Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento

Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento Marina Colasanti




Resenhas - Doze Reis E A Moça No Labirinto Do Vento


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Elizabeth.Woolridg 24/05/2023

Doze Reis
Muito fácil de ler, difícil de interpretar. Poderiam facilmente passar por contos dos Irmãos Grimm!!
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Jannine1 19/04/2022

Meio cansativo
É pequeno, sim, eu sei. Porém é cansativo, a linguagem, e a continuação das histórias! Quando elas começam a ficar boas, acabam e começa outra, que vai demorar mais uma eternidade pra eu gostar e de novo, acabar sem um desfexo claro..confuso!
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Luciano 16/07/2022

Muito bom.
"Aos poucos, tempo passando sem que ninguém lhe ouvisse os passos, palavras foram se acumulando pelos cantos, frases serpentearam na superfície dos móveis, interjeições salpicaram as tapeçarias, um miado de gato arranhou os corredores".
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Kimberly F. 13/12/2009

Incrível
A Marina está de parabéns. Neste livro estão reunidos contos enigmáticos e únicos. A verossimilhança que ela usou prende o leitor e o faz viajar nas aventuras descritas. O conto que eu mais gostei foi, sem dúvida nenhuma, "Onde os oceanos se encontram". Conta a história de duas ninfas que são irmãs e o relacionamento das duas é marcado depois que ambas se apaixonam por um humano.
Recomendo...
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Raissa.Paes 17/12/2021

Sou suspeita para falar de contos de fadas, visto que é uma das minhas paixões, mas a Marina Colasanti consegue em poucas páginas se apaixonar pelas personagens e querer saber mais sobre cada conto. A leitura fluiu bem leve e gostosa.
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Cathy 27/07/2020

Contos quase de fadas para todas as idades
Composto por contos curtos e independentes, cada estória traz seu encantamento. Para os leitores mais jovens, serão apenas contos interessantes e com finais surpreeendentes. Mas os mais experientes e sagazes conseguirão enxergar lições de moral que emergem de cada labirinto, escondidas nas entrelinhas da fantasia. É leitura rápida e preenche uma tarde. Possui algumas figuras que podem auxiliar o leitor no exercício de sua imaginação.
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Maria 21/05/2021

Tinha que ler esse livro para a escola e não criei nenhuma expectativa para ele, e na verdade ele é muito bom! Vários contos curtinhos, muito gostoso de ler, e dando uma saudade dos contos de fada da infância. Gostei muito da escrita, e das ilustrações também, muito bom.
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Aaaana13_ 06/05/2021

Doze reis e a moça do labirinto do vento
Esse livro foi meu paradidático. Não tinha colocado muita fé nele mas acabei me surpreendendo.
Por conta própria nunca o compraria, até porque não é de um gênero com o qual estou familiarizada.
Meu conto favorito foi, sem sombra de dúvidas, o da moça tecelã.
Recomendo para aqueles que gostam de leituras rápidas
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Beatriz 14/08/2016

