CABRA CEGA

CABRA CEGA Sheila Mendonça




Resenhas - CABRA CEGA


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Cia do Leitor 30/05/2018

Cabra Cega
Clara e Gustavo se conheceram ainda muito jovens em um clube que a família de Clara frequentava em Curitiba. Foi amor a primeira vista, e desse primeiro contato nasceu um relacionamento que prometia ser próspero e feliz.

Ela estava acabando os estudos e pretendia fazer o vestibular de psicologia, já ele estava se formando em medicina e claro queria exercer sua nova profissão e conquistar sua independência. Gustavo era filho único e vivia com sua tia que o tinha como um filho e o amava muito. Mas, ao conhecer Clara mudou todos seus planos, não queria mais estar só, precisava dividir seus sonhos com ela, precisava dela, somente ELA.

Ainda na fase da conquista, dos encontros, de formalizar seu namoro, os pais e amigos de Clara, perceberam que Gustavo era um tanto introvertido e um pouco ciumento. Mas, Clara os convenceu que era impressão deles, que no fundo ele tinha um bom coração e era tímido.

Em poucos meses eles resolveram se casar, estavam encantados um com o outro. Gustavo sempre atencioso e romântico, fazia com que Clara se entregasse àquele amor sem medo e sem freios. Sentia que ELE era o homem de sua vida e faria de tudo pra serem felizes para sempre...

Até que o casamento aconteceu, e com esse evento veio também a realidade através das ações de Gustavo. Ele finalmente se sentia livre para por pra fora a sua verdadeira face. Um homem possessivo surgira pra mudar toda uma historia que mal acabara de ser escrita.

"Por mais insatisfeita que estivesse e que seu casamento não fosse totalmente como sonhou, não conseguia imaginar a sua vida sem o seu marido."

Essa obra é uma ficção que aborda fatos que acontecem na vida real. O livro fala de submissão, medo, insegurança, violência doméstica, possessão e tantos outros atos que são desencadeados por essa faceta doentia de seus companheiros. Com uma escrita informal e fluída, a autora Sheila Mendonça nos presenteia com uma história de nos faz questionar e brigar com os personagens. :)

Existem milhares de mulheres no mundo que sofrem maus tratos e agressões, que vivem no anonimato sob ameaças todos os dias. Clara é apenas um grão de areia no meio de tantas vítimas. E muitas delas não tem a chance de pedir ajuda, e quando conseguem sair desse relacionamento, nunca saem ilesas, as feridas são grandes demais para serem cicatrizadas e esquecidas. Isso, quando conseguem sair com vida...

É difícil falar de um assunto tão delicado sem mexer com os sentimentos dessas pessoas, pois analisar um caso visto de fora é mais fácil, logo encontramos as soluções dos problemas e verbalizamos que a vítima está nessa porque quer, poque é fraca, porque é tola. No entanto, para a vítima nem sempre é tão fácil assim.

Uma vez que a pessoa é agredida por seu companheiro, seja verbalmente ou fisicamente a primeira coisa que pensamos é: Abandone-o. Deixe-o. Fuja! Mas, devemos olhar o quão envolvida está essa pessoa. Estender a mão e orienta-la a denunciar uma agressão talvez seja a coisa certa a fazer, é o primeiro passo. Ela não estará livre dos riscos, com ele ou sem ele, mas pelo ao menos terá uma ajuda de profissionais e proteção da policia.

Existem casos que a vítima é chantageada e ameaçada de morte, muitas vezes envolvendo familiares e amigos queridos. A lavagem cerebral e o medo é tão grande que a vítima não busca ajuda com receio de tudo se concretizar.

E foi pensando dessa forma que pude analisar melhor as atitudes da personagem, ela se sentia presa às ameaças, temia pela vida de seus entes e por sua própria vida. Mas, mesmo sob todas essas ameaças, creio que procurar ajuda e não omitir para a família era a coisa certa a fazer.

"Na intenção de fazer as pazes disfarçou mostrando preocupação andando de um lado para o outro da sala. Mas não poupou a esposa de ouvir a mais fria e egoísta pergunta: se ela havia perdido a criança."

No inicio senti muita raiva de Gustavo e compaixão por Clara, mas infelizmente no decorrer da trama eu passei a ficar impaciente com as decisões que a protagonista tomava. Ela teve diversas chances de dar um fim, de tomar as decisões certas das quais ela mesma jurava que faria se houvesse uma chance. Mas, não fez!!

Por outro lado, estava uma família aflita, sem noticias de sua filha, mas que não tomava atitude alguma pra ajudar. O que estavam esperando?! Sério mesmo que os pais ficariam de braços cruzados esperando o pior acontecer? Mas, também existiam personagens determinados em ajudar, e que tomavam atitudes sem exitar. Cito como exemplo: Marcos (ex-namorado) e Pâmela (amiga de Clara), eles foram mais corajosos que seus familiares.

Até "aceito" a omissão dos vizinhos, além de serem estranhos, temer à sua própria vida por causa de terceiros é bem comum hoje em dia. Mas, quando a família de clara fica sabendo das ocorrências em sua casa, das ameaças e maus tratos, e não fazem nada pra ajudar, simplesmente porque acataram as inseguranças de Clara, o pedido pra não se meterem. Isso é demais pra minha compreensão e aceitação. Se a filha está cega, tomada pelo medo, é obrigação dos pais, do cidadão, ajudar nesse caso.

Dizem que "Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher." Que ditado machista! Mas, creio que o ditado se refere à discussões e não agressões. Concordam?

Claro que questionei o quão fácil era pra Gustavo viver mudando de morada sem levantar suspeitas, o quão ingenua Clara era por se permitir vislumbrar um novo lar e não perceber que por trás de cada suposto bom ato teria uma consequência à ser paga. Estava na cara que esse relacionamento já tinha passado dos limites de tão doentio e perigoso. E não tomar uma atitude só alimentava mais e mais o monstro que ele se tornava.

O Livro apesar de curtinho é bem direto em suas mensagens. Nos faz refletir e nos alerta o quanto é importante a gente ao perceber sinais de distúrbios de humor, de posse e de obsessão, é preciso procurar ajuda imediata. Resguardar-se achando que as coisas poderão melhorar só podem agravar mais e adiar o inevitável, as agressões e até mesmo a morte.

Não sei como terminar essa looooooonga resenha sem continuar expressando minha indignidade pelo o tema que a história permeia, mas de uma coisa estou certa, é um livro que DEVE ser lido e debatido aos quatro cantos do planeta.

Indico e asseguro que você pode ter uma visão diferente da minha com relação a protagonista.

site: http://www.ciadoleitor.com/2018/05/resenha-cabra-cega-de-sheila-mendonca.html
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