spoiler visualizarMateus 14/01/2022
O Bom Soldado, e o vazio da paixão.
O Bom Soldado, escrito por Ford Madox Ford, transmite a sua história de uma forma peculiar, não convencional, e que abre espaço para diversas interpretações e reflexões.
O autor escolhe um tipo de narrador diferente, o narrador personagem, ou seja, aquele que conta e participa da narrativa. Pude perceber em leituras como Dom Casmurro, que esse tipo de narrador não é completamente confiável, pois o leitor só tem acesso a percepção de um personagem, que pode muito bem manipular as informações que são transmitidas a nós.
Porém, especificamente nessa leitura, embora o narrador conte a sua história em primeira pessoa, penso que há verdades na obra, e que ele não tem motivos para mentir, diferentemente de Bento Santiago, narrador do livro Dom Casmurro, já citado neste texto.
O personagem principal se chama John Dowell, um homem americano, rico, e que nunca teve grandea ambições. Segundo as suas próprias palavras, irá nos contar a história mais triste que ele já ouviu, ( viveu).
John faz um perfil de cinco personagens, Florence, Edward, Leonora, Nancy Rufford, e ele mesmo.
Florence, mulher de John, por vezes me lembrou Ema Bovary, personagem do livro Madame Bovary, uma mulher interesseira, insatisfeita, maléfica, manipuladora, cruel, e que supostamente tem um problema no coração, o que não é verdade, já que esse problema é só uma desculpa para os adulmerios que a mesma comete. John a conhece viajando pela Inglaterra, e decide se casar com ela. Florence também demonstra interesse, não por John, mas sim pelo seu patrimônio.
Edward, o Bom Soldado do título, descendente dos Ashburnhan, é um grande homem público, virtuoso, que demostra compaixão e empatia pelos pobres, e que atende a necessidade de todos, menos da sua esposa. Ele é o típico homem sentimental, que leva as suas paixões ao extremo. Além disso, cometeu diversos adultérios durante toda a sua vida, até mesmo com Florence, mulher de John.
Leonora, esposa do bom soldado, é uma católica irlandesa, com mania de controle, que sabe muito bem o que seu marido faz, mas, como foi criada de uma maneira muito rígida, acredita que é seu dever manter o casamento, pelo menos a vista da sociedade, e, principalmente da sua Igreja. Além disso, se sente responsável pela saúde e estabilidade financeira de Edward, o que suga toda a sua energia.
Nancy Rufford, filha de uma amiga de Leonora, que é tratada como uma espécie de sobrinha por Leonora e Edward. Nancy beira a loucura, já que desde a infância nunca teve uma estabilidade familiar, e também terá um caso com Edward.
E por fim, o próprio John, que por vezes, fica a margem da sua própria vida, já que, assim como Leonora, se sente altamente responsável pela saúde de Florence , o que tira toda a sua energia.
Mas, como todos esse personagens se ligam? John e Florence conhecem os Ashburnhan durante a sua estadia em um hotel inglês, eles se tornam amigos, e vivem em contato uns com os outros por alguns anos.
E é a partir dai que a narrativa começa a ser desenvolvida, com uma escrita cheia de contradições, rodeios, não linearidade, não com o propósito de manipular, mas sim pelo fato do próprio John estar atordoado com a sua passividade com o que aconteceu durante tantos anos a sua frente, mas que ele só percebe agora, como alguém que procura saber a verdade, e desvendar o que realmente aconteceu.
Mas, para não me estender tanto, gostaria de chamar a atenção do fato de Edward, um homem que se deixa levar pelas suas paixões, e perceba, não pelo amor, que é algo belo, mas sim pela paixão, algo momentâneo, líquido, vazio. O homem que só busca satisfazer os seus desejos é escravo dos mesmos. É isso que Edward é.
No fim, uma das lições que podemos tirar do livro é a questão de pessoas vazias, e que buscam preenchê-lo com coisas supérfluas, banais.. E que por tentarem colocar sentido em suas vidas com sintomentos superficiais, acabam tendo fins terríveis, como a morte, o suicídio ou a loucura.
Um ótimo livro, que, mesmo não sendo convencional, me fez ficar fascinado pela história que estava sendo contada. Uma obra que com certeza, só crescerá em futuras releituras, pelas grande reflexões que ela traz sobre a sociedade, as paixões, e sobre nós mesmos.