Francine 09/01/2014Um livro sobre guerreiros, honra e fé...Cerberus - Entre Cobras e Ursos foi um livro que tive o prazer de conhecer ao estabelecer parceria com seu autor, Leonardo Monte. Eu o li em 2013 e a cada página me vi completamente encantada pela maestria da narrativa dele!
O livro apresenta um contexto pós-apocalíptico, no qual o mundo sofreu danos severos provenientes de guerras e desequilíbrios ecológicos. Todo o cenário é incrivelmente caótico e Leonardo Monte não hesita em torná-lo ainda pior em nosso imaginário ao destacar todo o terror que os personagens sentem diante dos desafios que enfrentam.
Além da escassez severa de alimento e água, o planeta sofreu também um desequilíbrio espiritual que trouxe seres de outros planos para a nossa dimensão (denominados extraplanares). Em sua maioria, estes seres são demônios com diferentes graus de periculosidade. Alguns detêm poderes parapsíquicos, outros são fortes o suficiente para temê-los e todos, sem exceção, procuram manipular as emoções humanas. Só é manipulado aquele que não tem fé, mas como tê-la num mundo aparentemente abandonado por Deus?
É nesta realidade que conhecemos Renan, o personagem central da história. Ele é um adolescente de 11 anos, que estuda em uma das quatro grandes escolas formadoras de caçadores dos seres extraplanares: a Cerberus. Esta escola é localizada no Brasil, onde tive o prazer de identificar que alguns elementos da nossa cultura permaneceram, tais como nossas reações passionais e o intenso desejo de sobrevivência.
Considerando que a fé é a principal arma contra os seres extraplanares, capaz de exorcizá-los, os padres são tão importantes quanto os guerreiros que usam sua força e habilidade de luta. Esse é um dos elementos que mais gostei no livro! Os padres demonstram a necessidade de manter a fé neste universo caótico, o que me fez torcer para que os guerreiros nunca se permitissem desacreditar na possibilidade de melhora do mundo. Em contrapartida, Leonardo Monte não hesita em apresentar outra face da fé: em meio a tantas catástrofes, manter a fé é fruto de batalhas intensas contra a própria tendência de cair em desesperança e descrença. Assim, senti por diversas vezes que os padres eram também guerreiros por manter sua fé diante de tantas desgraças.
A princípio, questionei-me por que somente a religião católica foi a que prevaleceu no mundo depois das catástrofes, mas o autor responde a essa indagação no decorrer do livro (e de um jeito bastante crível). Outro elemento que, para mim, foi responsável por tornar a leitura deste livro bastante agradável é a qualidade dos seus personagens! Há muitos personagens realmente envolventes neste livro. Destaco o Verber, grande exemplo de liderança, e o João Pequeno, grande exemplo de equilíbrio entre força e empatia.
Gostei muito de reconhecer que, para lutar contra os seres extraplanares, o ideal é formar um time composto de: um corso, um armeiro, um padre, um cão de guerra e um artilheiro. Eu adorei tudo o que era relacionado aos cães de guerra! Não se tratam de animais, mas de guerreiros cuja força e ousadia são maiores que o normal:
"Cão de guerra é o coração do seu bando, é saber manter-se em pé quando todos já caíram e conseguir segurar porrada no lugar de seus companheiros não apenas para que possam completar a missão, mas porque eles não aguentariam. Só nós, os cães de guerra, aguentam! Podemos não ser gênios, e olha que já vi muitos cães que poderiam ensinar filosofia, mas precisamos ter inteligência e sensibilidade para medir situações e agir sob pressão. Ser cão de guerra é manter o grupo unido, porque ele é o elo forte. Entenda isso e verá um serviço sagrado." (Borges, p. 58-59)
Tem como não admirar os cães de guerra depois desta explicação? Sério, tudo o que eles fizeram foi incrível do início ao final do livro. Merecem mesmo ter seu próprio grito de guerra: Codadh! Outro elemento que achei interessante é que os personagens centrais não conheceram o mundo tal como era antes, de modo que nunca viram produtos industrializados ou luz elétrica.
Cerberus - Entre Cobras e Ursos foi, para mim, uma das melhores leituras de 2013! Sua narrativa é em terceira pessoa, mas a cada início de capítulo temos um ou mais parágrafos narrados pelo Renan. Gostei bastante dessa estrutura. Destaco que o Leonardo Monte tem um jeito de narrar bastante masculino (haha). Os termos de baixo calão renderam ótimos momentos de diversão e descontração em ocasiões muito tensas para os personagens. Um equilíbrio que considerei necessário para não tornar desgastante esta leitura.
A única característica negativa do livro (e não a atribuo ao autor) foi a má revisão realizada pela Novo Século. Muitos erros ortográficos e gramaticais podem ser flagrados e, embora não reduzam em nada a qualidade da história, poderiam ter sido evitados pela Editora. O projeto gráfico também deixou a desejar quando, em alguns momentos, não separou os parágrafos em primeira pessoa da narrativa em terceira pessoa, deixando-os misturados indiscriminadamente. A capa, no entanto, é maravilhosa!!!
Avalio positivamente a obra, que ingressou entre as minhas favoritas.
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