vitorconatus 01/06/2024
Memórias do subsolo (Fiódor Dostoiévski, 1864)
Esse foi difícil de ler, viu. O livro é quase todo afetos pesados, densos, difíceis de digerir. Em dias bons, eu evitava ler pra não contaminar meu estado de espírito; em dias ruins, evitava pra não tornar tudo ainda pior.
Li aos poucos, me arrastando mesmo, mas li. E no fim, penso que valeu a pena. «Memórias do subsolo» é um estudo da autoconsciência ? ou da dureza do superego, numa perspectiva psicanalítica ? levada ao extremo. Ele revela a mente de alguém cujo autoconceito oscila num movimento pendular: ora sentindo-se um verme, digno de desprezo, um nada; ora sentindo-se superior a todos, credor de um prestígio que nunca vem, um ser sublime, mas ressentido com a própria invisibilidade.
A riqueza dessa leitura está no fato de que todos nós já estivemos no subsolo. Muitos de nós, senão todos, ainda o visitam de vez em quando. Alguns infelizes moram lá. E Dostoiévski nos capacita a reconhecer esse lugar, seja quando nós mesmos estamos lá; seja quando alguém perto de nós está.
Só me frustrou não ter encontrado o caminho claro para a saída. Talvez porque esse caminho seja diferente pra cada um. Mas ainda assim, saber que está no subsolo deve ser o primeiro passo para sair dele. E isso é fácil depois da leitura.