Essência

Essência A. H. Almaas




Resenhas - Essência


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Carla.Parreira 11/10/2023

Essência
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O livro relata que presença e essência são a mesma coisa. Essência é a experiência direta da existência. Naturalmente, ela pode ser experimentada como outras coisas, tais como o amor, a verdade ou a paz, mas o sentido da existência é a característica básica da essência. É o aspecto mais claro, definido e distinto de outras categorias de experiência. A percepção e a experiência mais diretas pertencem à identidade, quando somos aquilo que experimentamos, quando a percepção é tão direta que o que percebemos e o que é percebido são a mesma coisa. Esta é exatamente a experiencia da essência. A essência não é um pensamento ou uma ideia que a pessoa tenha sobre si mesma. Não é uma auto-imagem. Na verdade, a auto-imagem, coleção de conceitos que se tem sobre si mesmo é uma das principais barreiras para o reconhecimento e desenvolvimento da essência. Uma pessoa pode desenvolver uma capacidade de ver diretamente a essência como ela é. Não há imaginação envolvida.
O que existe é a participação de um olho interior. Os antigos sábios da Índia eram chamados de videntes porque possuíam esta faculdade essencial de ver. A sensação de não saber de onde um pressentimento ou uma intuição vieram indica que partiram do inconsciente, uma parte da mente com a qual não mantemos um contato comum. O inconsciente sabe tudo sobre os outros, em quaisquer relacionamentos, incluindo os seus inconscientes. Isso significa que o inconsciente possui algum tipo de capacidade para perceber qualquer coisa nas outras pessoas. Estamos, então, falando da empatia, da telepatia, além de outros tipos de ligações entre as pessoas. Também é dito que o servir não é uma ação moralmente boa. Não tem nada a ver com a moralidade. É um trabalho ou uma ação útil e necessária para a realização e desenvolvimento da essência, sem considerar as fronteiras do self do outro. A essência é uma satisfação pura, um prazer que existe apenas nela mesma e não uma reação, uma resposta ou resultado de alguma coisa.
A essência é a verdadeira pessoa, o self real e verdadeiro. A personalidade é chamada de falsa, porque tenta tomar o lugar da essência. A morte da crença da personalidade em si mesma como a definição do ser é a condição precisa e necessária para a realização da essência, para que a essência se torne o centro da nossa existência. Portanto, a essência vive em guerra com personalidade. Esta fará todo o possível para preservar a sua identidade e manter o seu domínio. Quando nos identificamos com uma auto-imagem adquirida no passado, não estamos sendo verdadeiros com a nossa natureza. Isto significa que, para a realização da essência, o primeiro passo é a não-identificação, em nos vermos não como uma auto-imagem que tenhamos (auto-representação), que não somos o conteúdo que descobrimos, seja ele físico, emocional ou mental. Esta perda de identificação afrouxará a estrutura rígida da personalidade. Haverá mais espaço criado dentro de nós. O resultado final do processo da desidentificação é a experiência da dissolução da estrutura psíquica, ou auto-imagem. É a experiência do espaço, do que algumas vezes é chamado de vazio: quando a auto-imagem é dissolvida, a pessoa experimenta uma ausência de fronteiras, tanto física quanto mental. A natureza da mente é revelada como um vazio, um vácuo, um espaço imaculadamente vazio. O resultado é um sentido interior de expansão e amplidão. Num nível mais profundo, a auto-imagem desaparece, se dissolve. Existe somente a experiência de um espaço vazio e aberto, sem fronteiras, claro e nítido. Esta experiência é da maior importância, pois nos mostra que não somos a personalidade. Cria um espaço para a expansão e para o desenvolvimento essencial.
A essência não está viva, ela é a vida; não está consciente, é a consciência; não tem a qualidade da existência, é a existência; ela não ama, ela é o amor; não está alegre, é a alegria; não é verdadeira, é a verdade. O trabalho do desenvolvimento interior não visa somente ter uma experiência da essência, mas a sua realização completa e à nossa existência permanente como essência. Ser livre é simplesmente ser. E ser é simplesmente viver como essência. Na verdade, enquanto não formos conscientemente essência, não estaremos existindo.
