spoiler visualizarBia 03/08/2012
Minha experiência com Desastre
Um dos melhores livros que li esse ano! Milagrosamente, ando lendo até sinopses de livros com capas feias. Afinal, não se deve julgar um livro pela capa. Nem pela sinopse. Essa sinopse aí, que os sites trazem, são muito fracas. Não dizem muito. Nem sei por que resolvi comprar ele, além do preço que brilhava nos olhinhos...hehe.
Mas enfim... Como a sinopse informa (mal), o livro trata sobre pecados capitais, veniais, emoções, virtudes humanas, todos eles como se fossem personagens. E mais!, a maioria deles atendem por um nome. Fado, o personagem narrador, se chama Fábio. A Morte se chama Dennis, um cara sério, sem muito tempo para nada, já milhões de seres humanos morrem por dia. E até mesmo Deus tem um nome. Atende por Jerry, o poderoso chefão.
Bom, só com isso já vemos que a estória é cômica, satírica e sarcástica. Há um momento em que o autor cita Fabio assistindo a um episódio de Seinfeld (seriado de humor americano), e me pergunto se foi alguma piadinha que ele fez se referindo Deus pelo nome de Jerry. Até por que as piadas que ele (o autor) faz no livro são bem parecidas com o que era apresentado no programa — ironia e sarcasmos sobre o cotidiano.
Mas isso é só um palpite meu...
Apesar de citar deus na estoria, o livro não se propõe a ser religioso. Pouco é falado sobre isso. Fábio é Fado; o que significa que ele, desde os primórdios do universo, fora designado a lançar fados aos humanos. Mas fado não é destino. Há um diferença sutil. Fado, de acordo com Fábio, é tudo de ruim que acontece à pessoa, resultande de más escolhas. Há uma filosofia de boteco, como costumo dizer, neste livro. Ele reflete sobre a necessidade de consumo de algumas pessoas, que se enchem de coisas supérfluas para tapar os buracos em suas vidas — problemas amorosos, familiares, financeiros e problemas consigo mesmos. E este é o maior problema da humanidade, segundo Fado. O ser humano não reflete sobre si, não dá um tempo em suas vidas caóticas para pensar sobre quem realmente são. Preferem se entupir de coisas ruins, achando que estão fazendo bem a si mesmas. E ele fica indignado com isso, se pergunta como pode alguém tomar tantas decisões ruins? A ignorância, a raiva, o rancor, o fracasso costumam ser o fator influente principal.
Enquanto isso, por acaso, ele conhece Sara. Uma moça cujo futuro ele não consegue ler. Mas isso é comum, quando a pessoa está na trilha do Destino. O que o intriga é a maneira como todos olham para essa mulher. Todos se encantam com ela, há algo magnético que faz com que todos a seu redor sorria para Sara. E, então, antes que pudesse se dar conta, Fábio quebra uma das regras principais para um imortal. Não se relacionar com seres humanos.
Fábio é um imortal que usa uma vestimenta humana, para poder trabalhar em seus humanos. As vezes ele podia se fazer visível, as vezes ele se tornava invisível. Ele a segue por todos os lados, a observa, analisa.. tenta desvendar o mistério que a cerca. Até que, lá pelas tantas, ela o nota.
Num trem, é onde os dois começam a interagir. Ela se encanta com ele também — que, afinal, usa um veste humana bastante atraente, musculosa e bem dotada (se é que me entendem)...
O relacionamento entre eles vai ficando mais forte, na medida em que passam tempo juntos. Até que, lá pelas tantas, Sara começa a fazer perguntas pessoais sobre ele. Como foi sua infância, o que faz profissionalmente, como são seus pais... Ao passo que Fabio não pode revelar sobre si para um humano.
Mas Sara vai cada vez mais cativando Fado, conquistando a confiança dele, até que resolve revelar tudo— já que ela insiste em conhecê-lo melhor. Ao mesmo tempo, vendo a simplicidade com que a moça pensa sobre tudo, e tenta lhe dar conselhos sobre seus problemas que, até então, eram vagos demais para ela, ele muda. Antigamente, Fado observava seus humanos com tédio; todos se afogavam na miséria e no fracasso por suas escolhas mal feitas. E então, de uma hora para outra, ele resolve mudar a situação e ajudar seus humanos a escolherem caminhos melhores. Afinal, já estava farto de verem todos sofrerem.
Mas isso era proibido pelas leis de Jerry. Jerry ficaria puto com Fábio. Lá pelas tantas, deus manda um e-mail — afinal, estamos em tempos de tecnologia avançada — para Fábio. Ele recebe uma advertência, da qual não dá ouvidos, e continua a interferir na vida dos humanos, até que Destino entra no caminho dele. Destino era uma putinha, como ele dizia. Uma vadia vaidosa, que adora vermelho, e tem um ego enorme só por que tem capacidade para decidir a vida dos humanos.
Fabio conversa com Carma, sobre as consequências de mudar o fado dos seus humanos. Carma é um bêbado sem noção, impaciente. Mas como eles tinha algo em comum, se davam bem. Afinal, Carma é a consequência imediata dos atos mal feitos. Só que Carma matou muitas das aulas que tiveram antes de serem lançados ao mundo, e lhe dá péssimos conselhos. Fábio, sem saber bem como agir, resolve fazer o que acha melhor.
No entanto, ironicamente, ele piora sua situação. Ele faz escolha equivocadas, onde Destino também interfere. Mas há uma razão por trás dos atos dela, que ele desconhece. Ele suspeita, mas não tem total certeza. E o que é pior, envolve a Sara. Nesse meio, todos eles recebem um e-mail de Jerry avisando para se prepararem para a chegada do novo Messias. Já não era sem tempo!, pensava Fabio. Afinal, como as coisas andavam caóticas no mundo, alguém deveria por ordem naquela bagunça. Mas Fabio é demitido do cargo de Fado, e é transformado em humano. E por consequência de seus atos infratores, Sara deve ter a memória apagada. O que significa que ela jamais lembrará sobre qualquer relação que tivera com ele. Afinal, humano nenhum deve saber sobre eles.
A transformação da imortalidade para mortalidade é dolorosa. E, desacostumado a não ouvir as vozes que lhe contavam sobre o futuro das pessoas, ele precisa se habituar a ser humano, a sentir dores, fome e ficar doente... E só então, ele entende como é duro ser humano, viver sem saber o que está acontecendo, o que vai acontecer... A vida é muito mais difícil do que ele imaginava. E a cada dia que se passa, Fábio vai se afogando em suas mágoas e garrafas baratas de álcool.
Bom, se me deixar, eu conto o livro inteiro. Não vou fazer isso. O livro é ótimo, arranca boas risadas. E o final é simplesmente surpreendente. Em momento algum o autor dá pistas do que pode acontecer, tornando tudo inesperado. O autor escreve perfeitamente bem sob a perspectiva masculina sobre tudo, e isso é uma das coisas que mais apreciei. Geralmente a mulher escrevendo no ponto de vista masculino tende a afeminar em alguns aspectos, principalmente o psicológico. E aqui, Fado é um ótimo exemplo de masculinidade. Além disso, o livro foge completamente do esteriótipo dos livros de fantasia adolescente. Há um grau de realidade muito densa, em tudo o que é dito a respeito das personagens. As personagens parecem realmente reais, percebemos que foram todos muito bem pensados e desenvolvidos.
Eu resumiria o livro como inteligente. Foi uma sacada muito boa que o autor teve. E agora é só esperar pelo segundo...