Carina 10/09/2013
Uma terra do nunca que nunca imaginaríamos
Terra do nunca, Peter Pan, Wendy, Sininho, Capitão Gancho... elementos conhecidos? Se você respondeu "sim" com base no filme da Disney, reveja seus conceitos. A história original do menino que não queria crescer é incrivelmente mais rica do que poderíamos imaginar.
Peter Pan não é um herói que luta pelo amor e pela justiça. Trata-se, ao contrário, de um menino atrevido, muitas vezes malvado e quase que totalmente desapegado a amigos e família. Sininho, por sua vez, tem requintes de crueldade ao tentar matar Wendy. Capitão Gancho é um personagem extremamente bem construído, que lida com sérios e graves conflitos internos. A Terra do Nunca é bastante realista, regada a sangue e a conflitos desnecessários - a arte imita a vida. Talvez com toda esta explicação, alguns queiram retirar a obra da prateleira de literatura infantil, o que seria um erro tremendo.
A narrativa de J.M. Barrie é absolutamente digna de ser rotulada de história para crianças. Apesar de muitos conflitos e brigas um tanto adultos, o enredo brinca com o poder do faz-de-conta de um modo emocionante. Revela às crianças a delícia de não sermos adultos engravatados, politicamente corretos e invariavelmente chatos. Ao contrário de grande parte da literatura infantil de hoje, que esconde todo o sofrimento e dor que possam existir no mundo, a história de Peter Pan consegue ser imaginativa e lúdica sem ocultar a realidade: as pessoas brigam, se machucam, morrem. E, no entanto, a vida merecle a pena ser vivida.
A única ressalva que faço é em relação à organização do livro pela L&M Pocket. A primeira história, "Peter e Wendy", foi a que resenhei acima. A segunda narrativa, "Peter Pan em Kensington Gardens", é bastante pobre, especialmentese comparada à primeira. Nesta última novela, Peter se torna um personagem bem mais plano e fácil de compreender - ao nível do estereótipo. Além disso, a narrativa é uma amarração de pequenas histórias sem primar pela coesão. Para quem deseja conhecer um Peter Pan maravilhoso e complexo, recomendo a primeira história. Para quem se contenta com o clichê, a segunda.