A vida da personalidade é uma não-existência, uma vida perdida e inútil. Há vida somente quando há existência, e a existência é a essência. O que uma pessoa realmente deseja e sente falta é a parte da sua essência, o amor fundido e não o parceiro ou a relação com ele ou ela. O indivíduo acredita que é a sua outra metade o que está faltando, ou um relacionamento íntimo, porque era o que em criança podia sentir antes de haver a perda original com a mãe. Tanto o adulto quanto a criança não sabem, conscientemente, que aquilo que faz falta para elas é uma parte de si mesmos. Por isso, a busca da plenitude está voltada para fora, embora a única coisa que realmente adiantará para ela será a recuperação do aspecto perdido da essência, a fusão do amor.
Realmente acreditamos equivocadamente que a nossa personalidade é nós mesmos.
A perda da essência, a repressão dos órgãos e capacidades interiores, o fechamento e a distorção dos centros energéticos e sutis e a insensibilidade geral resultante conduzem a uma perda geral e devastadora da perspectiva. O indivíduo não sabe mais qual o significado da vida, do ser, da existência. Não sabe mais por que vive, o que deve fazer, para onde está indo, e quem ele é. Está, na verdade, completamente perdido. Consegue ver apenas a sua personalidade, no ambiente que a criou, e viver segundo os padrões desta sociedade em particular, tentando o tempo todo manter e reforçar a sua identidade do ego. Acredita que não está perdido, porque tenta continuamente viver segundo determinados padrões de sucesso ou de desempenho e almejando os sonhos da sua personalidade, embora durante o tempo todo ele não enxergue a finalidade de tudo isto. Não é mais a vida do ser, mas somente a vida da personalidade, que na sua natureza é falsa e cheia de sofrimentos. Existe contradição, tensão e restrição. Não há liberdade para ser e desfrutar.
A verdadeira orientação em direção à vida da essência, a orientação que trará a vida do ser humano harmonioso, está ausente ou deturpada.
A perda da perspectiva e da orientação conduz à perda da realidade. O indivíduo vê somente as ilusões e as segue, pois acredita que elas sejam a realidade. Uma criança pequena ainda não tem personalidade. Ela é aquilo que realmente é. Ela é a essência.
Seus desejos, preferências, gostos e aversões expressam o seu ser tal como é. Podemos concluir então que as pessoas nascem com a essência e, posteriormente, terminam sem ela.
Obviamente, ela é de alguma forma perdida, ou perde-se a conexão com ela. Para permitirmos que a essência apareça novamente, teremos que aprender a não mais nos identificarmos com a personalidade e com o sentido da identidade do ego. Este é o método principal que a maioria dos sistemas emprega para o desenvolvimento interior. Esta não-identificação, que pode culminar na experiência tecnicamente chamada de morte do ego, é a exigência mais importante e necessária para a descoberta da essência.
O poder, a elasticidade e a força da essência são enormes. É a própria força da vida, o esteio principal da vitalidade e do vigor. Mas, em quase todas as comunidades humanas, ela é desesperadamente controlada e conduzida até ser subjugada.
A maioria das forças e das influências do seu ambiente é hostil a ela e, se não o for, no mínimo não a compreenderá.
Quase todas as forças, a social, a educacional, a religiosa e até a familiar, são contrárias ou hostis à essência da criança, intencionalmente ou não.
A essência da criança é sempre mal compreendida, ignorada ou rejeitada e, com frequência, é insultada, esmagada e ultrajada. Isso não é referência somente a experiências traumáticas isoladas, mas a quase todas as interações com as pessoas do dia a dia.
Quando detectamos nossos modos de agir como expressões de deficiência e não como de plenitude, temos a oportunidade de nos libertar destes atos inúteis e defensivos. Experimentaremos assim a própria deficiência, o vazio, o buraco. Este vazio será experimentado como uma cavidade, uma ausência de plenitude, se a pessoa conseguir não se defender contra ele. Neste ponto a pessoa deve continuar a experimentar-se como um espaço vazio, privado de qualquer plenitude ou qualidade.
