spoiler visualizardaparafuseta 20/03/2013
Uma dose de literatura e metafísica
[este texto pode conter SPOILERS sobre o conteúdo do livro - se isto for possível!]
Ensaio instigante sobre o conceito de ilusão, dividido em introdução e três capítulos:
A ilusão e o duplo: na introdução o autor já apresenta o conceito básico que percorrerá todo o livro: a ideia da percepção do iludido como que cindida em dois: o aspecto teórico ("aquilo que se vê") e o aspecto prático ("aquilo que se faz"). Desta maneira, o iludido percebe o real, mas prefere "outro lugar". "Esta é, na verdade, a estrutura fundamental da ilusão: uma arte de perceber com exatidão, mas de ignorar a consequência." (p.21)
A ilusão oracular: A partir de fábulas e histórias como Édipo Rei, o autor nos apresenta a estrutura oracular como uma possibilidade de entender a ilusão: O oráculo anuncia o real, enquanto o iludido busca fugir da sentença, e ao tentar desviar acaba por se deparar com a surpresa do próprio acontecimento previsto. "A coincidência do real com ele mesmo, que é, de um certo ponto de vista, a própria simplicidade, a versão mais límpida do real, aparece como o absurdo maior aos olhos do iludido, isto é, daquele que apostou, até o fim, na graça de um duplo" (p. 54)
A ilusão metafísica: (NA MINHA OPINIÃO O CAPÍTULO MAIS COMPLEXO, consequentemente mais difícil de explicar)
O autor apresenta a metafísica de Platão e Sócrates, para se debruçar na metafísica de Hegel. Sendo assim, Rosset aplica a estrutura oracular do capítulo anterior à compreensão de mundo proposta por Hegel: mundo invertido, que nada mais é que um duplo do único que seria justamente o próprio único. (p.70) Como na estrutura oracular que "anuncia" o único (destino real), se desdobra em "outro" pelo olhar do iludido (o duplo), e por fim acaba se realizando como o único que se anunciou (destino real).
A ilusão psicológica: No último capítulo o autor se apoia na literatura para discorrer sobre conceitos do eu e do outro, afirmando: "É certo que não se escapa ao destino que faz com que eu seja o eu, e que o único seja o único. De qualquer maneira, portanto, se será si próprio" (p. 94) Reconhece que ser único implica em ser insubstituível e irremediavelmente mortal.
O autor utiliza-se de vários exemplos da literatura para explanar suas ideias, que se repetem ao longo dos capítulos, apenas tomando novos pontos de vista, seja através de Édipo Rei, a metafísica e a psicologia. Esta solução torna a leitura muito agradável, independente de conhecer a referência do autor.
O texto não é simples, mas não é tão difícil como aparenta, desde que esteja atento desde o início. Anotar os conceitos compreendidos ajuda bastante, haja vista que a ideia principal não muda tanto, apenas ganha novos aspectos.