VG 28/02/2016
Um bom mal
Em primeiro lugar, de cara podemos perceber que esse livro parece uma espécie de elogio à literatura, perpassado constantemente por citações e referencias mais ou menos explícitas a diferentes escritores, como Kakfa, Borges, Gide. Porém, é um livro que demanda um tempo de digestão e leitura talvez incômodos para o leitor – acostumados que estamos a ler vorazmente.
Acredito que essa necessidade de desaleração se dê pela recusa de soluções fáceis ou comuns, próprias ao “fast reading”. Ele trata de temas clássicos na literatura, como o fim da literatura, a dificuldade da escrita, de produzir. No entanto, cada passo que o autor dá em direção à construção de um estilo de escrita é suplantado pela sua subsequente desconstrução. Isso torna a leitura um pouco desgastante, às vezes, mas sempre instigante para o leitor, sempre desconcertante – como toda boa literatura. Esse livro, além de questionar a literatura, questiona também a existência dos seus personagens, do narrador e do próprio livro que está sendo lido.
Além disso, acredito que qualquer aficionado por literatura é capaz de se solidarizar com o narrador, sofredor do Mal de Montano. Afinal, ele não está sozinho nessa aflição: também nós já nos deparamos com a angústia da necessidade de ler ou escrever, ou com a invasão de nossos pensamentos por citações de escritores que nos são queridos.
Embora tenha tido que ler aos poucos, eu gostei do livro e recomendo a sua leitura, especialmente àqueles interessados nas questões teóricas que rondam o tema literatura.
OBS: Um adendo. Hoje, procurando pel internet agumas das citações que aparecem ao longo do livro, constatei que elas são, provavelmente falsas. Isto é, o narrador (nada confiável) do livro engana os leitores ao atribuir certas falas a escritores consagrados, como Nabokov e Lobo Antunes. Mais do que mero truque, o recusro utilziado por VIla-Matas parece dialogar com a epígrafe em forma de pergunta que abre o livro: "Como faremos para desaparecer?". Como pode o autor desaparecer se a ele recorremos a todo momento?