DOZE REIS E A MOÇA NO LABIRINTO DO VENTO
- A MOÇA TECELÃ
Havia uma moça que passava seus dias tecelando, tecelava linhas claras para o dia nascer e fios de escuridão para a noite chegar.
• Obs: “tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer”
Um dia se sentiu sozinha, pensou em como seria bom ter um marido ao lado, e começou a tecer um chapéu, um rosto barbado, e justamente quando tecia o último fio do sapato, um moço chegou na porta e entrou na sua vida. Naquela noite a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar sua felicidade.
Foi feliz por um tempo, o homem descobriu o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar. Quis uma nova casa, mas ela não lhe pareceu suficiente, e pediu para a moça um palácio.
A moça trabalhava por semanas, neve caia e ela não tinha tempo para chamar o sol, noite chegava e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia sem descanso os caprichos do marido e entristecia. E pela primeira vez pensou como seria bom estar sozinha de novo, então começou a desfazer seu tecido. Então como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara.
- ENTRE LEÃO E UNICÓRNIO
No meio da noite de núpcias, o rei acordou e ao se levantar viu deitado ao lado de sua mulher na cama um leão. Na manhã seguinte o leão tinha desaparecido, e à noite ele estava de volta no mesmo lugar. Quando a rainha acordou o rei contou-lhe sobre o estranho visitante, a rainha lhe disse que o leão sempre a acompanhava, mora na porta de seu sono, e não deixa ninguém entrar ou sair, por isso ela não tinha sonhos.
O rei para ajudá-la a ter de volta os sonhos corta as patas do leão. Na outra noite o quarto é invadido por dezenas de beija flores e enxames de abelhas, a rainha disse que dormindo ao lado do rei seus sonhos ficavam cada vez mais doces e floridos.
Uma noite o rei acordou e se deparou com um unicórnio azul, a rainha disse que era a montaria de sua imaginação, que leva seus sonhos lá onde ela não tem acesso e galopa a noite oda sem que ela lhe tenha controle. Na outra noite o rei montou no unicórnio e galoparam a noite toda. Durante os dias o rei só pensava em galopar de novo no unicórnio, e da rainha só desejava que adormecesse logo.
A rainha ressentia-se com a ausência do rei e manda chamar uma dama de companhia, pra ela pede que se escoda embaixo da cama e espere o sono da rainha, assim ela verá um leão e manda a criada costurar as patas do leão. Porém, enquanto a criada esperava, acabou adormecendo, e durante esse tempo o rei já havia saído para galopar com o unicórnio. Quando a dama acorda costura logo as patas do leão, assim nenhum sonho mais sairia das noites da rainha, e nenhum entraria.
- A MULHER RAMADA
Havia um jardineiro no palácio, a solidão começou a doer em seu peito e ele desejou uma companheira, no dia seguinte, trouxe num saco duas belas mudas, durante meses trabalhou conduzindo os amos de forma a preencher o desenho que só ele sabia, nasceu a Rosamulher, o jardineiro ia todos os dias visita-la.
A Rosamulher não possuía nenhuma flor, pois o jardineiro temia que a floração rompesse com tanta beleza. Porém, na primavera o jardineiro adoeceu, muitos dias se passaram até que pudesse voltar ao jardim, quando ele voltou havia uma rosa entre os olhos da mulher, e outra no seio despontava, florida pareceu ainda mais linda, o jardineiro nunca mais teve coragem de podá-la , mesmo para mante-la em seu desenho.
Ao longe raras pessoas se surpreendia com o esplendor da roseira, sem perceber que debaixo das flores o estreito abraço dos amantes.
- NO COLO DO VERDE VALE
O Tempo acreditava comandar a ordem de tudo com seus passos, empurrando mundo para a frente. Mas agora já não achava mais graça, pois já conhecia tudo o que havia em sua frente, só não conhecia uma coisa, parar.
Ao chegar num vale ele parou, e pela primeira vez descansou, e para sua surpresa, o mundo continuava se movendo. Não era ele, com seus passos, que ordenava tudo, eram eles, grilo e espiga, cada um deles que, com seus pequenos mov., faziam os passos do Tempo.
- UMA CONCHA À BEIRA-MAR
O filho do rei havia ganhado vários presentes no seu aniversário, mas o que ele mais havia gostado fora de uma concha, trazida por um rei de um país distante. Pela concha o príncipe podia ouvir o som das ondas, era só colocar no ouvido, nada era mais bonito.
Na manhã seguinte um respingo caiu em seu rosto da concha, era salgado de mar.
Na outra manhã viu uma longa trança loura escorrer pela fenda, com delicadeza a puxou, surgiu da concha uma pequenina sereia. Nada parecia deixa-la feliz, a água que saia da concha eram lágrimas. Só o mar ela queria. O príncipe então a leva de volta para o mar. Ele iria ver pela primeira vez a alegria de sua amada quando lhe mostrasse que havia voltado para casa, porém a concha escapou de sua mão e caiu do alto penhasco em direção ao mar. O príncipe fora procurar a concha, mas havia centenas de conchas rosadas como aquela que escondia seu bem-querer.
O certo é que todos que encostam uma concha no ouvido ouvirão apenas um marulhar distante, encobrindo pra sempre a voz perdida da sereia.
