PorEssasPáginas 01/03/2014
A Cuca Recomenda Senhor do Amanhã - Por Essas Páginas
Depois de ler A Aposta, da Vanessa Bosso, eu fechei o livro com uma sensação amarga, mas também um pouco doce. Apesar de não ter gostado do livro o quanto eu esperava, talvez por causa do tema, eu ainda assim apreciei a escrita da autora, que é ágil e envolvente. A autora então, super fofa e atenciosa, me indicou a leitura de outros de seus livros, mais a ver com meu gosto. Ela enviou pra gente um exemplar de Senhor do Amanhã, um romance conspiratório e cheio de intrigas. E ela estava certa: definitivamente, gostei muito mais desse livro, o tema é intrigante e a forma como o livro se desenvolve é instigante, mas os personagens não me convenceram. Ainda assim, é um livro que você deve ler. Entenda ao ler essa resenha.
Primeiro de tudo: essa sinopse é incrível. Quem escreve sabe que formular uma sinopse é um horror. Você precisa fazer duas coisas importantíssimas ao mesmo tempo: apresentar a história, mas sem revelar toda a trama e, especialmente, sem spoilers, e instigar o leitor, a ponto de ele ter curiosidade de adquirir o livro. É muito, muito difícil. E a Vanessa conseguiu elaborar uma sinopse perfeita: ela faz tudo isso e, de brinde, é super criativa. Foi a sinopse que me conquistou e me fez querer ler esse livro.
A segunda coisa fantástica em Senhor do Amanhã é o seu teor conspiratório e a maneira como ele foi construído em cima de acontecimentos reais. Segundo a própria autora em nota no final da obra, esta contém cerca de 70% de fatos verídicos. E é isso mesmo, você vai lendo o livro e se lembrando dos acontecimentos que acompanhou durante os últimos dez, quinze anos, e essa coisas, somando-se à trama do livro, vão dando uma sensação sufocante e espetacular de que a história é real – ou quase isso. Foi realizado um trabalho de pesquisa estupendo aqui pra reunir todos esses fatos e reuni-los em um livro, de maneira crível e envolvente. Há diversas referências a fatos, teorias que certamente já encontramos na internet e até mesmo ao Mito da Caverna, de Platão. Tudo isso foi, pra mim, a parte mais brilhante da obra.
Senhor do Amanhã começa com o ataque às torres gêmeas, nos Estados Unidos, no dia 11 de setembro de 2001. Já aí o livro chama atenção. Quem nunca desconfiou, nem que seja um pouquinho, desse dia? Há milhares de teorias conspiratórias envolvendo o 11 de setembro, e a autora soube aliá-las a também outras conspirações, sobre outros fatos, condensá-las e apresentá-las no livro. Nós conhecemos Jack Miller, um agente do FBI, e Helena, uma jornalista de um importante canal televisivo. A partir desse acontecimento de 11 de setembro, os próximos vão se desenrolando de maneira vibrante e de tirar o fôlego por todo o livro. São apresentados outros personagens e suas histórias vão se interligando gradualmente, até se chocarem com a verdadeira trama, que é o que está na sinopse: a Nova Ordem Mundial. Uma figura misteriosa, que se autodenomina Senhor do Amanhã tem planos de conquista global e vai agindo ao longo dos anos, colocando em prática uma agenda de acontecimentos terríveis a fim de aniquilar e dominar a população do planeta. E a resistência é formada por poucos que abriram os olhos para a verdade.
Toda a história é construída de maneira habilidosa e prende o leitor, e aí você me pergunta: afinal, qual foi o seu “porém” com o livro? Bem, o meu problema com ele foram os personagens. Eles não foram capazes de me cativar, de me envolver. E isso tirou um pouco o brilho que uma trama tão elaborada como essa poderia ter, ao menos durante a minha leitura.
Os personagens desse livro são extremamente caricatos. Jack é o agente durão, forte e cabeça dura, que ataca primeiro e age depois, e nega seus sentimentos para não se sentir fraco; Helena é a jornalista curiosa, teimosa e impulsiva, com um lado extremamente sensível, e os dois se apaixonam perdidamente. Key – que foi meu personagem favorito, apesar de tudo – é o hacker-nerd-inteligentíssimo-malandro-meio-gordinho-engraçadinho. O que eu quero dizer é: todo hacker precisa ser fora do peso, por exemplo? É desse tipo de coisa que estou falando. Não é um problema você trabalhar com um clichê, o problema é você utilizar vários em excesso. Foi isso que talvez tenha feito com que eu não me envolvesse o quanto deveria com os personagens e seus dramas. Eles não me conquistaram porque pareciam construídos em cima de uma fórmula pronta, uma receita de bolo. Você sempre sabe o que esperar deles. Talvez o único que tenha me surpreendido tenha sido o pai de Jack, mas foi só ele. Todos agiam exatamente da maneira como eu esperava em cima dessa fórmula. E o vilão? Bem, o vilão, ele é o maior exemplo disso. Ele é tão caricato que não consegui sentir nada por ele, nem mesmo raiva: falastrão, malvadão, maquiavélico, o típico vilão. Ele tão previsível que até a maneira de se referir a ele era clichê. Coisas como as duas citações abaixo:
“O ser diabólico avaliava as opções.”
“O infernal ajeitou a gola da camisa polo e encaminhou-se à mesa de mogno (…)”
“- Excelente. Tenho grandes planos para você no novo mundo. – o endemoniado condecorou.”
Foi mal, mas eu não consigo levar isso a sério. O vilão perdeu todo o meu respeito depois dessas citações. Até já fiz um Top Ten Tuesday falando sobre como estereótipos me desanimam em um livro. Simplesmente não dá pra mim.
O romance entre Jack e Helena também não me conquistou, mas talvez pelo fato de que os dois, primeiramente como personagens, não tenham me convencido. Como não me conectei aos personagens de maneira separada, é quase impossível que como casal eles funcionassem para mim. Outra coisa que me incomodou um pouco foi que, apesar de ser um livro com um teor talvez mais adulto, ele ainda mantém diversas vezes uma narração muito jovem, que não combinou com essa obra, especificamente.
O final também não me agradou, mas acredito que isso seja mais um gosto pessoal. O livro deu uma guinada para um clima sobrenatural que eu não esperava e que, pra mim, não combinou com todo o resto que foi desenvolvido durante a trama. A explicação foi muito mística, quando o resto do livro foi puxado para uma trama bem mais concreta. Talvez, se essa parte mais etérea da história fosse mais desenvolvida no restante do livro, a minha impressão desse final fosse mais positiva.
Mas e aí? A Cuca Recomenda? Sim! Mesmo com essas reservas, eu recomendo, gente. É um livro envolvente, mas acima disso, é um livro reflexivo. Você vai ler e encontrar fatos que conhece e pensar sobre eles. Não é que depois de ler você vá começar a criar teorias da conspiração, mas ao menos, alerta para abrir um pouco mais os olhos e não confiar de cara em tudo que se diz por aí na mídia e no governo. É uma obra pra deixá-lo mais esperto, mas, ao mesmo tempo, entreter. E um livro que faz refletir é certamente um livro a ser lido.
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