LiteraLucas 09/01/2024
Um dos melhores livros de todos os tempos!
Dizer que este livro é simbólico é chover no molhado. Ou melhor, no mar. Poucas vezes na minha vida eu tive a oportunidade de ler um livro tão poético, tão denso e tão arrebebatador. MOBY DICK é um monumento literário maior que o tempo, digno das antigas epopeias gregas e das tragédias de William Shakespeare. Parte indissolúvel do Cânone Universal.
As referências incorporadas a este livro são multiplas, o que reforça o seu aspecto de obra clássica. Titânico, olímpico e shakespeariano são adjetivos muito apropriados. Trata-se de uma obra com toques cósmicos, como a Teogonia de Hesíodo, que coloca o homem em contraposição ao divino, como a homérica Odisseia, e que expõe a tragédia humana em sua minúcias mais obscuras, como habilmente escreveu o Bardo Inglês. Os solilóquios não me deixam mentir.
MOBY DICK é uma obra que fala sobre a ordem natural. A Baleia Branca é ao mesmo tempo Deus, Diabo e Natureza. Muitas vezes mesclados e indistinguíveis. Os inúmeros capítulos informativos que permeiam a obra são na verdade pontos de observação das estruturas e fundamentos do mundo. Ao conhecermos os detalhes da pesca baleeira entramos em contato com a racionalidade daquele universo e o funcionamento daquele mundo particular, que é ao mesmo tempo uma representação do universo. Tudo isso está no livro para mostrar o quão irracional é o objetivo do Capitão Ahab.
Faltou mencionar que MOBY DICK é também um livro bíblico. Tanto por suas referências ao Livro de Jonas, quanto por seu aspecto teológico. Como escreveu João, o evangelista, "No princípio era o Logos, e o Logos estava com Deus, e o Logos era Deus". Portanto, Deus, ou A Baleia, é uma expressão da mais pura racionalidade (Logos), que ordena o mundo (Cosmos) segundo os seus desígnios mais misteriosos. Assim, MOBY DICK é uma inteligência divina. É platônica. E desafiá-la é lutar contra a ordem. É loucura. E sendo Ahab um monomaníaco, um obssessivo, o resultado só pode ser apocalíptico.
A Baleia é também uma alegoria do subconsciente humano, navegando nas profundezas dos mares de nossos infinitos pensamentos. É o que há de mais íntimo e obscuro. Jonas, ao desobedecer Deus, é punido e engolido por uma baleia. Devorado por intensas reflexões, o profeta hebraico reconsidera. O mesmo ocorre com Pinóquio, que também desobedeceu a Deus, que é Gepeto, seu pai e criador. Ao sair do ventre da baleia, de sua Câmara de Reflexão, torna-se um menino de verdade. Integrado ao mundo e consciente de si.
Não podemos dizer o mesmo do incorrigível Ahab.
Por Lucas Nogueira Garcia. (LiteraLucas)