Bru 29/03/2019DesconfortoConfesso que estava com boas expectativas para este livro, apesar de já ter me decepcionado com alguns outros que tinham temática de sereias (um assunto que eu amo, mas que poucos sabem explorar com a devida dedicação). Mas enfim, estava esperando uma boa história, e foi o que recebi, mas não me tocou assim tão fundo. Não sei explicar, mas algo durante toda a leitura me incomodou, e não era nada específico que eu possa destacar do tipo um personagem em particular, ou alguma mania linguística da autora, nem mesmo o desfecho do enredo em si. Era mais como algo abstrato, que permeou todo o cenário do livro e criou seu clima sombrio e misterioso. Sei que este foi um elemento escolhido a dedo e conduzido com maestria pela autora, mas foi este mesmo elemento que me trouxe uma sensação de incômodo, de que algo espreitava nas sombras, de clima pesado. Enfim, foi uma sensação que eu tive e que talvez tenha sido a intenção da autora mesmo de causar esse desconforto nos leitores, pra que pudéssemos nos aproximar das emoções sentidas pelos personagens, mas não sei... Esse desconforto foi tão penetrante que não me deixou curtir o flow do livro, se é que me entendem. Fiquei agoniada, ansiosa, preocupada, e não consegui aproveitar a vibe marítima que tanto amo. Essa história me lembrou muito, muito mesmo, o que senti lendo A Menina Submersa, que também era um livro que tratava de tema de sereismo de uma forma pesada, mais até que esta obra de Trícia Rayburn, mas de qualquer forma ambos me tiraram um pouco da minha zona de conforto literário. Acho que muito desse clima da história se agrava porque ela é contada em primeira pessoa, e vemos tudo pelos olhos da protagonista Vanessa, que é uma personagem que tem medo de tudo no mundo: barulho, escuro, água, altura, e assim por diante. Então imaginem estar dentro da cabeça de uma pessoa paranóica... Óbvio que não tem como sairmos ilesos.Alguns outros detalhes também me incomodaram um pouco, como a subjugação que Vanessa fica fazendo dela mesma enquanto todos dizem que ela é perfeita. Gosto de personagens que realmente são desajustados, não dos que fingem ser.Outra questão foi que acontecem certas situações onde as vilãs da história são pegas em flagrante, mas elas parecem que nem notam o que está acontecendo, não movem uma palha pra se defenderem e seguem a vida como se nada tivesse acontecido. Gente, sem condições! Vê se não era pra elas já terem bolado um plano mirabolante e malígno pra eliminar seus obstáculos? Mas não, elas fingem que nem era com elas. Por favor! E por fim, algo que me irrita em vários outros livros também é o "desfecho de última hora". Sabe quando o livro enrola, enrola, enrola, e nas últimas três páginas resolve dar todo o desfecho da história através da fala de algum personagem em específico, que fica falando por horas a fio? Então! É o que acontece nesse livro. Os autores que trabalham com mistério principalmente, precisam aprender a desenvolver a técnica de ir dando pistas pros leitores ao longo do próprio livro, pra que eles mesmos possam ir montando o quebra-cabeça final em sua mente. Dar tudo de mão beijada nas últimas páginas é desdenhar do raciocínio lógico dos leitores, sem contar que fica um final cansativo demais. Enfim, tirando estes detalhes (importantes) a história em si é boa, bem construída, os personagens são interessantes. Mas não me conquistou mesmo, infelizmente.
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