Vê 03/10/2013Uma leitura absolutamente surpreendente, Morte no Litoral começou como mais um livro que se desenvolveria a partir de uma morte. Cheguei a imaginar que seria uma história de investigação, envolvendo muitos mistérios e o talento de um investigador: Inspetor Xavier. A história, de fato, contém vários mistérios, mas o maior deles, o que me fez terminar a leitura atordoada, está na nossa cara desde o início, bem embaixo de nossos narizes.
Olívia e Ronaldo Filho acabaram de se casar, mas, na sua lua de mel, ela acaba viúva, um dia após seu casamento. Foi aí que pensei que a investigação começaria. Mas, contrariando todas as minhas expectativas, o livro volta no tempo, acompanhando a evolução de Olívia, a caçula de uma família simples, mas desde sempre muito infeliz.
Desprezada pelos pais, pelos irmãos e pelos colegas na escola, Olívia decide fugir de casa, para longe de todos os maus tratos e da dor, indo viver nas ruas, completamente sozinha. Após algum tempo, ela se depara com Madalena, uma jovem mulher muito bem apessoada, que decide apadrinhá-la, tirando-a do caos em que está vivendo e oferecendo-lhe uma oportunidade única de crescer e desenvolver-se com maestria.
Engajada nos estudos, Olívia rapidamente torna-se uma jovem impecável, sendo arduamente preparada pela madrinha a estagiar em uma das maiores construtoras do país. Todavia, esse acolhimento vem com um preço, algo que Madalena jamais deixa Olívia esquecer. Em algum momento, a jovem deverá pagar-lhe todos os anos de ajuda, prestando-lhe um enorme favor. Algo que permanece um mistério boa parte do livro.
Morte no Litoral me fez realmente pensar em como Olívia era azarada. Já começamos a leitura com a perda de seu marido e, depois, com a volta no tempo, percebemos o quanto sua vida foi sofrida desde o início. Madalena, a princípio, parece a luz no fim do túnel, mas logo mostra-se uma mulher aficionada pelas trocas de favores, que não está simplesmente disposta a fazer o bem; ela já conta com segundas intenções no momento em que repara no potencial da jovem afilhada.
Até chegarmos à real investigação, a autora conseguiu me fazer suspeitar de todos os personagens. Ninguém escapou. Nádia São Paulo construiu sua história de forma que não pude descobrir quem era o verdadeiro culpado até o final. Todos os caminhos que ela traçava me levavam a becos sem saída, o processo de eliminação pelo qual passei ao descobrir um pouco mais sobre esse império no qual todos os personagens orbitavam não foi suficiente para que eu chegasse à verdadeira resposta. E foi esse desfecho que me deixou completamente estupefata.
Ao contrário de outros livros com temas policiais que já havia lido, Morte no Litoral optou por acompanhar a vida de Olívia logo após o assassinato do marido, em um enorme flashback, ao invés de ir investigando aos poucos seu passado ou de qualquer outro personagem. Apesar de a narrativa ser em 3ª pessoa, é Olívia que acompanhamos. E o Inspetor Xavier, responsável pelo caso, que eu pensei que veria desde o começo, apareceu somente na reta final. Achei que ele comandaria a história, mas acabou sendo um mero peão nas mãos da autora sem, todavia, perder o brilho e sua participação indispensável para atar todos nós.
Morte no Litoral foi uma enorme surpresa, escrito de forma intrigante, a autora soube virar minha compreensão sobre seu livro no avesso. Tudo o que eu pensava saber caiu por terra no momento em que ela decretou o xeque-mate e concluiu sua intrincada trama, cheia de intrigas, trocas de favores, influências e ganância.
Uma leitura que não deve faltar de forma alguma se você curte um bom mistério. Muito bem escrito, rápido de ler, mas difícil de solucionar. Você só saberá quando a autora quiser; antes, poderá "brincar" com as peças que ela for lhe deixando no desenrolar do enredo. Absolutamente encantador e surpreendente!
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