Heidi Gisele Borges 16/10/2011É ótimo ter um livro de qualidade, poder segurá-lo e mais, poder ler. Desde a capa, Histórias de monstros e diabruras já me conquistou. Apenas dois olhos ameaçadores, sobre um fundo preto, fitando o leitor e o título em verniz transparente, sem nenhuma fonte de outra cor delimitando onde ele seria aplicado, dando assim, um tom mais sombrio. Lindo!
E as histórias... São todas muito bem escritas – somente vi poucos erros de revisão, concordância e acentuação, mas nada que atrapalhe a leitura –, carregadas de significados. O leitor mergulha, viaja até o local ambientado e, somente quando é avisado de seu fim, na última página de cada conto, consegue voltar ao local em que está, mas logo passa ao seguinte e tudo se repete, uma nova viagem se inicia.
O básico a falar sobre a estrutura do livro é contar sobre suas divisões, que são três, compostas por três contos cada:
Histórias de animais medonhos
Histórias de feitiços macabros
Histórias de assombrações noturnas
Em Histórias de animais medonhos, sem dúvida onde estão os melhores, o conto A Galinha Preta deixa com medo e horror, através das narrativas do velho Caldeira, “fora um tipo formidável de empregado. Mas, então, a idade avançada lhe permitia apenas vigiar a Fazendinha dos Trevos. Era um velho solitário”. A galinha preta era uma assassina, matara outras galinhas, arrancou a cabeça de todas e, o velho contou, quem ouvisse seu canto morreria em treze dias.
Na Floresta – numa grande dificuldade de escolha entre tantos bons, este é o melhor conto –, em que pai e filho vão até ela em busca de seu alimento, mas precisam ficar atentos a uma criatura que vive ali.
“Ouvi o grito pela primeira vez e senti medo. Era uma espécie de urro curto, rouco e muito alto”.
Ela é medonha, e segundo dizem, come carne e os pedaços que caem de sua boca permanecem em sua pelagem, por isso o mau cheiro terrível. O desenrolar deixa o leitor tenso, angustiado, triste, cansado. Incrível!
O conto A Máscara em Histórias de assombrações noturnas, se passa em “uma noite fria, Dia das Bruxas, quando alguém bateu com força na porta dos Hangleton. Muito surpresos, o casal de velhinhos apressou-se para abri-la”, lá estava uma caixa, com receio de que fosse alguma brincadeira por conta do dia, abriram e se depararam com a máscara, logo descobriram ser um presente de seu filho que estava na África. Era um objeto de muito mau gosto, causava arrepios aos dois, e apesar do gesto bem intencionado do filho, resolveram guardar no porão, mas a imaginação humana pode pregar peças, a maldade também pode estar dentro de cada um e os dois lados sofreria para sempre. Foi complicado ler este à 1 hora da madrugada sem sentir medo e abaixar o livro para olhar em volta para constatar que não havia sobre a cômoda uma máscara.
Em Mar de alma, o capitão conta sua história triste de vida, e também precisa revelar um segredo. “Não havia estrelas. Os homens olhavam aturdidos para a escuridão da noite. O oceano, de tão sombrio, confundia-se com a abóboda negra do céu, a não ser pelo leitoso nevoeiro que se destacava entre os dois”.
O peso de não saber para onde se vai, caso algo aconteça, estar tão próximo do inferno e não ter forças para desejar o céu.
“– A Morte, meus caro, não é o maior dos problemas. Mas o sofrimento que advém antes e depois dela”.
Tarsis Tindarsan, nascido em Manaus em 1983, soube narrar, conduzir seus personagens e fazer com que o leitor se apaixone por cada conto, e deixo aqui a difícil tarefa de escolher apenas um preferido, quem ler Histórias de monstros e diabruras está convidado a dividir sua opinião sobre a sua favorita.
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