Cíntia Mara 12/02/2010Confissões de uma irmã de Cinderelahttp://cintiamcr.blogspot.com/2010/02/confissoes-de-uma-irma-de-cinderela.html
Quando vi o tema de Fevereiro do Desafio Literário não tive muito que pensar antes de escolher o livro oficial. Ele já estava na minha lista há bastante tempo, mas sempre era preterido por outros aparentemente mais interessantes. Ao terminar o livro posso dizer com segurança que este ano está sendo, do ponto de vista literário, cheio de boas surpresas.
Ao ler a sinopse de “Confissões de uma irmã de Cinderela” eu imaginei que fosse uma comédia, uma chick-lit narrada por uma meia-irmã feia e desajeitada. Minha expectativa foi desfeita já no prólogo, quando a narradora – aparentemente uma das irmãs – solta uma informação que me assustou e me fez perceber que não estava diante de nenhuma chick-lit. É a primeira vez que um livro dá spoiler sobre seu final, foi o que pensei. Mas até nisso fui surpreendida e só nas últimas páginas notei.
Apesar do prólogo terminar com essa informação meio chocante, o início do livro é meio lento. Retrata a chegada de Margarethe com suas filhas, Ruth e Íris, à Holanda, depois da morte de seu marido na Inglaterra. As meninas, incrivelmente feias, são alvo do escárnio daqueles que cruzam seu caminho sem um pingo de piedade pela fome que elas passam. Conseguem abrigo na casa de um pintor – o Mestre – que logo é convidado a pintar a bela filha de Cornelius van den Meer, um comerciante cuja riqueza e prestígio resultam da herança recebida por sua mulher, Henrika. A partir daí, pode-se pensar que veremos mais ou menos a mesma história de tantas outras adaptações do famoso conto da Gata Borralheira, com a diferença de contar um pouco da história da madrasta má e suas filhas horrorosas antes de chegarem a essa posição.
Mas o livro vai muito mais fundo que isso, contando a história de Íris, a filha mais nova e mais esperta de Margarethe, que se torna amiga de Clara, a linda filha de Van den Meer. A feiúra e a coragem de Íris contrastam com a beleza e covardia de Clara a todo o momento. Enquanto isso, Ruth vive como mera espectadora de tudo, uma garota gorda, muda e idiota. Mas até ela surpreende.
Não é um livro "nota 10", ao qual eu recomende enfaticamente ou queira reler várias vezes. Mas foi uma leitura que me tocou. É um outro olhar sobre uma história que todos estão cansados de conhecer. Em nada me lembrou a fita laranja da "Cinderela" que eu tinha quando era criança, com vozes de ratinho cantando Cinderela, Cinderela... Noite e dia, Cinderela... Faz a sopa, lava louça, passa roupa, pobre moça!!! (Vídeo aqui). Também não se parece com nenhuma das outras versões a que assisti: Para sempre Cinderela, Cinderela às avessas, Deu a louca na Cinderela, etc. É uma história diferente, mais humana. Não é uma história bonita. Mas é uma história tocante.
Nota: 8