Ana Mc Bairros 29/03/2017
Eu li - Eleonora
Assim como outras histórias de Poe, o narrador começa falando sobre sua experiência com o sobrenatural e a questão da loucura, de certa forma até exaltando-a:
"Descendo de uma estirpe que se distingue pelo vigor da imaginação e pelo ardor das paixões. Os homens chamaram-me louco; mas está ainda por estabelecer se a loucura é ou não a mais suprema inteligência, se muito do que é glorioso, se tudo o que é profundo não provém de uma enfermidade do pensamento - de modos de espírito exaltados em detrimento do intelecto geral. [...]"
Ele vai relatando em seguida o porquê de ser considerado louco, mostrando que por trás de uma história aparentemente comum e inocente, há uma consequência terrivelmente sombria e traumática.
Eleonora nada mais é do que a prima do narrador, e estes eram apaixonados desde a infância. Eles moravam juntos e viviam em um lugar magnífico para inspirar tal romance.
Porém, logo na juventude, Eleonora acaba morrendo, e pouco antes de morrer seu amado promete-lhe não amar outra mulher como havia amado-a.
Essa promessa acabou deixando ele atordoado, tanto que afirma não confiar em sua própria lucidez. Os anos passam para ele sofridamente, pois segundo sua opinião o lugar outrora era tão encantador, havia se transformado drasticamente.
"[...] As flores em forma de estrela murcharam nos troncos das árvores e não mais tornaram a aparecer. As tonalidades do tapete verdejante esmoreceram; e, em lugar delas, haviam brotado, às dezenas, violetas sombrias, quais olhos, que se retorciam penosamente e estavam continuamente carregadas de orvalho. [...]"
A essa transformação o narrador atribuía à morte de Eleonora, que, em seus delírios, vinha também visitar-lhe.
Apesar de tudo ele sentia vontade de amar novamente e acaba se casando com uma mulher chamada Ermengarda, mesmo temendo que uma maldição lhe caísse por "trair" Eleonora. Mas segundo ele, em uma noite veio a voz desta dizendo que ele estava absolvido da promessa que havia feito, e só quando ele = morresse iria saber.
Como já citei aqui várias vezes, sou fascinada pela escrita de Edgar Allan Poe. A descrição do ambiente e situações são feitas de formas tão bem detalhadas, que nos aproximam da história de forma marcante, daquele jeito que você sente o momento narrado como sendo vivido "aqui e agora".
Outro ponto favorável é o de ser uma leitura rápida, simples e bem fluída. Só não recomendo muito para quem espera algo além do romance e a promessa feita pelo narrador à sua amada. As partes sombrias ficam pela narrativa de Poe sobre o contato do narrador com uma pessoa do "além".
Especula-se que o conto foi uma espécie de autobiografia do autor, que o criou a fim de aliviar a perda da sua esposa, que também era sua prima e adoeceu.
O conto foi disponibilizado pelo desafio literário #12mesesdepoe (criado pelo blog Anna Costa) para o mês de março. A experiência com o desafio está sendo muito gratificante para mim, pois estou conhecendo várias faces de Poe, tanto através da prosa quanto do verso.
Enfim, recomendo com certeza!
site: http://vicioseliteratura.blogspot.com.br/2017/03/eu-li-eleonora.html