- ONDE OS OCEANOS SE ENCONTRAM
Onde os oceanos se encontram, aflora uma ilha. Ali, desde sempre, viviam Lânia e Lisíope, ninfas irmãs a serviço do mar, que no manso regaço da praia, vinha depositar seus afogados
Cabia a Lânia, a mais forte, tirá-los da arrebentação. Cabia a Lisíope, a mais delicada, lavá-los com água doce de fonte, envolve-los nos lençóis de linho que ambas haviam tecido. Cabia a ambas devolvê-los ao mar para sempre.
Um dia Lânia encontrou um corpo de um homem jovem e lindo, por quem ela se apaixonou, pediu a morte, pra quem ela sempre trabalhou sem nada pedir, a vida de volta do homem, a morte, tocada pela paixão, lhe devolveu a vida. O homem abriu os olhos e sorriu, mas desde o começo sorria mais para Lisíope. Lânia pede então para a morte que levasse sua irmã, a morte seduzida pelo ódio concorda. Lânia leva a irmã para dormir perto do mar, durante a noite o homem acorda e vai se deitar junto com Lisíope, o mar leva os dois. Na areia sobrou somente a forma dos dois deitados lado a lado de mãos dadas.
- UM DESEJO E DOS IRMÃOS
Havia dois príncipes, um loiro de olhos azuis, e um moreno de olhos verdes, eram tão diferente que ninguém diria serem filhos do mesmo pai, rei que igualmente os amava.
Cada um queria ser o outro, tudo o que um queria era aquilo que o outro tinha, e nesse desejo insatisfeito, esqueciam-se de olhar para si, de serem felizes.
O reino foi dividido, o céu foi dado para o loiro, que governasse junto ao sol brilhante, e ao moreno coube o verde mar, reflexo de seus olhos. O de cima sentiu calor e desejou ter o mar para sí, o de baixo frio e quis possuir o céu, decidiram disputar uma corrida, quem chegasse primeiro ficaria com o reino do outro.
Uma onda inchou e rolou, envolvendo os irmãos num mesmo abraço, jogando um corpo contra outro, juntando para sempre aquilo que era separado. Desliza a onda sobre a areia, depositando o vencedor, um único príncipe de olhos e cabelos castanhos.
- DE SUAVE CANTO
As garças chegaram no outono, pois aquele ano era reservado para o nascimento da filha da Rainha das Garças.
A primavera chegou, e com ela veio um lindo canto, e todos da aldeia se perguntavam se a princesa havia nascido, vários homens havia ido ver, mas nenhum voltou, o quaro, Taim, era o mais bonito, foi levado pelo canto, chegando ao ninho das Garças, viu uma linda jovem cantando, mas a moça estava distante, além da lama, Taim temeu nunca poder alcança-la.
Voltou para casa pensando nas coisas de amor que lhe diria se falasse a mesma língua, teceu então uma enorme harpa. Ouvindo a resposta de amor as garças abriam asas e se foram, deixando a moça sozinha. Na aldeia se perguntavam por que o canto havia se calado.
- O ROSTO ATRÁS DO ROSTO
Um Guerreiro das Tendas de Feltro apossou-se de um reino, tinha o rosto coberto por uma máscara de aço, os súditos achavam que ele a tiraria quando tirasse a armadura, mas depois de despida a armadura a mascara continuava em seu rosto.
Desejando se casar o guerreiro mandou chamar princesas interessadas, mas todas fugiam assustadas com a máscara. O guerreiro já ficava desesperado quando a mais delicada das jovens chegou montada num urso pardo. O guerreiro se casa com ela na condição de nunca mostrar seu rosto.
Passado um ano a rainha entristecia diante da fisionomia trancada, implorou para o marido tirar a máscara. Ele tirou por amá-la, mas debaixo da máscara de aço havia uma de bronze. Passado mais um ano a rainha definhava em melancolia e pede de novo para que o rei tirasse a máscara, por de baixo dela havia outra de laca, o rei pede para que ela nunca mais deseje ver seu rosto, mas depois de mais um ano, durante a noite, tomada pela curiosidade, a rainha tira a máscara do marido enquanto ele dormia, por baixo dela não havia rosto, só um escuro vazio contornado por cabelos.
- UMA PONTE ENTRE DOIS REINOS
No dia em que a menina nasceu a mãe mandou afiar a tesoura, falava que cabelo comprido dava trabalho, toda noite de lua nova a mulher cortava o cabelo da filha que chorava pedindo tranças. Passado os anos a tarefa ficava cada vez mais difícil, nada mais parecia capaz de cortar aqueles fios brilhantes como aço. O cabelo crescia até se arrastar no chão como um manto.
Só a menina podia tirar os fios de seu cabelo, de cada fio colhido emanava de sua cabeça uma gota de sangue que ao chegar ao chão transformava-se em um precioso rubi. A velha vendo a riqueza não se cansava de pedir fios e mais fios, rolavam os rubis que a velha rapidamente escondia em seus bolsos.
A fama da moça acabou chegando até o palácio, o rei, há muito desejoso de estender uma ponte até o reino vizinho, pede que a trouxessem até ali. A moça emendou vários fios, até chegarem no palácio, nunca havia se visto algo tão resistente. Estando pronta a ponte chamaram a jovem , iriam atravessar pela primeira vez a ponte. A mãe quis ser a primeira, a velha despenca da ponte por carregar muito peso de rubis em seu bolso. Então o rei pega na mão da moça e os dois avançam sobre a ponte.
- À PROCURA DE UM REFLEXO