Se lidarmos com as associações que fazemos em relação a esse vazio (tal como a dependência e a necessidade) e os medos produzidos por eles (provavelmente da desintegração, do desaparecimento e outros), nos lembraremos da antiga dor que eliminou nossa essência.
Assim desenterraremos uma situação ou situações dolorosas que finalmente nos conduziu para a perda deste aspecto específico da essência.
Além das memórias e dos sentimentos, experimentar-se-á a dor emocional como uma ferida que será sentida fisicamente no sistema energético que corresponde à ferida emocional e à perda da essência. Quando a pessoa se permite pacientemente experimentar a ferida dolorosa e as memórias a elas ligadas, fluirá dela o elixir dourado, curando-a, preenchendo o vazio com a doce e bela plenitude que derreterá o coração, apagará a mente e trará o contentamento que o indivíduo tanto busca.
O medo da desintegração é um dos obstáculos que deve ser superado no processo da abertura dos centros para o fluxo da essência. Este medo é uma mistura, porque é inconsciente e, portanto, irracional. Isto pretende trazer para a consciência todos os conflitos, medos, distorções e deficiências na estrutura.
A ansiedade é em primeira instância o medo na infância dos agentes coercivos, representado, sobretudo, pelos pais. Sempre que eles desaprovam uma determinada ação ou sentimento da criança, o que acontece com frequência, ela aprende, pelo medo da desaprovação e da ausência do amor dos pais, a suprimir e, finalmente a reprimir esta ação ou sentimento. Com o tempo, esta desaprovação internaliza-se como parte do próprio superego da criança. Finalmente, sempre que uma situação provoque esta ação ou um estado emocional, o superego da criança desaprova e a pune através da culpa, da vergonha e de outros efeitos dolorosos.
O medo torna-se o medo do próprio superego.
A criança, através deste medo do superego e da punição, aprende a se defender da mesma forma que fez em relação aos pais. Ela reprime uma determinada ação ou sentimento. Afasta a conscientização dos seus próprios impulsos, sentimentos e ações.
Para que isto se torne realmente eficaz, é preciso que toda operação passe a ser inconsciente e automática.
A possibilidade da dissolução completa do superego não é prevista na psicoterapia, e nem admitida como um fim desejável. Devemos aprender a nos defender consciente e intencionalmente do superego e dos seus ataques. Para começar a trabalhar este superego, primeiro o homem precisa estar consciente dos ataques, do seu conteúdo e do conteúdo do julgamento. Ao aprender a se defender conscientemente contra o superego, o indivíduo na realidade está rejeitando, ou se separando da identificação com o genitor do mesmo sexo, que finalmente traz para a consciência a base da identificação.
A personalidade não é vista somente como uma barreira; ela tem as chaves. Isto traz ao ser uma atitude de aceitação, de compaixão, de um desejo verdadeiro de compreender a verdade da personalidade. Esta é a atitude realmente necessária para o trabalho de desenvolvimento interior.
A experiência da inteireza e da satisfação é inefável e traz um efeito precioso e surpreendente sobre a mente. Toda a agitação subitamente cede.
Toda a preocupação é abandonada. Deixamos de encarar a sociedade ou os relacionamentos como se estes fossem com nossa mãe ou pai.
Não vemos a ninguém como uma fonte de apoio, nutrição ou proteção. Não esperamos do mundo externo admiração, aprovação, auto-estima, respeito, posição, fama ou identidade. As questões de amizade, confiança e poder ficam muito claras. Deixamos de ter esperanças com relação as relações sociais e nem temos ilusões com relação a sociedade em si. As relações tornam-se objetivas e não mais obscurecidas elas suposições da personalidade. Essa é a experiência de ser nós mesmos e não uma resposta ou uma relação a alguma coisa. Não é ser alguma coisa para alguém. É, em certo sentido, a liberdade completa de ser o que se é em essência.
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