Victoria.Olzany 08/05/2023
Aguilar volta de uma curta viagem de negócios e encontra a esposa, Agustina, em um hotel, como que perdida, delirando. Agustina enlouqueceu enquanto Aguilar estava fora.
Agustina rompeu com a família antes de se juntar a Aguilar (relacionamento que sua rica família desaprovava por Aguilar ser pequeno-burguês, professor universitário, e comunista), portanto, não mantêm contato com nenhum parente. Uma mulher de Aguilar nunca ouviu falar, tia Sofi, bate à sua porta dizendo ser tia de Agustina e que veio cuidar dela; ele, desesperado, aceita sua ajuda.
Então acompanhamos Aguilar tentando descobrir o que aconteceu durante sua viagem, e também no passado de Agustina na tentativa de entender seus delírios.
A narrativa se constrói em "blocos" separados por espaços, e, em cada bloco, um personagem "conduz" a narrativa alternadamente (Aguilar, nos esforços para desvendar os delírios de Agustina; Agustina, no passado, conversando com seu irmão caçula, Bichi; Midas McAlister, amigo do irmão mais velho de Agustina com quem ela se envolveu, e que atuava como intermediário dos negócios entre o pai de Agustina, seus ricos amigos, e Pablo Escobar, relatando a Agustina o que aconteceu naqueles dias; e Nicolás Portulinus, avô de Agustina, pianista que veio da Alemanha, no passado, durante a infância da mãe de Agustina, Eugenia). Dessa forma, o leitor se sente no lugar de Aguilar, juntando as peças de um louco quebra-cabeças para conhecer o passado e, assim, dar algum sentido ao presente tão maluco.
Descobrimos que a loucura de Agustina está muito atrelada à loucura de sua família que, desde os tempos do avô Portulinus, se utilizou da mentira descarada para não ter de lidar com assuntos difíceis e dolorosos. A autora constrói um panorama da loucura familiar, passando pelas três gerações (Portulinus, Eugenia, e Agustina), mostrando como a utilização da mentira para criação de uma realidade diferente da que os olhos veêm levou essa família à loucura.
Também pontuo o que parece ser um paralelo um tanto irônico com o realismo fantástico colombiano (citado ocasionalmente na obra), deslocando o fantástico para: o envolvimento com Pablo Escobar; o "misticismo" de Agustina (que "descobriu" o paradeiro de um jovem desaparecido com sua intuição e foi celebrada na TV, por exemplo); e a leitura de mensagens ocultas nas dobras dos lençóis feita por avô e neta (simbolizando a passagem da loucura entre as gerações), por exemplo.