A ideologia se tornou a principal religião da China durante duas grandes dinastias, a Dinastia Han durante o século 2 a.C. e o "neoconfucionismo" na Dinastia Song que perdurou do século X ao XIII. Atualmente o governo chinês não possui nenhuma religião oficial, porém o confucionismo continua sendo a mais conhecida e influente religião no país (seguido pelo o budismo e taoísmo).
O livro é dividido em 20 capítulos subdivididos em versículos (semelhante a livros religiosos como a Bíblia), cada verso é praticamente independente e possui alguns poucos diálogo (ou muitas vezes somente um monólogo de uma única pessoa) sobre conceitos que giram em torno do aprimoramento intelectual e espiritual do homem, que nesse caso não utiliza a expressão "homem" para se referir genericamente a todos os indivíduos, mas sim somente aos homens, àqueles do sexo masculino. O livro em momento algum trata da mulher como alguém possível de comandar ou contribuir para a sociedade. Obviamente que no período de 500 a.C. essa era a realidade da população, porém, considerando que as ideias de Confúcio são influentes até os dias de hoje,
se torna preocupante a forma como as mulheres podem ser vistas no país atualmente.
Confúcio e seus discípulos buscam constantemente tornar os homens (os que não se enquadram no grupo de "pessoas comuns", termo usado para se referir à população sob comando de um governante) em "gentlemans", ou seja, "cavalheiros", homens benevolentes, sábios, corajosos e ligados às antiguidades por seguirem corretamente os rituais. Sobre as características de alguém benevolente, sábio e corajoso o livro se aprofunda, utilizando situações, exemplos e ensinamentos, na realidade uma boa parte do livro trata sobre esses assuntos. Já sobre os ritos, acredito que não seja o objetivo do livro explicitá-los, já que não traz o exemplo de nenhum tipo (o que eu, particularmente, adoraria ver para me ambientar melhor na cultura chinesa da época, porém reconheço que não seja esse o intuito do Lunyu).
A linguagem do livro não é difícil (pelo menos a versão em inglês do tradutor D. C. Lau que li), porém, muitas vezes se torna cansativa, principalmente quando são citados diversos nomes de figuras da época, sejam duques, lordes ou discípulos de Confúcio sem antes os apresentar, e para alguém que não conhece nenhum dos nomes, os textos se tornam sem sentido e desgastante, admito que em alguns versos que citavam muitos nomes, eu simplesmente pulava para o próximo.
Em geral é um livro interessante para quem tem curiosidade de conhecer um pouco mais da cultura chinesa, porém, por conta da antiguidade do livro, o efeito do Confucionismo sobre a China é não é tão grande quanto esperava. Algumas ideias podem e devem ser consideradas para a aplicação no dia a dia de nós mesmos nos dias de hoje na sociedade ocidental, por isso acho válida a leitura para conhecer diferentes noções da bondade do ser humano utilizadas em uma cultura que não possui uma influência esmagadora do cristianismo, uma forma de sair da bolha ocidental que muitas vezes estamos inseridos.