O corpo na História

O corpo na História José Carlos Rodrigues




Resenhas - O corpo na História


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Tainara 05/01/2014

A sensibilidade e os significados do corpo

“o corpo na história” é um livro que trás uma realidade que por vezes deixamos passar por descaso. É onde se podem observar as nossas sensibilidades, de o porquê de termos tais desprezos por algumas situações, de como noções hoje cotidianas passaram por um grande processo de construção. O José Carlos Rodrigues conseguiu expor uma Idade Média viva, não digo de forma imparcial, mas ao menos sem tantos conceitos já instaurados. Abriu espaço para que as noções de corpo fossem refletidas, contrastadas com as noções do outro, “isto é o que não queremos ser, isto é o que renegamos da maneira mais convicta e radical” (Rodrigues, José Carlos, 1999). Uma viagem muito rica de informações... Como o homem encarava o mundo. Um mundo que não estava posto a ele, mas que era inerente a ele, que existia uma fusão com o cosmos, de quão cônscios ao mundo eram os medievos. Hoje, no contemporâneo ainda existem vestígios dessa relação de amálgama de homem e cosmos. Exemplo disso são os adeptos da astrologia, que assim como os medievos dão importância as fases da lua, posições dos astros, os eclipses. Outro aspecto que também se assemelha a conexão daquele homem/natureza são os ambientalistas, pessoas que se preocupam e se responsabilizam por algo exposto ao outro. Essa mentalidade amálgama tanto do homem com o mundo externo, quanto do homem com seu espírito. A idéia de corpo e alma era vivida, o corpo continha alma e alma continha corpo. O corpo medieval ainda não tinha o mesmo sentido do corpo hodierno, esse ainda não tinha a noção de “instrumento”, era parte da natureza, vivo. Tal era a ligação do homem e a natureza, do corpo e alma, do espírito e da matéria que se vivia no espaço em que o corpo era mais do que um revelador da alma, que não se descartava o corpo com sua morte, eles viviam aquele corpo/alma, aquele homem/natureza... Hoje não se tem tanta valorização do corpo, há uma exposição corporal, uma propaganda acentuada e um esquecimento do corpo em sua essência, o corpo só é “parte do mundo” enquanto ele é útil. O homem só faz parte da natureza enquanto está atuando sobre ela. O espírito só tem importância enquanto está na matéria, depois da separação (morte) nem matéria, nem espírito tem valor para o cosmos. As sensibilidades passaram por processo de transformação, a significação foi tomando outros significados. Estamos tão acostumados com a “lei da felicidade” que sofrer não faz mais sentido, que para se estar vivo é preciso estar feliz. Quando isso há uns poucos séculos atrás era encarado, assim como a dor, como algo próprio do vivo. A camuflagem dos sentimentos não se fazia necessária, sofrer também fazia parte do vivo, por algumas situações chegavam a ter o sentido da purificação da alma. Na idade média era tal o sistema de significação e sensibilidade que não se tinha a idéia de lixo e aí mais uma vez é que noto a beleza desse período, em que a integração, o estar contido era levado no sentido literal. Não se descartava as coisas, pois estas faziam parte de todas as outras, seja um corpo em putrefação, um recipiente usado, os animais no meio dos homens, a inteiração era o nítido. Não se descartava nada, até porque a idéia de descarte foi posterior, a idéia da separação dos espaços de transito humano e do animal foi posterior, essa nossa idéia da repressão dos odores e de exclusão do corpo se decompondo foi só depois construída, mas antes se convivia com tudo isso e em equilíbrio. Esses processos de transformações, separação e novos sentidos para as coisas fazem com que a entendamos que todo comportamento é formado, que a repressão faz parte da sociedade hodierna e que esta repressão está nas formas mais sutis, exemplo disso a higiene, quer forma mais repressiva que está? Nossa higiene pessoal é nada mais que uma construção coletiva, de repressão de odores, de instauração dos perfumes como parte do corpo. Esse movimento de fluxo de mentalidade e sensibilidade nos remete uma pequena pausa antes de construir uma análise, seja ela individual ou coletiva. Faz com que se tenha um momento mais cauteloso antes de estabelecer um “rótulo”, pois temos a concepção dessa construção de mundo das “luzes”.


Que viagem!
Entrar( ou voltar, sei lá) em um mundo que já foi, mas que ainda deixou muitos vestígios de sua essência. Desde a noção de corpo, da matéria que não separa do espírito .
“O amaldiçoamento do espírito pelos destinos da matéria.” O corpo era onde se estava exposto a condição humana. A alma e o corpo jamais- mesmo depois da morte - se separam. Como não havia separação da alma e do corpo, os mortos não eram simplesmente cadáveres, não se desintegrava ou descartava da sociedade os corpos, pois como ditos eram mais que corpos, era a alma e o corpo.
...
Não existia a ideia de lixo, nada era descartado, tudo se integrava. Não se tinha separação das coisas do mundo a convivência desde cadáveres até frutas em um mesmo espaço. E isso era muito comum, pois os medievais estavam em uma conexão bem firme com o cosmo. “O cosmos como grande homem; o homem como pequeno cosmos.”

Chega fico longe...
#idademédialinda


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Ana Luiza Silva 05/07/2021

Finalmente terminei de ler esse livro esse ano, e é uma leitura que eu não posso recomendar o suficiente! O corpo na história é um livro que pode ser lido por todo mundo - desde o estudante do ensino médio até o doutorando, tem uma linguagem acessível e nos educa em temas que muitas vezes consideramos como já "dados". Já estou atrás de outros livros do José Carlos Rodrigues.
emanuelly 08/11/2021minha estante
Concordo demaaaaais! Quando li tive igual impressão. Definitivamente relerei sempre, e vou caçar mais obras do José.




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