Pedro 23/07/2017
Se o conto é mesmo feito uma luta de boxe, como dizia Cortázar, Marcelino Freire leva
todos à lona. E rápido. Neste "Amar é crime", seus textos curtos e seu estilo ligeiro, cheio de ginga, mas carregado de melancolia e amargura, solapam o leitor. Pancada após pancada, somos levados a encarar a dureza do chão, sem cordas para agarrar e sem juiz para interromper o golpe desleal. Desfilam no ringue prostitutas, velhos abandonados, amantes que se desencontram, que se separam ou que provocam motins para ficarem juntos. Há, ainda, o avô que aprendeu a voar, o velho que foi morar em um cinema pornô, a cafetina que desfila nas lojas de madame, as ricas secas de São Paulo fugindo da crise hídrica. Neste baile de sopapos, a plateia assombrada se envergonha de aplaudir o leitor no chão.