Atenasis 13/04/2023
?O prazer está na invenção da própria alegria?
"Você tem um olhar de quem estaria disposta a cometer loucuras? Tem que ter."
Acho desagradável o fato de que sempre que leio algum livro de Martha Medeiros meus post-its acabam. Tenho muito o que falar desse livro, ou melhor, compilado de crônicas que muitas vezes quebraram minha cabeça. Para começar comprei esse livro num sebo por cinco reais. Primeiro, pois a capa me chamou atenção, não, não sou tarada, mas sim curiosa, já que um livro com a capa sendo uma mulher seminua com o título de "Doidas e Santas" é, no mínimo, intrigante. Acabei levando e esses dias me senti deveras culpada por comprar compulsivamente livros no sebo e não lê-los.
Quando abri este livro fiquei um pouco chateada ao perceber que eram crônicas e não uma história linear. Pensei que não seria capaz de terminá-lo. Mal eu sabia que acabaria por devorá-lo. Li em média 33 crônicas por dia (foram 3 dias), o que significa que talvez não tenha aproveitado direito, mas era impossível parar de ler. Embora eu me veja muito na escrita de Martha é frustrante saber que temos pensamentos políticos tão diferentes, isso me deixa com um pé atrás em elogiá-la.
Bom, pelo que entendi são crônicas que ela escrevia e postava no jornal todo final de semana, isso acabava formando certa linearidade. As melhores eram aquelas que contavam algo que aconteceram na vida da autora, talvez ela própria me criticasse por conta da busca incessante de fatos da vida alheia, mas não tive como me conter. Lembro especificamente daquela a qual ela conta que possuía um "crush" num garoto e ele acabou escrevendo uma carta de amor para ela, essa que nunca pensou que poderia ser realmente dele e, quando o bendito cujo perguntou sobre a carta a qual ela pensava incansavelmente, ela respondeu "que carta?".
Momentos cotidianos do qual nos arrependemos, mas nunca saberemos como teria sido se tivéssemos feito escolhas diferentes, tanto na crônica onde ela fala sobre a fórmula da felicidade. São tantas que passo meus dias escutando coisas e relacionando com uma das 100 crônicas que li.
Uma das coisas que mais gostei nesse livro é a hipocrisia e ironia da autora. Como assim? Você me pergunta. Eu digo simplesmente que todos no fundo somos hipócritas e assumir isso é só um exemplo de maturidade. Beleza, ela não assume com essas palavras, mas desenvolve um ponto de vista por duas páginas apenas para, nas últimas duas linhas refutar e dizer que não concorda com seu argumento. (Aconteceu na crônica sobre cabelos grisalhos e em algumas sobre a morte). Já a ironia se apresenta desde a capa do livro, pois como uma mulher seminua pode ser chamada de santa? Me peguei pensando várias vezes sobre o porquê da capa ser do jeito que é. No início não gostava, quando as pessoas perguntavam o que eu estava lendo, ficava com vergonha por acharem que se tratava de algo bom? "não apropriado". Entretanto, com o tempo passei a apreciar a quebra de expectativa ao as pessoas saberem do que realmente se tratava. Martha Medeiros embora critique muitas vezes a imagem da mulher sexualizada tem um na capa de seu livro, mas é engraçado pensar que é isso que faz com que as pessoas fiquem curiosas para lê-lo. É isso que incita a vontade de saber o porquê daquela capa para um livro de excertos jornalísticos. Genial.
Poderia passar muito mais tempo falando e comentando sobre todas as crônicas que marquei (quase todas), mas prefiro apenas recomendar e esperar que você leia e tire suas próprias conclusões sobre a visão de mundo e pensamentos, críticas, sobre a rotina em que vivemos.
5 de 5 favoritado. Não vejo a hora de relê-lo.
?O mundo já caiu, baby. Só nos resta dançar sobre os destroços.?