Os Problemas da Filosofia

Os Problemas da Filosofia Bertrand Russell




Resenhas - Os Problemas da Filosofia


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Lucio 27/02/2015

Russell reduz filosofia á filosofia da ciência... mas, com um pé atrás, é uma leitura que vale a pena.
O livro é e não é uma introdução temática à filosofia. É porque nos faz perceber que a filosofia se emerge das questões triviais e torna as certezas banais em questões elevadas e penosas. Em suma, apresenta o que é a filosofia, pelo menos na perspectiva de Russell - que veremos, está radicalmente comprometida.
Não é uma introdução temática à filosofia não porque seja uma introdução histórica - ele até vale-se de alguns clássicos para suas elaborações, a saber: Platão, Descartes, Berkely, Hume e Kant - mas, primeiro, pelo alto grau especulativo. Embora Russell escreva muito bem e tente dar algum ar de popularidade à filosofia, uma análise cuidadosa do livro demonstrará que há reflexões pesadas e que demandam algum preparo para serem captadas. Talvez isso fique omitido na primeira leitura do livro, por conta da retórica fluente de Russell, mas não passa de um equívoco.
Além disso, o livro não apresenta vários temas da filosofia. A bem da verdade, podemos dizer que o livro é uma apresentação pós-kantiana da filosofia, no sentido de começar toda a reflexão pela epistemologia e fazer de refém a própria metafísica.
Basicamente Russell segue o seguinte raciocínio. Primeiro, há dois tipo de coisas a serem conhecidas: coisas e verdade. Em segundo lugar, há dois modos de conhecê-las: diretamente e indiretamente (ou seja, por 'descrição', como o autor coloca). Ele elenca as coisas que conhecemos diretamente (particulares e universais), e as coisas que conhecemos por descrição (aqui, nos valemos tanto dos conhecimentos diretos de coisas quanto do conhecimento de verdades). Fala sobre o conhecimento direto de verdades (intuições) e do conhecimento derivado delas. Não deixa, com tudo isso, de admitir que há tendências, pressuposições para que atinjamos as coisas não conhecidas diretamente - e esse é um dos tendões de Aquiles de sua epistemologia, como, também, veremos a seguir.
Quanto à metafísica, considera-a inadequada. Não consegue ver nenhum sucesso nas empresas que visaram alcançar um conhecimento descritivo a priori sobre a realidade. Para ele, o que podemos fazer é apenas conjecturar, elaborar e verificar com a experiência se o mundo é como imaginamos.
É desse modo que Russell chega à conclusão de que é cabe à ciência nos dizer o que é e o que não é o mundo na medida em que constrói o conhecimento. E à filosofia cabe elaborar os fundamentos epistemológicos que justificam a empreita científica; e cabe organizar e sistematizar o conhecimento científico. Em suma, Russell parece restringir a filosofia à filosofia da ciência (tanto externa quanto interna). Ele ainda fala da filosofia especulativa, no último capítulo, que trabalha com questões insolúveis mas que não podemos tirar da pauta, a saber, questões sobre ética - incluindo metaética - e sentido da existência dos homens e do universo.
É estranho que Russell, embora demonstre-se ciente de alguns elementos filosóficos que fervilhavam em sua época, não admite alguns termos tais como 'cosmovisão' e 'pressuposições', embora em vários momentos pareça estar falando sobre. E é justamente aqui que começam as nossas críticas ao livro. Embora haja muito de valoroso nas reflexões, acreditamos que Russell falha em não dar o real papel das pressuposições na elaboração teorética. Ele admite, por exemplo, que na questão sobre a realidade do mundo externo temos que CRER. Mas então se esquece disso, bem como na questão da crença na uniformidade da natureza e coisas do tipo, e passa a elaborar como se apenas o conhecimento especulativo pudesse ser colocado sobre suspeita. Ele, simplesmente, não justifica seus pressupostos! Ele pede ao leitor que creia e tenta argumentar que parece-lhe mais sensato por parecer mais abrangente em relação à experiência. Temos que notar que isso não é outra coisa senão a análise fenomenológica por meio das cosmovisões, o que parece ser a forma de formulação teorética mais apropriada que existe. Russell, entretanto, parece um pouco alheio à essas questões.
Não poderíamos deixar de notar que ele falha em outros pontos, dentre os quais, um erro nevrálgico quando falava sobre a disputa entre os racionalistas e os empiristas. Ele se vale de alguns termos muito abertos para falar que a experiência não causa mas dá ocasião ao despertar do conhecimento a priori sem explicar como isso se dá. Ele não aceita que seja inato por dizer que um bebê não conhece nada daquilo. Aqui, claro, poderíamos evocar Wolterstorff ou Plantinga para duas hipóteses diferentes mas muito semelhantes. Basicamente, podemos considerar que os homens têm de forma latente aqueles conhecimentos e que as experiências não fazem outra coisa senão despertá-los. Basta percebermos um exemplo clássico que Platão elaborou em 'Parmênides' - e que parece não ter sido percebido por Aristóteles -, a saber, a forma como descobrimos a similaridade. Platão observa que no ato de perceber tal relação, o universal já deve estar ativo na mente, ou então não conheceríamos nada que fosse similar para, de exemplos múltiplos de similaridade (particulares), abstraíssemos os universais. Russell não percebe esse equívoco.
Há, por fim, uma questão muito delicada na epistemologia que tange à questão do conhecimento indutivo, base do conhecimento científico. Russell faz exatamente o que Vincent Cheung observa no seu livreto 'Questões Últimas', a saber, dizer que há um número suficiente de experiências para determinar uma probabilidade, quando não sabemos qual é o denominador (precisaríamos de onisciência para tal). Assim, na indução, é preciso e envolve, novamente, fé.
O livro é bom. Muitas das reivindicações agostinianas são admitas, certamente não de forma consciente, pelo autor. Os equívocos podem ser identificados. A tentativa de mapeamento epistemológico completo é muitíssimo interessante. Não fosse por pecar na questão da pouca ênfase às pressuposições, seria uma introdução completa.
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Giovanna1920 13/11/2023

Primeiro livro da minha faculdade
Foi passado para eu ler na matéria de introdução à filosofia, é legal. O texto trouxe perspectivas nas quais nunca tinha pensado antes. Mas não leria novamente.
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Mauricio.Alcides 24/01/2016

O filosofo mais acessível que já conheci
O que dizer sobre Bertrand Russell?
Bem, ele simplesmente foi o filosofo mais acessível que eu já conheci. Sua linha racional é bastante didáctica de modo que mesmo pessoas não entendidas dos assuntos filosóficos possam lhe compreender.

Essa obra não é diferente. Russell realiza uma critica a alguns modelos filosóficos e as linhas lógicas adotadas por seus idealizadores de modo sucinto mas pontual

Nota: 8.3

PS: Bertrand Russell foi laureado com um nobel de literatura em 1950.
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