Ficção de Polpa - Crime!

Ficção de Polpa - Crime! Carlos Orsi
Carol Bensimon
Octavio Aragão
Carlos André Moreira




Resenhas - Ficção de Polpa - Crime!


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Coruja 22/10/2013

Esse título foi indicado para o Booktour do Clube do Livro e depois de ter lido o primeiro volume no ano passado, estávamos todos bastante empolgados para começar esse aqui.

Então, a primeira coisa que tenho a dizer é que Ficção de Polpa – Crime não foi tão legal e surreal quanto o primeiro volume que a turma do clube encheu de post-its com comentários sem noção para as narrativas igualmente sem noção do livro. O que não significa que ele tenha sido ruim – muito pelo contrário, eu me diverti bastante com o livro.

São sete contos bem curtinhos, com autores brasileiros e portugueses, além de uma faixa bônus com Ernest Bramah, que eu não conhecia, mas foi um contemporâneo mais famoso de Conan Doyle que acabou sendo esquecido ao virar de páginas dos folhetins...

Começa o volume muito bem com As Muralhas Verdes, de Carlos Orsi, que trata de um assassinato num programa de reality show. A história foi, para mim, surpreendente do começo ao final, primeiro porque a idéia de um crime ocorrer num espaço que é constantemente vigiado por câmeras representa um desafio e segundo porque o autor conseguiu trabalhar isso de forma que houvesse pistas que não fossem óbvias, e que o suspense funcionasse muito bem.

O segundo conto, A Conspiração dos Relógios, talvez fosse um dos meus favoritos se o mistério que o detetive investiga não fosse um tanto morno. Mas o fato é que a idéia de um detetive esquizofrênico que tem como sidekick um coelho azul gigante chamado Tobias é genial e eu bem que gostaria de ler uma história com um pouco mais de desenvolvimento desses personagens.

A Aventura do Americano Audaz, divertiu-me bastante com suas referências cruzadas. Primeiro, porque soube utilizar muito bem a figura de Sherlock Holmes, segundo porque respeitou a inteligência do bom doutor Watson (e cá entre nós, adorei a alfinetada que Watson dá durante a narrativa sobre os leitores que o subestimam) e terceiro, porque o mash-up que ele faz com Drácula foi muito bem bolado. Eu gostaria que o final tivesse sido um pouco mais trabalhado também, mas de toda forma, o conto conseguiu me agradar bastante.

A história seguinte me deixou confusa, com calafrios e uma certa náusea – e acho que essa era justamente a intenção do autor. A forma como os pontos de vista dos personagens de A Carne é Fraca se sucedem ao longo da narrativa fazem crescer a expectativa de uma determinada situação, que ao chegar ao final passa por uma total virada. A escolha do ambiente em que a história se passa – um açougue – reforça essa confusão e o medo que o conto provoca. Como história curta, funciona bem demais, se basta em si mesma.

O último conto original do volume é Um dos Nossos, e é, na minha opinião, o melhor dos contos apresentados. O autor soube utilizar muito bem o plano da cidade de Porto Alegre, soube dar o clima certo. É uma história que está firmemente ligada à realidade brasileira, inclusive na questão da corrupção policial.

O volume todo funciona bem ao que se propõe, alguns melhores do que outros e certamente me deixou com água na boca para ver os outros títulos da série. Uma feliz homenagem ao gênero dos pulp fiction, sem dúvida alguma.

site: http://www.owlsroof.blogspot.com.br/2013/10/clube-do-livro-booktour-ficcao-de-polpa.html
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Luciane 13/04/2013

São contos policiais, alguns muito bons, outros nem tanto.
O que eu achei mais surpreendente foi A Carne é Fraca. Jamais teria previsto o final.
Este livro é do Grupo Livro Viajante: http://www.skoob.com.br/topico/grupo/1284.
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Annie 14/09/2011

Ficção de Polpa - Crime!, por Ana Nonato.
Espaço
• Caracterização:


