Italo 30/12/2022
Decepcionado, mas não surpreso
A Batalha do Apocalipse é definitivamente um livro já escrito. Não digo que desgostei totalmente do livro, mas seria insincero dizer o contrário. O livro acompanha uma série de problemas que, por mais que se tenha boa vontade, são impossíveis de se relevar.
Bem, começando com o maior problema: a escrita. Ela é ambiciosa, e apenas isso. É extremamente caricata e, até que se acostume com ela, cansativa. O autor lança mão de VÁRIOS sinônimos a todo momento, invoca arcaísmos que ficam mal posicionados no texto e abusa de títulos e apelidos para evitar a repetição dos nomes das personagens - mesmo quando ela seria bem-vinda e natural. Ler certos parágrafos é o mesmo que ler um dicionário. A minha impressão é que a escrita foi feita de forma a imitar uma... Escrita! Como se o autor, antes de escrever, pensasse “O que posso fazer para que isto se pareça com uma escrita de livro?”. É tudo plastificado, inflexível. Aliás, tratam-se as personagens por “você(s)” durante toda a história, mas há uma única oração dentro dum diálogo na qual se usa o “tu”.
Quanto a história, diria que ela é presunçosa e somente. Vê-se a tentativa de se criar algo grandioso, complexo e completo, e o que se tem é um universo carregado de elementos mal aproveitados, confusos e ilógicos que vão desde arcanjos a duendes. A base do universo é a crença cristã, e a justificativa para as demais é simplesmente péssima. Há um excesso de coincidências e saídas fáceis, e tudo isso se dá nos momentos em que se deveria haver maiores tensões. Há igualmente muitas contradições: diz-se num momento que uma das personagens prefere áreas selvagens, e noutro momento resolve-se procurá-la em grandes cidades; uma das personagens está tão debilitada, praticamente cega, mas é capaz de reconhecer as feições de quem está relativamente distante... Há uma ocasião - e talvez eu que tenha entendido errado - em que um feiticeiro, objetivando a morte duma feiticeira, conjura um fogo especial que queima somente o que está no mundo astral, mas que, quando atirado na mulher, queima as suas roupas e deixa-a nua... Uma tentativa de sexualização desnecessária.
Em relação às personagens, são todas péssimas. Começa-se por se haverem em excesso e serem constantemente esquecidas, havendo-se, inclusive, um glossário no final do livro para ajudar o leitor. Há um anjo supostamente misterioso, mas sabe-se quem é assim que apresentado. Os anjos, aliás, não fazem sentido: diz-se que, diferentemente dos humanos, não possuem livre arbítrio e, portanto, agem de acordo com a natureza de sua casta; entretanto, tomam decisões apesar de qualquer coisa a todo o momento. Numa ida ao inferno, o herói da história rapidamente seduz uma personagem infernal - que é outra tentativa desnecessária e horrenda de sexualização - em apenas uma única conversa na qual, da forma mais clichê possível, discute-se sobre o amor. Em vários momentos o autor é obrigado a se referir a uma personagem por ‘a chinesa’ porque ela não tem caracterização nenhuma além de ser muda e, obviamente, chinesa. O guerreiro, o já mencionado herói, anda de sobretudo no calor do Rio de Janeiro e está disposto a sacrificar tudo e todos desde que a sua amada esteja bem; e a amada, por sua vez, ajuda eventualmente e faz o papel da mocinha pura e bondosa. Que original! Deus cria tudo e comete suicidio, repartindo-se em cada ser humano: a mensagem impactante é que ele está em cada um de nós! O fato de um de seus arcanjos odiar os humanos e cometer contra eles genocídios é uma tentativa falha de trazer o elemento da criação voltando-se contra o seu criador através do patricídio. E se Deus ama a sua criação, por qual razão abandonou o céu?
Enfim, apesar de tudo, houve entretenimento. Talvez eu leia o segundo livro da saga, pois estou curioso em relação à evolução do autor.