Lopes 06/02/2018
A cidade aberta
Ferreira Gullar foi um mestre na poesia, e seu “Poema sujo” é um exemplo disso. Acompanhar a estrutura poética de Gullar não é fácil, rompe com nossos sentimentos já nas primeiras páginas e amortece depois, ou nos faz secar. O cuidado ao falar sobre a cidade, talvez universal, mas brasileira, é tido aqui como um rompimento do olhar estático sobre a invisível solidão e melancolia, hoje incluo a nostalgia, das coisas acontecidas em acontecer. O presente do passado. Escrever sobre o momento, rompendo com essas emoções trás ao leitor a beleza insaciada de leituras. A cada verso relido deste poema belamente sujo, destacam-se as agruras do exílio daquele amor arquitetônico, da pobre cidade, que se torna mais nítida quando distante. A distância enclausurada. Saudade que destoa, os nomes que rondeiam a cidade, os muros, as ruas, o que nos faz amar. Em “Poema sujo”, o amor é a condição necessária, e única, para permanecer, e viver esse amor, mesmo que em condições normais, ou seja, não vivendo-o completamente, é estar presente na obra, se revelando um viajante entre ruas e edifícios.