"As Muralhas Verdes": como o espaço é de muita importância para a ação, sua descrição tem maior foco durante a história. A descrição feita pelo autor é de fácil assimilação.
"A Conspiração dos Relógios": há "objetos" que são determinantes na história; é uma descrição mais específica de cada ambiente em sua relação com a história. A visualização de todo o espaço não é completa, por conseguinte; o que, todavia, não altera o rendimento do enredo.
" A Aventura do Americano Audaz": por se tratar de um "caso" de Holmes e ser detalhado por Watson, a visualização do espaço, por mais que se pretenda o contrário, é pessoal (como muitas vezes ocorre nos livros de Doyle). Uma descrição detalhada dos ambientes com o enfoque subjetivo de Watson.
"A Carne é Fraca": A caracterização deste espaço é um tanto confusa no começo por se tratar de um relato; assim, as personagens que narram este enredo não seguem uma linearidade (o que é plausível). Após algumas páginas e a troca dos narradores, é possível se familiarizar melhor com os locais.
"Agulha de Calcário": um dos espaços de mais difícil visualização. Além de várias pessoas narrando o contexto (como no conto anterior), há ainda os locais em que as cenas se passam, que são mais abrangentes. Assim, é possível que o leitor se confunda em algumas cenas (principalmente perto das Falásias), mas nada que altere o aproveitamento desta leitura.
"Um Dos Nossos": a caracterização deste espaço é a mais impessoal e direta de todas. Por se passar no Brasil, também é a de melhor visualização (pelo conhecimento do público da situação nacional).
"A Moeda de Dionísio": O espaço desta narrativa é descrito de um modo mais casual, de modo a ambientar melhor o leitor em toda sua extensão; não é desleixado, todavia: esta forma de caracterização tem sua razão de o ser.

Tempo
• Caracterização:

"As Muralhas Verdes": Por se tratar de um enredo mais com mais "ação" em sua construção, o tempo é linha fundamental desta narrativa, muito embora não seja absoluto.
"A Conspiração dos Relógios": Infere-se, pelo título, que o tempo tem fundamental participação neste enredo. Há a definição numérica, mas esta é apenas uma das formas menos utilizadas de tempo neste enredo.
" A Aventura do Americano Audaz": Por se tratar de um relato de Watson, o tempo aqui só tem a importância na constituição de uma linha narrativa constante; sua participação não é muito efetiva.
"A Carne é Fraca": O tempo neste conto é relativo a cada uma das personagens que o narra. Algumas o definem com números; outras se utilizam de referências externas para determiná-lo.
"Agulha de Calcário": Embora seja narrado por mais de uma personagem, o tempo, neste conto, é fixo: o que se alteram são as paisagens, mas não a ordem dos acontecimentos.
"Um Dos Nossos": O tempo é utilizado de forma cronológica neste enredo, sem grandes participações.
"A Moeda de Dionísio": O tempo é definido aqui, embora não participe de forma efetiva do enredo (está indiretamente relacionado ao espaço).


Personagens
"As Muralhas Verdes": As personalidades de cada uma são descobertas ao longo do enredo (até mesmo a do detetive). As personagens da "Muralha" são fator decisivo para que houvesse o crime.
"A Conspiração dos Relógios": A perturbação que os objetos produzem nas personagens são muito bem descritas e elaboradas.
" A Aventura do Americano Audaz": Holmes, através de Watson, é quem demonstra as personalidades de cada um e sua relação com o caso em questão. É preciso uma leitura atenta para que se entenda e decifre o motivo para o "crime".
"A Carne é Fraca": A melhor construção das personalidades dos contos aqui citados. A narração feita por três pessoas diferentes, cada uma com seus interesses e visões pessoais, não possibilita ao leitor que as entenda com clareza a princípio.
"Agulha de Calcário": A personalidade das personagens, aqui, é mais utilizada para identificar os narradores e suas percepções de mundo... Não tem uma participação efetiva no enredo.
"Um Dos Nossos": As personalidades aqui são bem marcantes, construídas e definidas desde o começo. Assim, ao desenrolar dos fatos e da investigação, o leitor, através das personalidades conhecidas, consegue acompanhar a linha de raciocínio e elaborar teses próprias.
"A Moeda de Dionísio": As personagens são um pouco mais intimistas neste romance, embora ainda haja um traço de objetividade e imparcialidade nas ações e descrições das mesmas.