- DOZE REIS E A MOÇA NO LABIRINTO DO VENTO
- PALAVRAS ALADAS



DOZE REIS E A MOÇA NO LABIRINTO DO VENTO
A Herança Mítica
Quando, em entrevista ao professor Garzuzi, presidente do Instituto Neo-Pitagórico, ouvimos: "Somos herdeiros da Humanidade." E após várias leituras da obra "Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento" de Marina Colasanti, objeto de nosso estudo; constatamos que o homem, como nos cita Eliade, se comporta sempre como os antepassados, e seus atos são um comungar com toda a criação. Vemos renascer os mitos de iniciação neste conto e percebemos, através da simbologia, que passaremos daqui por diante a analisar, que o homem carrega sobre seus ombros toda a herança dos antepassados. Herdamos deles o nosso comportamento e a nossa essência, e nos unimos na mesma crença mítica. Somos a Humanidade, porque segundo Fustel Coulanges:
"Nada de mais poderoso existe sobre a alma. E essa coisa é a crença. A crença é a obra de nosso espírito, mas não encontraremos nele liberdade para modificá-la a seu gosto. A crença é de nossa criação, mas a ignoramos. É humana e a julgamos sobrenatural. É efeito do nosso próprio poder, e é mais forte do que nós. Está em nós, não nos deixa, e cada momento nos fala. Se nos manda obedecer, obedecemos; se nos indica deveres, submetemo-nos. O homem pode dominar a natureza, mas está sempre sujeito ao seu próprio pensamento." (69)
E esse sujeitar-se à crença, num espaço secular, repete-se neste conto, porque está no Homem, pode ser obra de seu espírito, mas é mais poderoso que este, e esta crença volta cosmogonicamente a ressurgir consciente ou inconscientemente na obra de Colasanti.
"Trezentos e sessenta e cinco quinas bem aparadas tem o labirinto de fícus no meio do jardim." (70)
Assim se inicia a obra, já carregada dessa crença mítica. Quatro elementos se nos surgem: o ano, o labirinto, a figueira e o jardim. E ao buscarmos o significado desses termos em Cirlot constatamos que:
"O ano é o protótipo do processo cíclico; o labirinto tem por missão defender o centro, quer dizer, o acesso iniciático à sacralidade, como perda num mundo que é equivalente ao caos; a árvore (fícus): a vida do cosmo, sua densidade, crescimento, proliferação, geração e regeneração; coincide com a cruz da redenção; o jardim constitui um símbolo da consciência frente à selva (inconsciente), um atributo feminino." (71)
Retornamos ao ritual de passagem, à herança da Humanidade. Novamente temos a nossa heroína como centro, a sofrer um processo ritualístico. Todavia difere o seu comportamento de "A Bela Adormecida". Se nesta a heroína está apassivada, em Doze Reis... a heroína se iguala ao mito de Talanta.(72) Não é a mulher que desconhece as suas etapas e que exerce um papel de inconsciente. Num primeiro momento ela é protegida pelo pai através da criação do labirinto, mas a personagem quer saber o porquê da proteção; tanto que ela lhe pergunta:
"- Para que o labirinto, meu pai?
- Para domar o vento - responde o pai." (73)
