Leitora Viciada 09/03/2012Este é o segundo volume da série Sagas da Argonautas Editora e o tema escolhido é o Estranho Oeste. A edição é composta por cinco noveletas que seguem o estilo conhecido como Weird West. A qualidade gráfica presente em Espada e Magia foi mantida em Sagas 2 com uma bela capa feita por Frêd Macedo, representando a primeira história do livro Bisão do Sol Poente. Mas dessa vez, os autores participantes tiveram um desafio diferente com o tema de faroeste.
O prefácio escrito por Thomaz Albornoz é rico e essencial para o leitor se ambientar e compreender o Weird West. Mesmo quem nunca leu nenhuma história assim se sentirá à vontade, pois todas as informações estão nesta excelente introdução.
Estranho Oeste ou Weird West é um gênero que mistura o faroeste americano com outros estilos, geralmente o horror, o oculto, a fantasia. Um exemplo famoso recente é Cowboys & Aliens (livro, graphic novel e filme). O leitor recebe nesse prefácio um resumo da história do gênero com perfeição. Mais uma vez eu adorei o prefácio, digno de ser relido de tempos em tempos.
A introdução de César Alcázar vem em seguida apresentando de forma instigante as noveletas do livro e contando a origem dessa ideia.
Antes do início de cada história temos uma mini biografia de cada autor e o formato de bolso e qualidade das páginas e da diagramação foram mantidos.
Eu nunca li histórias do Estranho Oeste, fora alguns quadrinhos antigos do Tex que possuíam de vez em quando algo sobrenatural. Por isso, achei o tema diferente, interessante e novo para mim.
Um vasto território pode ser utilizado (o grande oeste dos Estados Unidos), com cowboys e índios, incluindo a cultura nativa indígena cheia de misticismo e ocultismo, saloons que recebem as mais estranhas figuras do faroeste e lendas recheadas de tiroteios e situações fantásticas e imprevisíveis. Bandidos procurados, mercenários solitários em busca de recompensa, xerifes destemidos, peles-vermelhas misteriosos... Tudo mergulhado num ambiente árido e sobrenatural, aonde qualquer coisa pode acontecer, por mais irreal que seja.
Em todo o livro, uma aura sombria passeia pelas páginas, a cada nova cena fantástica que ocorre. Encontramos personagens diferentes dos heróis comuns. Não esperem encontrar em Sagas 2 protagonistas bonzinhos. Até porque ser classificado como bom ou mal depende apenas de um determinado ponto de vista.
O primeiro conto foi escrito por Duda Falcão e seu título é O Bisão do Sol Poente. E esta noveleta originou a ilustração da capa. Esta história é excelente, detalhada, e muito bem escrita. Ótima escolha para iniciar a leitura e prender o leitor às próximas histórias.
Um caçador de recompensas descobre um rastro de assassinatos violentos quando procura por um grupo de ladrões. Uma personagem enigmática surge, um índio siox que conhece segredos da feitiçaria antiga e quer ajudá-lo. Ele parece saber muito mais do que aparenta. Uma boa história - adorei o lado oculto dela. O protagonista é um anti-herói muito interessante.
A segunda história é Aproveite O Dia de Christian David. Esta é a melhor do livro. O cowboy com habilidades sobrenaturais entra num saloon lotado de pessoas mais estranhas que ele. Existe uma garçonete peculiar e a comida é horrível. Ele nem imagina que forças místicas estão amaldiçoando este lugar esquecido e parado no tempo. A dona do estabelecimento é uma feiticeira vodu que o escolheu para um missão perigosa. História excelente e sombria, porém com uma pitada de humor. O protagonista é carismático e possui poderes originais.
Alícia Azevedo é a representante feminina da equipe de autores e escreveu Fé, com uma mulher como personagem principal. Aqui encontramos mais do que uma história de Weird West. Questionamentos ligados à fé e ao pecado, à morte e à vida, ao certo e ao errado se fazem presentes ao longo do elaborado enredo.
Uma freira dedicada sobrevive a um massacre, mas ela vê a destruição do amado local e o sofrimento que as crianças sofreram antes de serem assassinadas. Ela recebe dons de seu novo mestre e parte em busca de vingança. Outra história muito boa.
A penúltima noveleta é de M. D. Amado e é intitulada Justiça... Vivo ou Morto! Um pistoleiro encontra um jovem que perdeu a família. Ela foi assassinada e agora ele treina sua pontaria, se preparando para vingá-la. O protagonista decide ajudar o rapaz e entra numa sinistra trama, que envolve muito mais mistérios do que ele imagina. Reviravoltas, surpresas e um desenrolar da história fantástico. Muito bom. Mais uma aventura do protagonista pode ser encontrada em Cursed City, da Editora Estronho.
A última história é The Gun, the Evil and the Death, escrita por Wilson Vieira. Esta foi a única do livro que não gostei, não que seja ruim.
A premissa é ótima: Um pistoleiro sanguinário entra num estabelecimento vazio no local desolado onde acaba de chegar. Em vez de comida e bebida, ele encontra um senhor misterioso dizendo que um julgamento está para começar. Um julgamento macabro.
Porém o desenvolvimento da história me pareceu um pouco confusa. Os fatos são repetitivos, sei que essa tenha foi a intenção do autor - mas não gostei. O uso de palavras em capslock e de expressões estrangeiras foram um pouco exageradas e me incomodaram, além de não ter gostado do final, mesmo sabendo ser uma brincadeira, não era o que eu esperava para a história.
Apesar da última história não ter me agradado, as outras são ótimas. O livro é excelente e recomendado para leitores que gostam de gêneros sobrenaturais e se interessam por histórias de faroeste americano. A leitura é empolgante, de qualidade e nos deixa desejando mais páginas. Bang-bang!
Mal posso esperar para ler Sagas volume 3: Martelo das Bruxas.
Trechos:
"Era um índio sioux. Mesmo de longe, Kane era capaz de reconhecer as principais etnias indígenas. O homem montava um mustang marrom." - O Bisão do Sol Poente, Duda Falcão.
"Eram negros, vestiam casacas pretas sobre o peito nu, usavam cartolas e tinham os rostos pintados de branco. Reparei em apenas mais um detalhe não descrito pelo padre, ambos usavam coldres e mantinham as mãos prontas para a ação." - Aproveite O Dia, Christian David.
"Ela seria o juiz, o júri e o carrasco. Ninguém que tivesse a alma manchada escaparia ao seu ódio. Aquele era seu ato de fé: reivindicar as almas apodrecidas e retorná-las ao lugar que pertenciam, mas a fé podia ser mais do que isso." - Fé, Alícia Azevedo.
"Josh tentava fugir inutilmente daquele gigante choctaw que o segurou apenas com uma das mãos, enquanto pegava em sua bolsa um estranho amuleto." - Justiça... Vivo ou Morto! de M. D. Amado.
"Era uma excentricidade talvez, mas o Oeste estava repleto delas,portanto não o surpreendia mais. Ou talvez fosse um simples mágico, de algum circo mambembe, realizando o seu treino quotidiano de ilusionismo em troca de míseros cents." - The Gun, the Evil and the Dead, de Wilson Vieira.