Coerência entre espaço, tempo e personagens
Em todos os contos, a coerência é presente; o que se altera é a participação de cada um dos elementos (espaço, tempo e personagens) nos enredos de acordo com os focos narrativos.


Enredo
"As Muralhas Verdes": Narrado em primeira pessoa, não deixa transparecer as deduções do investigador; traz ao leitor a possibilidade de pensar por si próprio nas motivações e na possível arma do assassinato "sem provas".
"A Conspiração dos Relógios": Narrado em primeira pessoa, tem um enredo um pouco mais subjetivo que o primeiro, além de uma linha mais fantasiosa na investigação.
" A Aventura do Americano Audaz": É um enredo muito próximo das narrativas de Watson, escritas por Arthur Conan Doyle. Diferem-se, apenas, nos termos utilizados (há uma notável alteração no linguajar da época, embora isto não altere o enredo de forma significativa). É narrado em primeira pessoa.
"A Carne é Fraca": Possui três narradores, todos eles em primeira pessoa. Não permite ao leitor ter uma visão clara dos mocinhos e dos vilões deste conto, induzindo-o a tirar suas próprias conclusões (e se surpreender no final).
"Agulha de Calcário": É uma história interessante, embora não tão focado no crime em si. Possui três narradores oniscientes, mas a dedução do crime independe destes.
"Um Dos Nossos": Um enredo intrigante. Não é possível, em um primeiro momento, determinar as causas do crime; assim, o leitor tem de se apegar às deduções dos investigadores e começar a montar as suas próprias; parecido com "A Carne é Fraca", mas tem uma linha de narrativa impessoal (narrado em 3ª pessoa).
"A Moeda de Dionísio": Um enredo bem clássico e interessante: um suspense velado que ronda o leitor...


Capa
A capa é simplesmente incrível. Com boa ilustração, remete a um estilo de composição mais antigo e comum aos nossos antepassados, algo "popular", mas não menos belo. A contra-capa também é de tirar o fôlego: com uma estruturação que remete a um disco de músicas, aos anos de glória dos LPs.

Sinopse
Cumpre com perfeição o seu papel, já que este livro não tem apenas um enredo; os contos não podem ser resumidos a uma linha somente. Cada um merece uma descrição de si (como se verifica na contra-capa).

Estrutura física
O tamanho é propício ao tamanho das narrativas, permitindo a leitura dos contos em qualquer local. As ilustrações são muito bonitas e condizentes com os enredos, e os cartazes por entre as histórias remetem aos "tempos de glória" supracitados. O único que pode se tornar um problema é o conto "A Conspiração dos Relógios", que tem a marca mais tradicional do linguajar português e que pode confundir o leitor desavisado nestas construções típicas do falante da região.

Gostou da obra?
ADOREI! Logo de cara, me apaixonei pela capa e pela contra-capa. São realmente incríveis e muito mais bonitas de perto! A arte de capa até simulou a ação do tempo sobre o material.
As histórias são muito boas! As que mais gostei foram "As Muralhas Verdes" e "A Carne é Fraca". São contos eletrizantes e bem interessantes! "A Carne é Fraca" me deixou encucada por mais de uma semana...
Percebe-se que é uma obra organizada com a proposta da qualidade ao invés da vendabilidade.

Avaliação
- Enredo: 10
- Capa: 10
- Caracterização das personagens e entrosamento entre as mesmas: 10
- Caracterização do tempo e espaço e coerência entre os mesmos: 9
- Aspectos gramaticais: 10
- Sinopse: 9
- Estrutura física: 10

Nota: 9,7 (Ótimo - 5 Estrelas)

Recomendações
A todos! São contos que, com certeza, valem o investimento (R$25 no site da Editora), pois primam pela qualidade técnica e editorial (é só notar quantas pessoas de competência foram envolvidas no projeto).