Se o vento é "o poder fecundador e renovador da vida", (74)isso simboliza que o pai, sabedor de que ela não havia sofrido seu ritual de passagem, a protege. Não nos esqueçamos de que a figura do pai representa o consciente e o poder controlador.
Ao começar a perguntar sobre a realidade que a circunda, começa o processo de auto-conhecimento. Ela vê, desperta; não dorme. E o que vê são "Doze nichos de azulejo têm no fundo do jardim. E em cada nicho um rei barbudo, de mármore.
Ao que ela pergunta:
"_ Para que os reis, meu pai?
_ Para casar contigo, milha filha, quando chegar a hora." (75)
Observemos que o número doze significa "a ordem cósmica, salvação"(76), o que nos conduz à idéia de ritual, e, cônscio disso, o pai tece a redenção da heroína. Como citamos anteriormente, os números doze e oito, segundo Pitágoras, são perfeitos. Se o oito simboliza o batistério, notamos que o doze tem aqui a mesma função. Mais abaixo o texto é descrito: "De olhos fixos sempre abertos, olham distante de si os reis barbudos."(77) Cirlot aponta o olho como uma parte do corpo que tem autonomia de caráter, bem como a multiplicidade de rostos e de olhos aludirem à decomposição contraposta à vontade mítica de integração no Um.(78) Não nos esqueçamos também de que o pai "representa o mundo dos mandamentos e das proibições morais, que põe obstáculos à instintividade e à subversão por expressar também a origem". (79)
Em contraposição a esse obstáculo que é o pai, temos os olhos os quais marcam a autonomia da heroína. Tanto que após passarem os anos, sentindo-se apta, ela declara ao pai:
"_ Este ano, meu pai, sem falta, vou me casar."(80)
Ela não se rende às proibições paternas, sabe qual é o seu momento e este é expresso através do ano que novamente é citado. "Não olha para os reis. Mas é para eles que fala, porque o ano é novo e a hora chegou." (81)
A heroína avisa ao renovador do cosmo, o rei, que o ano é novo e a hora chegou; que ela está apta para recebê-los, que é una e necessita do seu oposto. Porém, se em "A Bela Adormecida", há a aceitação passiva e já destinada, aqui não. A mulher não irá submeter-se ao primeiro que chega, mas também, exercerá a sua autonomia na escolha. Imporá condições para a aceitação.
E assim se desfez a rigidez do primeiro rei. "Hora do primeiro rei..." ou "ocasião da ação humana."(82) Contudo, apesar de haver aquele pedido sua mão em casamento ao pai, ..."não é o pai que responde." (83)
"_ Caso com aquele que souber me alcançar - grita a moça do labirinto." (84)
Mas o número um que é "um reino absoluto, fechado em si mesmo, não admite o dois nem dualismo"(85) e assim vem o rei lento e tardo sentindo ainda no corpo o peso da estátua e perde-se entre as quinas, petrificando-se, ou retorna a si, tornando-se incapaz de desvendá-la, porquanto está fechado em si mesmo. Ele não aceita a insubmissão dela tanto que, tradicionalmente, dirige-se ao pai; contudo, fechado em seus próprios valores, não admite a imposição e perde-se entre as quinas e petrifica-se, ou em outros termos - pasma.
Passa-se o primeiro mês. "À espera de que o chamado venha tirá-lo da sua imobilidade olha o segundo rei para a moça, enamorado.
_ Este ano, meu pai, na certa vou me casar - diz ela enfim." (86)

