Eduardo A. A. Almeida 09/08/2011
SÃO FRANCISCO E OS PROBLEMAS NOSSOS DE CADA DIA
Para não me prolongar demais, escolhi uns trechos do prefácio, escrito pelo historiador Jacques Le Goff, que resumem minhas opiniões sobre o livro:
"Sem dúvida, o atual florescimento de obras sobre Francisco se alimenta de situações, paixões e problemas contemporâneos, isto é, ao dinheiro, à dor e às misérias do corpo, o agravamento repulsivo e ao mesmo tempo vitorioso dos processos de marginalização, o desejo de respeitar e integrar a natureza na sensibilidade humana, o impulso, numa sociedade ainda dominada pelas tradições cristãs, de afirmar o papel dos laicos e das mulheres, a aspiração a um retorno de religiosidade mesclada a certa desconfiança em relação às Igrejas e religiões constituídas, a atitude em relação ao outro e ao diferente (como Francisco perante o herege e o muçulmano), o esforço para restringir a violência dos belicosos."
"Como sabemos, Francisco se oculta por trás de uma multiplicidade de testemunhos que amiúde parecem irreconciliáveis: é o problema das fontes franciscanas, assim definido tradicionalmente. Essas fontes deram origem a vários Franciscos: algumas o apresentam quase como herege, outras – sejam as versões posteriores à biografia oficial de Tomás de Celano ou a oficialíssima versão redigida por são Boaventura após a destruição (felizmente não total) das biografias anteriores - como homem domesticado, adocicado, inofensivo para a Igreja. De todos esses Franciscos, Chiara Frugoni compôs um único Francisco, que não é a soma nem a média dos demais, mas integra (sem calar as contradições, as incertezas, as tentações de outros percusos) todas as informações autênticas para constituir um ser extraordinariamente vivo, um verdadeiro "homem": daí o título do livro."
"O último milagre deste pequeno livro é mostrar esse homem, o homem inteiro, o homem santo inteiro, com um estilo simples e límpido, muito franciscano (...)."
Pois bem, se tenho algo a acrescentar, diz respeito apenas a esse último parágrafo. Por se tratar de uma pesquisa com profundo teor acadêmico, ainda que atenuada para o formato "biografia literária", o livro de Chiara possui muitas referências a textos originais. Sem dominar o assunto, conseguimos fazer uma leitura clara, sem dúvida, mas bastante superficial. Às vezes, fica difícil mesmo, cansativo. De qualquer modo, trata-se de uma fonte interessante e de apelo menos religioso – preocupada, ao invés de propagar a doutrina, com investigar a vida e o pensamento desse homem que, até hoje, serve de objeto de reflexão para os nossos problemas cotidianos.