Karina.Motta 09/11/2015
Simplesmente Mia Couto!
Um livro onde a capa denomina de ensaios, "E se Obama fosse africano?", trás vários diálogos, aberturas de eventos, participação em encontros e simpósios, onde Mia Couto participou com ricas histórias e considerações.
A explicação para a escolha dos textos fala sobre esperança, o que já deixa o leitor fascinado com a simplicidade e o arrebata para a leitura do livro:
"A esperança não morre por si mesma. A esperança é morta. Não é um assassinio espetacular, não sai nos jornais. É um processo lento e silencioso que faz esmorecer os corações, envelhecer os olhos dos meninos e nos ensina a perder crença no futuro".
Vou escrever sobre os textos favoritos do livro:
"A língua que não sabíamos que sabíamos" é o primeiro ensaio do livro e fala da importância da vivência e da diversidade dos saberes, colocando a oralidade como uma parte essencial da cultura, refletindo ainda sobre questões capitalistas. Seguem algumas falas simplesmente maravilhosas:
- Os sonhos falam em nós o que nenhuma palavra sabe dizer.
- Há onde a palavra tem que lutar para não ser silêncio.
- Ao lado de uma língua que nos faça ser humanidade, deve existir uma outra que nos eleve a condição de divindade.
"Os sete sapatos sujos" fala da importância de nos construir enquanto uma nação moderna, onde o passado não deve ser esquecido, mas utilizado como força motriz para uma nova realidade, mas para que isso aconteça é precisar tirar sete sapatos que nos impede de seguir em frente:
- As portas da modernidade precisamos nos descalçar:
1º Sapato: a ideia de que os culpados são sempre os outros e nós somos sempre vítimas.
2º Sapato: a ideia de que o sucesso não nasce do trabalho.
3º Sapato: o preconceito de quem critica é o inimigo.
4º Sapato: a ideia de que mudar as palavras muda a realidade.
5º Sapato: a vergonha de ser pobre e o culto das aparências.
6º Sapato: a passividade perante a injustiça.
7º Sapato: a ideia de que para sermos modernos temos que imitar os outros.
"E se Obama fosse africano?" fala da felicidade que os africanos sentiram com a eleição de Obama nos E.U.A, no entanto Mia traça todo um panorama político-social da África falando das dificuldades que Obama teria em disputar uma eleição em seu país, devido às ditaduras, guerras civis e a falta de democracia ainda existentes.
O livro em geral é de fácil leitura e a todo momento eu remetia as condições africanas ao povo brasileiro, nossa história se cruza e nossas mazelas são muito parecidas, Mia cita várias vezes autores brasileiros que ajudaram na construção da literatura africana de língua portuguesa como Jorge Amado e Guimarães Rosa, considero muito importante estarmos abertos para a leitura dos escritores africanos, pois eles falam muito sobre quem nós somos enquanto povo também.
Mais que recomendo!
site: https://gostardelerblog.wordpress.com/