Novamente temos a imobilidade do rei, que aguarda o poder decisório da moça, e, ao contrário de "A Bela Adormecida", é o rei quem dorme. Ela ocupa a função de consciente (príncipe), já que o rei é símbolo do inconsciente coletivo. E eis que chega a vez do segundo rei; "E o rei desce do nicho disposto a conquistá-la. Traz um galgo preso na coleira."(87) Ao consultarmos o "Dicionário de Símbolos", verificamos que galgo simboliza: "guardião e guia do rebanho, sendo alegoria, às vezes, de sacerdote"(88), e o número dois: "eco, reflexo, conflito, contraposição..." (89)
O segundo rei também não lhe seria propício, tanto que o cão e o rei voltam a petrificarem-se, porque o número dois a levaria à submissão ou à imagem e reflexo paterno; o que não condizia com a sua autonomia.
E assim, vem o terceiro, símbolo de união do dual. Só que ela não necessita desse terceiro elemento unificador e com ele ocorre a mesma coisa que com os outros.
"Seis meses se foram. E seis reis. No ar frio de inverno avança o sétimo, valente, arco e flechas ao ombro.
"_ Caso com aquele que cortar meu caminho - atira-lhe a moça sem pressa, à entrada do labirinto.' (90)
Se o arco simboliza "a idéia de tensão" e a flecha "tem um sentido fálico inegável"(91), e o rei não consegue acertar o centro, apesar das diversas tentativas, haja vista a sua tensão, cremos que diante da segurança da moça, ele vem a falhar ou a se tornar impotente em desvendá-la: "E parte a flecha rumo ao rumo da moça. Mas não é ao rumo que chega." (92)
Notamos que a moça não aceitou os arquétipos ou modelos de homens apresentados. Até aqui, três arquétipos são trabalhados no conto: o homem fechado em si mesmo, ou que traz a falsa concepção machista; o que lhe seria um pai, ou aquele que se mostra impotente ante a segurança da mulher atuante.
E sucessivamente, mês a mês, vão os reis tentando e imobilizando-se até chegar ao décimo segundo mês, e ao rei correspondente.
"Último rei de bela barba avança, espada na mão.
_ Com o homem que desvendar meu labirinto, só com esse casarei - diz ela procurando-lhe o olhar. E devagar some entre os muros verdes." (93)
Vejamos alguns elementos que nos darão apoio para concluirmos tal episódio e o porquê se deu a aceitação da moça. Cabeça; "É a imagem do mundo. Significa o céu ou símbolo de emancipação." (94)Espada: "signo de liberdade e força; continuidade da vida; fecundidade, símbolo fálico; comando elevado de alta hierarquia."(95) Doze: "ordem cósmica, salvação." (96)
Se levamos, também em conta a posição do rei ou casa que ele ocupa, vemos que se trata da décima segunda casa ou último mês do ano em que finda o ciclo. O número doze segundo Cirlot, representa "ordem cósmica, salvação ou círculo"(97). Portanto o ciclo da heroína finda, renovando-se o cosmo, tanto que por último ela diz que somente se casará com o homem que desvendar seu labirinto, ou seja, elemento centro. Ela já está apta, haja vista que seu ciclo está completo. Observemos que o rei, que se apresenta, é um inconsciente coletivo emancipado, que não se trata de um príncipe inseguro. Além disso, temos a espada que nos mostra que o rei não se inibe com a segurança da moça: "com toda a força que séculos de mármore lhe puseram nas mãos, desembainha a espada... abate, arranca... Vira o vento escapando pelos raigos..."(98) E por fim, desvendada, não existindo mais o labirinto, haja vista a destruição dos fícus por parte do rei, cria-se o caos, para o renascer de Eliade, renova-se o cosmo, criando-se assim uma nova ordem.
CONCLUSÃO
Ao findarmos as análises de "A Bela Adormecida "e "Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento", verificamos que apesar do grande mar que as separa, o mito permanece presente, determinando as relações entre indivíduos, até os nossos dias, porque, "É criação do Homem, mas é mais poderoso que Ele". Consciente ou inconscientemente Marina Colasanti, repete a cosmogonia existente na obra de Perrault. A numerologia, trabalhada por ela em sua obra, remete-nos à mesma existente em "A Bela Adormecida".
Se temos na primeira obra o número oito como base, na segunda temos o número doze, os quais nos enviam a um ritual de passagem. Numa obra o oito simboliza o batistério, o encerrar uma etapa de vida a fim de tornar-se apta para outra; enquanto que na segunda obra temos o doze, símbolo da ordem cósmica e da salvação. Revive o misticismo pitagórico, porquanto "Somos herdeiros da Humanidade". Todavia Colasanti não se apropria gratuitamente desse misticismo; mas utiliza-se dele em contraposição à visão da mulher de "A Bela Adormecida", na medida em que desvenda o mito e liberta a mulher de seu sono milenar. Se em Perrault, essa surge passiva à espera de seu consciente, em Colasanti, surge como dona de seus próprios atos e corpo. Tem consciência de si e de seus atos. Não dorme à espera de seu príncipe e não aceita aquele que lhe é destinado, mas traça o seu próprio destino, prova, averigua, constata. A mulher é posta na posição de consciente travando uma luta com o inconsciente coletivo na figura dos reis, tornando-se o príncipe "Consciente positivo-ativo herói vencedor da luta", contrapondo-se ao papel da mulher apresentada por Perrault, de "inconsciente passivo-negativo". (99)
Se em Perrault, a mulher é "um arquétipo ou superinconsciente que vive na Memória do mundo...", em Doze Reis... , Colasanti mitifica para desmistificar. Em "A Bela Adormecida" a princesa é despertada para uma nova vida social pelo príncipe; enquanto que em "Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento", a mulher é quem desperta o rei, dita-lhe a hora, escolhe, aceita-o; o que leva à supressão da figura de um príncipe, haja vista que a possuidora da consciência de que é chegada a hora, é a heroína.
Após esta breve comparação entre as obras, chegamos ao final compactuando com a visão de "Salústio" de que: "O Mundo é um objeto simbólico."(100), e que este simbolismo faz parte do inconsciente coletivo, sendo compartilhado por toda a humanidade. Aqui constatamos que o mito revela o pensamento de uma sociedade, bem como, sua concepção de existência e as relações que os homens mantêm entre si e com o mundo que os cerca, porque o mito pode ser obra dos homens mais é mais poderoso que eles. (101)