Veja mais resenhas no blog: http://seismilenios.blogspot.com/2011/09/resenha-ficcao-de-polpa-crime.html
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Tibor Moricz 13/06/2011

Lido e comentado.
Terminei de ler recentemente a coletânea Ficção de Polpa – Crime! da Não Editora.

Acreditem, foi um esforço hercúleo concluir esse que foi o primeiro livro de 2011, lido de cabo a rabo até agora (recebi de Brontops Baruq o Portal Farenheit, mas ainda nem o folheei).

Não, não significa que essa edição tenha sido ruim. Bastante pelo contrário.

O livro de bolso exibe uma capa pra lá de sugestiva que remete ao pulp e às melhores histórias do gênero. A editoração mantém a mesma qualidade que as edições anteriores e a seleção de autores é indiscutivelmente boa. Sempre gostei muito de histórias de detetives, com loiras gostosas e enganadoramente burras, investigadores espertíssimos (que nem precisam sair de suas poltronas para juntar as pontas de qualquer caso, seja ele qual for) e assistentes punhos pra qualquer obra (aqui me remeto diretamente aos livros de Rex Stout, meus prediletos).

Os seis contos (mais a faixa bônus, que não julgarei, com Ernest Bramah – autor que eu não conhecia) guardam as similaridades do gênero embora não sejam todas que possam, a meu ver, ser inseridas naquilo que julgo ser a proposta espinhal da coletânea.

Carlos Orsi (As muralhas verdes), e Carlos André Moreira (Um dos nossos), mergulharam num cenário típico de crime, com direito a detetives e investigadores, policias e tiros. Com direito também a morte e deduções. Rafael Bán Jacobsen (A carne é fraca), Yves Robert (A conspiração dos relógios), Octavio Aragão (A aventura do americano audaz) e Carol Bensimon (Agulha de calcário), tangenciam o que para o time de cima foi a pedra angular de suas histórias.


As muralhas verdes de Carlos Orsi fala de um crime cometido em um Reality Show, durante sua exibição ao vivo para todo o país. O detetive, anônimo para os participantes e externo ao cenário, precisa descobrir quem matou, como matou e porque matou enquanto o programa é transmitido. Muito bom.

A carne é fraca conta a história de um açougueiro e os jovens ajudantes que contrata de tempos em tempos, já que os anteriores sempre desaparecem misteriosamente. Boa condução, trama bastante adesiva e final que consegue surpreender.

Um dos nossos narra uma aventura passada em Porto Alegre. Dois policiais, Roszynski e Martini, são incumbidos de investigar o assassinato de um homem que se revela ex-policial. Uma história muito bem contada, crua, com direito a tiroteio e reviravoltas.

Em A conspiração dos relógios, Yves retorna com o detetive que fez tanto sucesso no conto Traz outro amigo, também, mas esse trabalho não consegue ser mais que uma pálida sombra ao primeiro conto.

Octavio Aragão apresenta uma história sherlockiana onde o famoso detetive é contratado para descobrir o paradeiro do filho de um milionário americano desaparecido nos Cárpatos, atrás de dentuços. É uma excelente narrativa, envolvente. Mas eu esperava algo mais original para essa coletânea. Algo mais dentro do espírito da coisa.

O mais próximo que Carol Bensimon, com Agulha de calcário, chegou de escrever uma história detetivesca foi no nome dos quartos do Hotel detetive que a trama apresenta e de uma morte ao final sem muitas explicações (ou eu é que não entendi nada).
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Aguinaldo 01/06/2011

