Rafael.Said 30/12/2017
Uma das melhores viagens que se pode fazer...
Uma das melhores viagens que já fiz...
O livro traz reflexões profundas nos mais variados aspectos, desde o trabalho, competência, corrupção, moral, sexo, relacionamentos, traição, etc. O que procura o ser humano? Através de diálogos com mendigos, ou mesmo entre grandes empresários e políticos, indagações filosóficas permeiam toda a leitura.
Uma história sobre uma era industrial estadunidense, na qual a autora mostra todo o jogo político/econômico em que os interesses de uma pequena parcela da população, representados por personagens como James Taggart, Dr. Ferris, Chick Morrison, Sr. Thompson, Orren Boyle, dentre outros, se sobrepõe sobre todo um país, jogo no qual interesses privados colocam em risco a existência de toda uma sociedade.
Por outro lado, personagens como Hank Rearden, que trabalha exaustivamente e sempre se atrasa para ocasiões sociais, pelas quais não sente nenhum apreço. Personagem intrigante, que é capaz de dedicar todo dinheiro à família, mas que não se preocupar em dedicar sequer uma pequena parte de seu tempo à ela. Que apesar de todos os contratempos, continuar lutando e trabalhando por aquilo em que acredita.
Há vários personagens interessantes no livro, como o empresário James Taggart, dono de uma linha de ferrovias, que se aproveita da dedicação de sua irmã para ganhar status e poder, escondendo por trás do trabalho dela toda sua incompetência. Personagem que defende que as marcas (empresariais) são o que mais importa no mundo. Leva consigo o ditado "qualquer corrupto ganha dinheiro". Ganhar dinheiro é fácil, difícil mesmo é ter caráter, ter pessoas próximas que lhe valorizam pelo que você é e não pelo que você tem ou pelo que você demonstra.
Já Francisco D'anconia, herdeiro da maior fortuna no mundo do livro, decidiu quebrar economias de países inteiros simplesmente porque teve vontade de fazê-lo, embora o livro nos mostre que os motivos que o levou a tomar tal atitude talvez possam ser corretos.
Lilian Rearden, a mulher que se casa com o maior industrial estadunidense simplesmente para manter as aparências, que se configura apenas como um acessório ao seu marido. Mesmo após descobrir a traição dele, continua como figurante e não aceita de forma alguma o divórcio, apenas para não perder seu status social.
O livro, apesar de ser uma ficção, mostra como não há sinceridade entre a alta sociedade político/econômica, o que nos leva a refletir sobre o que acontece no Brasil atualmente. A sinceridade, independente do motivo ou de quem a expressa, leva a um estranhamento por não se estar acostumado à ela.
A intromissão do governo em assuntos privados e a compra do governo pelo setor privado também estão bem representados na leitura. Utiliza-se a chantagem para atingir objetivos particulares. Embora seja ficção, podemos ter uma ideia real do contexto que envolve negociações industriais/empresariais/governamentais.
A descoberta de um tipo especial de matéria-prima por um grande industrial faz com que o governo tome todas as medidas possíveis para se apropriar daquela descoberta. Aqueles que têm o poder político sempre estão em vantagem em relação aos demais, independente do nível em que estejam. Esses é que realmente desfrutam dos privilégios, é necessário desconfiar daqueles que afirmam fazer tudo pelo bem alheio. Sempre há interesses individuais envolvidos. Eles têm o chicote na mão e afirmam que gastam o nosso próprio dinheiro para o nosso próprio bem-estar. É triste perceber que muitas vezes, o talento com a retórica é mais importante do que o talento técnico para desempenhar alguma função. Saber usar as palavras se faz mais importante que saber usar as ferramentas.
Esses não querem se cercar de pessoas que pensam, mas tão somente de pessoas que apenas cumpram ordens. Aqueles que precisam se proteger usando a força para continuarem ocupando seus cargos, de forma alguma merecem ocupá-lo. O livro mostra como são montadas grandes, e eficientes, campanhas para desacreditar qualquer pessoa que vá contra os interesses do grupo dominante.
Outro aspecto bem demonstrado no livro é o fato de vários personagens esconderem suas emoções atrás de suas realizações materiais.
Aprende-se também que a impossibilidade pode ser apenas questão para que se mude o caminho através da visão de outras perspectivas sobre nossas próprias premissas.
Outro ensinamento importante é sobre o ódio a alguém, que muitas vezes é simplesmente o ódio a si mesmo por admirar algum aspecto em alguém que não se reconhece em si mesmo.
No campo da justiça, há reflexões do tipo: para quem servem as leis? Quais são os princípios existentes nas leis? Em alguns casos, o réu tem somente que manter a aparência de justiça quando seus direitos na verdade sequer são reconhecidos? Até que ponto e em quais casos as leis são legítimas? A justiça precisa da "cooperação" do réu para legitimar o processo judicial, isso ajuda disfarçar, nesses casos, a natureza dos atos.
Em relação à imprensa, nota-se como ela toma partido e dá evidência aos acontecimentos de acordo com suas próprias premissas, levando ao público notícias de interesse próprio sob a máscara de interesse público por aquilo.
Abre-se os olhos para o significado real de todo equipamento construído pelo homem. Ali não está somente uma máquina, mas sim todo um conjunto dos cérebros que construíram e que possibilitaram a construção daquilo.
A troca de favores é o que molda o mundo do livro, e por que duvidar que também molde o nosso? Há uma esperança, naqueles que se contrapõem ao modelo que está dado e que têm a capacidade de pensar, e acima de tudo a capacidade de realizar.
São muitas reflexões que o livro permite, são várias visões diferentes que nos traz. Para se ter o real entendimento sobre esses ensinamentos que estão presentes nessa várias e várias páginas, só lendo-o e realizando essa incrível viagem...