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Snow White 14/06/2012

Histórias e mais histórias
O livro "Doze reis e a moça no labirinto do vento" é muito bom! Recomendo esta leitura a todos. O livro fala sobre contos de fadas, mas, esses contos de fadas, fogem do padrão, já que nem todos eles falam sobre fadas, princesas e príncipes.Uma das únicas coisas que faz os contos não fugirem do padrão é a lição de moral no final.
A única coisa que não gostei no livro foi o título: "doze reis e a moça no labirinto do vento", já que esse não é o conto principal, e nenhum deles é , o nome do livro poderia ser : Contos para ler e reler ou Contos para quem não gosta de fadas, eu li esse livro 3 vezes e adorei!

Eu recomendo!


Raquel 16/06/2012minha estante
Gostei da observação! Você poderia ter comentado um outro conto pro pessoal se interessar.


RAQUEL 21/06/2012minha estante
Eu tb gostei do livro, sendo q tem algumas histórias meias chatinhas e outras bem legais.
Eu tb não gostei do título poderia ser qualquer outra coisa ela, ela não teve criatividade mesmo.


Maria Eduarda 16/07/2012minha estante
Gostei da sua resenha e vou ler o livro!




Marco 18/09/2022

Um primor nostálgico das épocas de escola
Este livro era uma das minhas leituras obrigatórias na época do colégio mas nunca cheguei a terminá-lo.
Hoje, depois de anos e querendo experimentar um pouco de Marina Colasanti, resolvi me aventurar em sua escrita. Foi uma das melhores escolhas que tive em meu dia.
Sua escrita fluida e imaginativa convida o leitor a mergulhar em seu universo fantástico. Sua escrita em prosa é tão melodiosa quando uma poesia, e as descrições chegam a ser oníricas de tão leves que são.
São treze contos curtos que podem ser lidos numa sentada só, mas que serão melhor aproveitados se vc se permitir mergulhar no contexto de cada universo criado.
Uma obra digna dos contos de fadas e que certamente precisa ser lida por todas as idades.
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Ione.Bispo 15/03/2021

Uma leitura rápida e não é cansativa! Serve para todas as idades.Gostosinho de se ler!
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alfaiaspace 13/11/2022

Melhor do que eu esperava.
Pensei que seria só mais uma leitura pra cumprir meta, mas acabei gostando bastante. As histórias tinham o tom certo, envolviam, ensinavam, encantavam. Terminei querendo mais!
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Gio..books0 28/01/2021

Cansativo
Comecei a ler esse livro por ter me apaixonado por "Uma idéia toda azul", da mesma autora. Então comecei a lê-lo com muitas expectativas, expectativas essas que foram quebradas.
Admito, o livro é bom, muito bom, mas cansativo. Até a metade da leitura estava fluindo muito bem, mas depois começou a ficar muito cansativo e os contos foram perdendo o encanto.
"Uma ideia toda azul" é sem dúvidas, um dos meus livros preferidos e este não me prendeu tanto.
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