ficção de polpa - crime!
"Ficção de Polpa" é um projeto bastante inventivo, uma curiosa parceria entre designers, ilustradores, tradutores e escritores (claro). O trabalho de organização dos contos e preparação dos livros é de Samir Machado (acredito que ele seja também o idealizador do projeto como um todo). Este é o quarto volume publicado (pela Não Editora de Porto Alegre) e trata de histórias de crime (não li os demais, mas vi que eles reunem uns cinquenta contos de horror, contos fantásticos e contos de ficção científica). Este volume reune sete histórias, seis delas originais e uma já antiga, traduzida, de um escritor inglês contemporâneo de Arthur Conan Doyle chamado Ernest Bramah (não gostei nem do personagem - um detetive cego - nem da história, paciência). Os seis contos originais são assinados por Carlos André Moreira, Carlos Orsi, Carol Bensimon, Octávio Aragão, Rafael Bán Jacobsen e Yves Robert. Carlos André Moreira conta a história mais longa. Ele inventa um detetive/investigador porto-alegrense de origem polonesa, Roszynski, que se envolve em um movimentado caso de roubo e morte. Ele inclui vários dos elementos típicos das histórias de detetive: manias, bons personagens coadjuvantes, passado algo cifrado do personagem principal, ambientação ancorada na paisagem marcante de uma cidade, no caso, Porto Alegre. É a melhor história do livro e funciona realmente bem, mas ele explica demais a trama e os sucessos do caso, como se o leitor não fosse capaz de imaginar nada por si só. De qualquer forma Roszynski é o tipo de personagem que dependendo do tino e paciência do autor pode ser bem explorado literariamente, coisa de se anotar. O conto de Carlos Orsi emula o tradicional problema de crime em uma sala fechada, adaptando-o para o formato de um destes reality shows bobos que infestam a televisão. Não é pretensioso mas também não entusiasma. Em seu conto Carol Bensimon põe várias vozes a comentar um crime na cidade francesa de Étretat (quem leu as histórias de Maurice Leblanc e seu personagem Arsène Lupin certamente vai se lembrar da agulha de Étretat, cenário da história de Carol). O conto é bem escrito, mas a história não funciona muito bem. Octávio Aragão faz uma paródia bem humorada das histórias de Sherlock Holmes, usando também os personagens do Drácula de Bram Stoker. Médio. Rafael Jacobsen retoma as histórias de açougueiros que são assassinos seriais, colocando três vozes para narrar crimes e investigações, supreendendo mesmo no final. Interessante. Por fim a história de Yves Robert, mais bem um conto psicológico bem humorado que outra coisa, brinca com os poderes mágicos que pessoas não treinadas em estatística ou lógica associam aos números. A trama é boba, mas a graça do conto está no registro do português de Portugal dele (ele é português de nascimento afinal de contas). O cuidado da edição merece mais um par de linhas. O livro é montado com o formato das Pulp magazines da primeira metade do século passado, aqueles livretos de baixo custo impressos em papel barato, também produzidos no Brasil (meu pai e meus tios mantinham pilhas deles em uma edícula, lembro-me bem). O tamanho, a paginação em duas colunas, a arte marcante da capa, as cores e as várias ilustrações com propagandas antigas dispersas pelo livro enfatizam a proposta retrô. Belo projeto. Um dia destes procuro os outros livros. Bueno. Leitura honesta para estes dias de inverno, mas outros temas mais robustos me esperam. A ver. [início 20/05/2011 - fim 21/05/2011]
"Ficção de polpa: crime!", Carlos André Moreira, Carlos Orsi, Carol Bensimon, Octávio Aragão, Rafael Bán Jacobsen, Yves Robert, Ernest Bramah, Samir Machado de Machado (organizador), Porto Alegre: Não editora, 1a. edição (2011), brochura 12x18 cm, 160 págs. ISBN: 978-85-61249-18-2
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Anica 17/04/2011

Ficção de Polpa Crime! (Vários)
O lançamento mais recente da série Ficção de Polpa foi lançado com uma proposta bem definida, como já mostra o título “Crimes!”, dando lugar à sequência numerada dos anteriores. E se nos outros volumes mesmo com um tema principal (horror, ficção científica e conto fantástico) ainda assim os contos circulavam livremente entre gêneros, agora nesse quarto livro isso não acontece: são histórias de detetive, do começo ao fim. Outra diferença sobre os outros números da série é que o número de contos é menor, porém esses são mais longos (e todos são ilustrados).

