Renata CCS 28/10/2013Leveza na almaFalar de poesia requer um treino e uma capacidade que, com certeza, eu não tenho. Mas não poderia deixar passar em branco esta obra magnífica! Wislawa Szymborska é muito mais do que um nome exótico e quase impronunciável (pronuncia-se mais ou menos Vissuáva Chembórska) e para mim, o livro POEMAS foi uma das leituras mais deliciosas dos últimos tempos, dessas que nos fazem saborear cada palavra, cada página, e ao mesmo tempo sentir a urgência de não querer parar de ler. Mas não há como fazer uma resenha desses poemas e qualquer um se sente minúsculo diante esse propósito, a não ser que eu faça uma resenha sobre a enorme leveza na alma que suas palavras me proporcionaram. E não dá para escrever o quanto esse livro me fez bem, mas não poderia deixar de lado as emoções que esta leitura me trouxe. Precisava dividir com vocês!
Sob uma estrela pequenina
Me desculpe o acaso por chamá-lo necessidade.
Me desculpe a necessidade se ainda assim me engano.
Que a felicidade não se ofenda por tomá-la como minha.
Que os mortos me perdoem por luzirem fracamente na memória.
Me desculpe o tempo pelo tanto de mundo ignorado por segundo.
Me desculpe o amor antigo por sentir o novo como primeiro.
Me perdoem, guerras distantes, por trazer flores para casa.
Me perdoem, feridas abertas, por espetar o dedo.
Me desculpem os que clamam das profundezas pelo disco de minuetos.
Me desculpe a gente nas estações pelo sono das cinco da manhã.
Sinto muito, esperança açulada, se às vezes me rio.
Sinto muito, desertos, se não lhes levo uma colher de água.
E você, falcão, há anos o mesmo, na mesma gaiola,
fitando sem movimento sempre o mesmo ponto,
me absolva, mesmo se você for um pássaro empalhado.
Me desculpe a árvore cortada pelas quatro pernas da mesa.
Me desculpem as grandes perguntas pelas respostas pequenas.
Verdade, não me dê excessiva atenção.
Seriedade, me mostre magnanimidade.
Ature, segredo do ser, se eu puxo os fios das suas vestes.
Não me acuse, alma, por tê-la raramente.
Me desculpe tudo, por não poder estar em toda parte.
Me desculpem todos, por não saber ser cada um e cada uma.
Sei que, enquanto viver, nada me justifica
já que barro o caminho para mim mesma.
Não me julgue má, fala, por tomar emprestado palavras patéticas,
e depois me esforçar para fazê-las parecer leves.