Andre392 14/03/2020
A Filosofia Grega Antiga Sobre o Amor
Há algum tempo não muito distante eu havia lido trechos desse texto, e muito embora tivesse uma visão fragmentada, eu tinha permeado em minha mente uma vaga ideia do que se tratava esse livro. Nessa resenha eu nem de longe pretendo traçar um panorama da filosofia grega. Meus conhecimentos sobre filosofia são voltados a partir de uma visão histórica do período, compreendo que a minha formação usa da filosofia com instrumento de auxílio para a compreensão da História (com H maiúsculo) como tecido de compreensão social. Enfim, vamos aos fatos.
O Banquete foi um texto produzido no final século IV a. C. atribuído ao filosofo grego Platão, seguidor do mestre filosofo antigo Sócrates. Basicamente o texto fala sobre as naturezas filosóficas do amor, o entendimento de conceitos comuns ao pensamento grego antigo. As ideias desse discurso se articulam no pensamento filosófico que interliga a exegese religiosa dos acontecimentos a uma interpretação dos mitos e da religiosidade politeísta grega daquele período, para que se justifique o estado das coisas.
Agaton é o anfitrião de uma festa entre filósofos amigos. Ele convida o conhecido filosofo Sócrates para um banquete em sua casa, em que também lá se encontram Fedro, Erixímaco, Pausânias, Aristodemo e Aristófanes. Eles particularmente estão entediados, mas se propõem a filosofar sobre o amor a partir de um discurso apologético ao semideus Eros. Cada um dá seu ponto de vista sobre Eros, colocando os pontos principais sobre a filosofia do amor, suas interpretações sobre os conceitos ligados aos deuses, esse amor de várias facetas, e a devoção para com a vida e suas próprias realidades interpretadas.
Eros como contraponto a Afrodite (deusa do amor perpetuo/efêmero), representa o conceito carnal de amor consumado (a exaltação da eternidade que é a interpretação de Sócrates) em uma ideia de “belo” e “eterno”: uma alegoria aos valores e significados que damos as relações que envolvem amor, a amizade e a cumplicidade. Do amor se extrai os exemplos da vida comum grega; coisas que vão da ideia médica do amor de Erixímaco até a amizade e a relação amante/amado de Agaton. A volatilidade dos anseios pela perpetuação do sangue aos sentimentos mais puros, exaltados com vivacidade por Sócrates. O que se tira superficialmente de lição é a contradição dos caracteres humanos, das suas formas de sentir e pensar e suas relações com o mundo. O final do banquete termina com todos ébrios, consumindo vinho e celebrando o amor e a vida, a amizade e as diferenças.
Particularmente não achei que o final, o discurso bajulador de Alcibíades (último conviva que adentra ao recinto do banquete) para Sócrates, fosse algo interessante. Resumindo: são dois bêbados se elogiando em um final que não faria tanta diferença se não existisse daquela forma. Enfim, os termos ali, em certo sentido, são muito enfadonhos. Não é uma escrita para iniciantes no mundo da leitura comum. Quem gosta de conceitos filosóficos esse livro é essencial para começar a entender os meandros e iniciar o caminho pela filosofia grega. É fundamental entender que é uma linguagem da época, portanto há um conteúdo, em certa medida, denso, e em muitos momentos bem prolixo. Quanto ao enredo, não tem muito o quê se dizer: é uma boa mesa de bar/bebidas dos tempos da Grécia Antiga, com filósofos dialogando sobre conceitos, especificamente sobre o amor e a vida.