Uma vez que são menos contos, é até possível falar um pouco de cada um deles. No geral, são todos ótimos e certamente agradarão aos fãs de histórias policiais, até porque são todos combinações de elementos já conhecidos desse universo literário, mas com enredos ou estilos de narrativas bastante inovadores, diferentes.

É o caso de As Muralhas Verdes (de Carlos Orsi), que tem aquela típica imagem do detetive de sobretudo e que fuma compulsivamente, mas aqui investigando um assassinato em um reality show. A verdade é que o conto já tinha me conquistado só pela referência ao We, de Ievguêni Zamyatin, mas o detetive que narra a história é também uma personagem muito legal, com aquele jeitão irônico típico das personagens deste tipo de história.

A Conspiração dos Relógios (de Yves Robert) vem como uma ótima notícia para quem tinha gostado do conto Traz outro amigo também, do volume 2 do Ficção de Polpa. O detetive que tem um coelho como amigo imaginário reaparece para resolver um mistério envolvendo as horas que aparecem nos relógios. Mais uma vez, aquela imagem bem familiar do detetive, em um conto com momentos muito engraçados, como quando o protagonista conta para sua “cliente” que um coelho azul estava sentado na cadeira que ela iria ocupar. Dá vontade de ler uma coletânea inteira só de contos dessa personagem.

A aventura do americano audaz (de Octávio Aragão) pode ser uma faca de dois gumes: o autor empresta Watson e Sherlock Holmes das histórias de Conan Doyle, para escrever seu próprio conto envolvendo outras personagens também bastante famosas (mais ou menos como acontece na Liga Extraordinária). Quando digo que pode ser uma faca de dois gumes é porque os fãs mais apaixonados por Sherlock podem em um surto de xiitismo não gostar. Eu, que era apaixonada pela personagem (obcecada talvez seja o termo mais apropriado) há cerca de 15 anos, confesso que não só adorei o conto, como quis reler a obra de Doyle novamente. Aragão conseguiu recuperar muito bem a Inglaterra dos tempos de Sherlock e, o mais impressionante, o estilo da narrativa de Doyle.

A carne é fraca (de Rafael Bán Jacobsen) resgata as histórias envolvendo açougueiros como Sweeney Todd, para construir um efeito bastante interessante na narrativa, formada a partir de três pontos de vistas diferentes. Cada ponto de vista também segue um gênero textual diferente: temos diário, depoimento e reminiscência. Não querendo correr o risco de entregar o ouro e estragar a experiência do leitor, o importante aqui é saber que quanto menos você souber do conto ao ler, melhor. Vale a pena, o desfecho é muito legal.

Agulha de Calcário (de Carol Bensimon) também utiliza o recurso de diferentes pontos de vista para construir a narrativa. A história toda se passa no Hôtel Dectetive e suas redondezas, e a partir do que é narrado por cada uma das personagens o leitor vai como que montando as peças de um quebra-cabeça, para chegar ao crime em si.

Um dos nossos (Carlos André Moreira) é talvez o mais “brasileiro” de todos os contos. Os demais passam a sensação de que poderiam acontecer em qualquer lugar, mas aqui, envolvendo a polícia de Porto Alegre e lugares típicos da cidade, a narrativa acaba ficando um tanto presa ao espaço. Mesmo assim, é muito bom, retomando a ideia de assassinato e investigação como tem sido vista em histórias mais modernas de detetive, mesmo as que passam em séries de tv.

A faixa bônus de Ernest Bramah (A moeda de Dionísio) é, como todas as faixas bônus da série Ficção de Polpa, muito legal. Mas o melhor dela é apresentar um autor que era contemporâneo de Sir Arthur Conan Doyle e tão bom quanto ele, porém não tão conhecido.

Assim, chegando ao quarto volume a série Ficção de Polpa continua mantendo a ótima qualidade, e a característica marcante de ser simplesmente viciante: assim como aquela marca famosa de salgadinhos, é impossível ler um só. Conto após conto você mal percebe quando já devorou mais um volume, e mal pode esperar pelo próximo (que, segundo o organizador Samir Machado de Machado, infelizmente só sai ano que vem).
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